A pandemia de coronavírus acelerou a digitalização do setor bancário. Hoje, esse segmento da economia, extremamente concentrado no passado, vê o fortalecimento de novas empresas digitais e o acirramento na disputa de novos clientes.
Os bancos digitais surgiram com duas propostas básicas: não ter agências físicas e oferecer isenção de tarifas. Com sucessivos aportes de investidores ao longo dos últimos anos, passaram a valer bilhões de reais e angariaram milhões de clientes.
Nas últimas semanas, a disputa por esse mercado digital ficou mais evidente, com o movimento das principais companhias do setor. Elas receberam novos aportes, venderam fatias relevantes para bancos internacionais e captaram recursos no mercado financeiro com o objetivo de fortalecer seu caixa e ampliar a gama de serviços em busca de mais clientes.
“A gente já vinha numa tendência de digitalização, mas ela foi muito acelerada nesse período de pandemia”, afirma Maxnaun Gutierrez, head de pessoa física e produtos do C6 Bank. Criado em 2019, o banco já tem 7 milhões de clientes e está presente em todos os municípios do país.
Um levantamento realizado pelo banco em parceria com o Ipec (instituto criado por ex-executivos do Ibope Inteligência) mostrou que, de fato, durante a pandemia houve uma aceleração nesse movimento de digitalização: 36% dos brasileiros disseram ter aberto algum tipo de conta em banco digital.
A pesquisa também revelou que 57% dos brasileiros com internet já têm conta digital.
“O digital deixou de ser uma necessidade e passou a ser vital nesse momento de pandemia”, afirma Gutierrez. “E há um outro elemento que fez essa aceleração da digitalização: o Auxílio Emergencial foi pago por meio de uma conta digital da Caixa. E, ao abrir essa conta, o cliente se abriu para o novo mundo.”
O levantamento do Ipec mostra, por exemplo, que, entre os jovens, as novas empresas do setor bancários já têm uma vantagem. Na população de 16 a 24 anos, 51% dizem utilizar o banco digital como o principal meio para transações e depósitos.
Mas, conforme a idade da população avança, menor é a entrada dos bancos digitais. Entre a população com 55 anos ou mais, a participação dos bancos digitais cai para 10%.
Os investidores também esperam pelos resultados positivos. Parte dos novos bancos digitais já gera caixa, mas ainda não lucra.
“Essas empresas têm um custo de aquisição de clientes muito alto. Elas precisam que os investidores acreditem no modelo de negócio porque, durante um tempo, não serão lucrativas. Seus recursos estão sendo canalizados para aumentar a base de clientes”, afirma Ricardo Rocha, professor do Insper.
“A partir do momento que essa base de clientes cresce, aí, sim, os bancos vão fazer todos os esforços para rentabilizar”, diz.
No Brasil, por exemplo, o Nubank gera caixa desde 2017, já tem uma base de 40 milhões de clientes, mas ainda não apresentou lucro. Mesmo assim, o banco segue com seu plano de expansão para México e Colômbia.
“Em nossas conversas (com os investidores), há um compartilhamento mútuo e alinhamento de que o projeto do Nubank é de longo prazo, com enormes oportunidades e espaços para ocuparmos no mercado latino-americano”, afirma Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank.
Em 2020, o C6 Bank registrou um prejuízo de R$ 606,9 milhões. Já o Inter reportou ganhos de R$ 20,8 milhões no primeiro trimestre e conseguiu reverter o prejuízo apurado no mesmo período de 2020.
Ampliação de serviços
Na tentativa de aumentar a base de clientes e, consequentemente, chegar num público mais velho, com mais recursos financeiros, as empresas digitais têm buscado ampliar a gama de serviços oferecidos para fazer frente aos bancos tradicionais.
O Nubank, por exemplo, comprou a Easynvest e reforçou a sua atuação no setor de investimentos – antes, o banco já havia feito o lançamento de três fundos multimercados.
“Especificamente em investimentos, conseguimos incrementar nossa prateleira e acelerar nossa entrada nesse mercado”, afirma Cristina. “Na Easynvest by Nubank, o investidor mais experiente já tem acesso a uma plataforma robusta de investimentos, com mais de 400 produtos.”
Com a venda de 40%, o C6 deve reforçar a sua estratégia de varejo. Nos Estados Unidos, o JP Morgan, com a marca Chase, oferece produtos bancários e tem mais de 55 milhões de clientes ativos.
O Inter já vê um aumento na venda de produtos de crédito, como consignado e imobiliário. O banco tem 12 milhões de clientes e 60% do crédito já é feito com correntistas dessa base.
“Na venda de diferentes produtos, a gente observava um crescimento muito forte nos serviços dentro da nossa base de clientes, mas menos em produtos de crédito imobiliário e consignado, por exemplo”, afirma Helena Lopes Caldeira, CFO do banco Inter. “E isso se dava em função dessa base mais jovem”.
Embora os bancos digitais tenham colhido crescimento nos últimos anos, eles ainda estão distantes dos bancos tradicionais. Segundo dados do Banco Central, no primeiro trimestre, a base de clientes da Caixa era de 145,3 milhões, seguido por Bradesco (98,6 milhões), Itaú (82,9 milhões), Banco do Brasil (68,8 milhões) e Santander (51,3 milhões).
Fonte: G1
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