Em um ano, 2,3 mil pessoas morrem à espera de um transplante no país
Dado, da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, se refere a 2015.
Há hoje 31.881 pacientes na lista de espera em todo o Brasil.
Dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) mostram que 2.333 pessoas morreram à espera de um transplante de órgãos no Brasil em 2015 – entre elas, 64 crianças. É a primeira vez que a associação divulga o número em seu relatório anual.
Para o nefrologista Roberto Manfro, presidente da ABTO, trata-se de uma informação importante, que dá maior transparência para o processo. “Divulgando esse número a associação alerta as autoridades e as pessoas em geral para o fato de que, se não há doador, a pessoa vai mesmo morrer na lista de espera.”
Os dados são coletados com todas as centrais estaduais de transplantes. São Paulo responde por mais da metade das mortes (1.237).
Segundo Manfro, os números reforçam que, para alguns pacientes, a espera é fatal. “No caso do rim, se não tem doador, a pessoa ainda vive em hemodiálise. Não é o mesmo que se conseguir o transplante, mas vive um tempo. Para outros órgãos, não existe um tratamento de substituição da função, como um coração terminal, por exemplo.”
Foram realizados no ano passado 7.899 transplantes de rim, fígado, pâncreas, coração e pulmão – uma queda em números absolutos em relação a 2014, quando foram feitos 7.913 procedimentos. Houve um decréscimo, especialmente, de transplantes renais e pancreáticos.
Já em relação aos transplantes de córnea e medula óssea, foi registrado um pequeno aumento. Foram 13.861 transplantes de córnea e 2.133 de medula óssea – ante 13.036 e 2.106 do ano anterior, respectivamente.
São Paulo é o estado com o maior número absoluto de transplantes de órgãos e tecidos. Por outro lado, três estados (Amapá, Roraima e Tocantins) não realizaram nenhum tipo de procedimento no ano.
A discrepância regional ainda é um tema recorrente nas discussões do setor. “A região Norte, por exemplo, tem uma densidade populacional menor, mas, ainda assim, tem 17 milhões de habitantes. Ou seja, há, com certeza, muitas pessoas precisando de um transplante. O trabalho do governo e da sociedade civil é fazer com que aumente o número de doações e que a partir delas existam programas de transplante mais eficientes nesses estados”, diz Manfro.
Santa Catarina é o estado com o maior número de doadores efetivos: 30,2 por milhão de habitantes.
Longe da meta
A taxa nacional de doadores efetivos, entretanto, está abaixo da meta da ABTO. Em 2015, ela foi de 14,1 por milhão de habitantes – com uma queda em relação a 2014. A intenção era que ela chegasse a 17.
Como base de comparação, a Espanha, referência mundial, tem uma taxa de 35,9. Nos EUA, o número de doadores efetivos por milhão chega a 27 e no vizinho Uruguai, 20,7.
Um dos fatores que ainda inviabilizam um crescimento de doações é a recusa familiar. Em 2015, ela foi responsável por 44% dos casos de não concretização (bem à frente de contraindicação médica, com 15%, por exemplo).
O presidente da ABTO afirma que o caminho ainda é educar os profissionais, para que abordem adequadamente as famílias, e reforçar para a sociedade a necessidade do transplante. “É preciso melhorar o nível de esclarecimento da população, e antes que algo aconteça. Se a pessoa diz para a família que é doadora de órgãos, porque confia que é uma atividade desempenhada com seriedade e que o diagnóstico da morte encefálica da maneira como é feito no Brasil é 100% seguro, essa realidade pode mudar”, diz Manfro.
De acordo os dados da ABTO, ingressaram na lista de espera por um transplante 28.941 pessoas apenas em 2015 – entre elas, 1.652 crianças. Há atualmente 31.881 pacientes no aguardo – a grande maioria (19.440) à espera de um rim.
Segundo o Ministério da Saúde, que coordena o Sistema Nacional de Transplantes, há mais de mil equipes preparadas para realizar cirurgias distribuídas pelo Brasil e cerca de 400 unidades prontas para atuar nessa área.
(Fonte:G1)
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