Segundo o presidente do Sindicato dos Urbanitários, a Cosanpa está sucateada e sem perspectivas de recuperação porque o governo não tem interesse em investir nessa melhora.
Na campanha para o governo do estado, em 2010, Simão deixou claro que sua vitória ensejaria a transferência do controle acionário da Cosanpa pra Sabesp. E só não cumpriu a promessa porque aquela companhia paulista foi submetida a semelhante processo de sucateamento, retirando dinheiro dos investimentos necessários e transferindo-o para os acionistas da Bolsa de Nova Iorque, resultando na crise braba que vive o abastecimento de água para grande parte da região metropolitana paulistana.
Diante desse quadro econômico/administrativo, é pouco provável que o acionista majoritário da companhia paraense ainda conte com a possibilidade de transferir a responsabilidade do comando à companhia de São Paulo. Da mesma forma, não há nada em PPA, LDO ou nas diversas leis
orçamentárias até aqui votadas qualquer indicativo do estabelecimento de uma política de investimento no abastecimento de água. A obsessão pelo estilo virtual de gestão é tão acentuada que uma obra milionária de embelezamento do Parque do Utinga encontra-se em andamento, lentamente, é verdade, porém melhor do que a ausência de qualquer gasto no melhoramento da captação, tratamento e abastecimento do dito “precioso líquido”.
Nesse ritmo, então, é legítimo compartilhar o temor manifestado pelos urbanitários em relação ao futuro da Cosanpa. Semelhante ao dado pela privataria tucana à Celpa, com consequências catastróficas sentidas até hoje. Lamentável!
E o Governo insiste em dizer que a água voltou
Cosanpa garante que o serviço está normalizado. Mas a população segue reclamando das torneiras vazias (Foto: Bruno Carachesti/Diário do Pará)
Tudo começou há mais de uma semana. Na sexta-feira (3), o Governo do Estado anunciou que faria, no domingo (5), serviços de manutenção elétrica na rede do complexo Bolonha.
Com isso, vinte e quatro bairros da Região Metropolitana de Belém (RMB) ficariam sem água. Mas, segundo o próprio Governo, a interrupção no abastecimento duraria apenas algumas horas.
Às 16h do próprio domingo, tudo estaria normalizado. O povo acreditou. Chegou a noite do domingo, e nada. A segunda-feira (6) amanheceu com as casas de 500 mil moradores da RMB ainda sem água. A população começou a demonstrar irritação.
Entrou em cena a Cosanpa, órgão do Governo responsável pelo abastecimento de água no Estado. Sob ordens do governador Simão Jatene, a companhia informou que a água voltaria às torneiras “nas próximas horas”. Ressabiado, o povo ficou com um pé atrás.
Não deu outra. Chegou a terça (7), e a seca em Belém continuava. Os belenenses perderam a paciência. Já eram dois dias sem água. Dois dias sem poder tomar banho direito.
Sem condições de lavar roupas, pratos e até de cozinhar normalmente. E haja dinheiro para comprar garrafões de água mineral.
Desesperados, moradores quebraram tubulações de duas adutoras da Cosanpa: no Utinga e na Cremação. Enquanto isso, o governador fazia o que sabe fazer de melhor em momentos de crise: nada. Jatene sumiu. Até porque, a falta d’água é um problema que nunca o atingiu. No condomínio de luxo em que o governador mora, no bairro do Curió, o líquido está sempre presente.
Na quarta e na quinta, a mesma ladainha. A Cosanpa insistia em dizer que a situação estava normalizada. Pela cidade, porém, o que se via eram cenas de pessoas carregando baldes na cabeça, empurrando carros-de-mão com botijões, donas-de-casa com o tanque lotado de roupas sujas. Na noite da quinta-feira, outro comunicado da equipe de Jatene. “Amanhã, tudo estará normalizado”, garantiu a Cosanpa. Até a noite de ontem, a água não tinha voltado em vários bairros da cidade.
Uma das 500 mil vítimas de Jatene é a aposentada Isabel Araújo, moradora do bairro da Cidade Velha. Na tarde de ontem, sua casa continuava tomada por baldes.
“Isso é uma vergonha!”, disse, indignada. Aos 85 anos, dona Isabel não tem mais idade para esse tipo de contrariedade. “Até passei mal. É triste querer fazer as coisas de casa e não poder. Fiquei nervosa, tentando conseguir água. Foi me dando uns calafrios”.
CLASSE A
A falta d’água também afeta as classes mais abastadas. Até a tarde de ontem, proprietários de estabelecimentos comerciais dos bairros de São Brás e de Fátima ainda estavam penando para conseguir água.
Dono de um restaurante, André Fernandes, 44, disse já ter tido prejuízo de 5 mil reais desde o início da semana. “Sem água, tudo fica complicado. Houve dias em que tive de fechar o restaurante”, declarou.
Já Dulce Costa, 33, é dona de um salão de beleza, e até se preparou para emergências. Há 1 ano, comprou uma caixa d’água para o estabelecimento. Nunca imaginou que ficaria uma semana inteira sem água. “Assim, nem a caixa resolve”, disse.
“Estou no prejuízo”. Mas o Governo afirma que está tudo bem. Ontem à tarde, a Cosanpa informou que a situação estaria normalizada “em até cinco horas”. A cidade espera que, dessa vez, seja verdade.
DIAS DE TRANSTORNOS
Dia 3 (sexta-feira) – A Cosanpa anunciou que, no domingo (5), faria manutenção na parte elétrica da rede do complexo Bolonha. Com isso, 24 bairros da RMB ficariam sem água. O Governo disse que o serviço seria regularizado até as 16h do próprio domingo.
Dia 5 (domingo)
Diferentemente do que foi anunciado, o atendimento não foi normalizado. Consumidores começaram a protestar nas redes sociais. A Cosanpa informou que o atraso se deu por causa da explosão de um dos disjuntores da estação Bolonha e que o serviço seria normalizado “nas próximas horas”.
Dia 6 (segunda)
A Cosanpa estima que 500 mil pessoas haviam sido atingidas pela falta de água e promete, mais uma vez, restabelecer o serviço até as primeiras horas da manhã de terça-feira.
Dia 7 (terça)
A população continua sem água. O Governo admite que o problema é grave, providencia a distribuição de água por meio de carros-pipas. A população enfrenta filas nos depósitos de água mineral, onde o estoque desparece rapidamente. À noite, o serviço começa a ser normalizado. Mas logo a água volta a faltar.
Dia 8 (quarta)
O serviço ainda não foi completamente normalizado. Usuários reclamam que os cortes no abastecimento continuam.
Dia 9 (quinta)
Consumidores de vários bairros ainda reclamam da falta de água. A Cosanpa garante que o serviço está sendo normalizado.
Dia 10 (sexta)
Apesar de a Cosanpa ter anunciado retorno do abastecimento, muitos consumidores ainda reclamavam da falta d’água.
(Diário do Pará)
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