Banco vai sair de Eldorado e comerciantes se revoltam
Perda de agência bancária leva populares a bloqueio da BR-155, no sul do Pará
Parcela da população e da sociedade civil organizada, com liderança de membros da Associação Comercial bloqueou nesta segunda-feira (9) o tráfego na BR-155, em Eldorado do Carajás. Os manifestantes exigem que o Banco da Amazônia, instituição financeira que pertence à União, reveja a decisão de encerrar o funcionamento de sua agência naquela cidade. O banco, por seu turno, confirmou ontem ao CORREIO, que vai mesmo fechar as portas em 30 de novembro.
O bloqueio foi iniciado às 6 horas, com o uso de pneus em chamas, madeira e outros para impedir a passagem dos veículos. Como a rodovia é a principal ligação de todo o sul do Pará, com o restante do Estado, não demorou a criar no local um engarrafamento quilométrico de ambos os lados. Carros, carretas, ônibus ficaram barrados. Também não demorou o bate-boca entre motoristas e manifestantes.
A rodovia foi liberada às 18 horas, e a manifestação ficou de ser retomada nesta terça-feira, com novo bloqueio a partir das 6 horas. E assim deve ser a rotina até que o banco volte atrás, prometem as lideranças.
BANCO
O imbróglio teve início em março deste ano, período em que o CORREIO inclusive publicou reportagem sobre a situação do banco. Ocorre que a instituição foi para a cidade em 2008, com incentivo da Prefeitura, que ofereceu bancar o aluguel do imóvel para a agência. E assim foi por muitos anos. Desde 2014 a conversa mudou e o Município se retirou da parceria, fazendo com que o dono do imóvel, sem receber, pedisse o prédio de volta.
A reação do banco foi de ameaçar se retirar da cidade, mas a Associação Comercial de Eldorado, preocupada com os prejuízos que poderiam advir, se comprometeu em assumir oito meses de aluguel, pagando atrasados e mantendo o prédio mais alguns meses, ganhando tempo com o banco.
Mas agora a instituição diz que vai mesmo se retirar em definitivo. Em nota enviada ao CORREIO ontem, depois de contato da reportagem, a assessoria confirma que o banco vai embora de Eldorado. “Tal medida se fez necessária tendo em vista estratégia de reposicionamento interno e redimensionamento da rede de atendimento do banco, que prosseguirá atendendo a clientela local junto à Agência Carajás, situada na rua E, nº 417, bairro Cidade Nova, no município de Parauapebas, localizado a 61,25 km de Eldorado dos Carajás”, diz o texto.
Explica, ainda, que os clientes e demais interessados devem comparecer à agência de Eldorado dos Carajás para os procedimentos de praxe de encerramento ou transferência de suas contas correntes e demais operações, sendo que as pendências remanescentes após a data mencionada deverão ser solucionadas junto à agência Carajás.
Manifestantes
Presidente da Associação Comercial, Fernando Rodrigues Soares era um dos coordenadores do movimento ontem e se mostrou bastante contrariado com a postura do banco, a qual atingirá a economia da cidade de forma devastadora, segundo ele.
“Nós vínhamos pagando o aluguel do prédio da agência em R$ 6 mil por mês, e já estamos com 10 parcelas pagas. Era o nosso compromisso com eles de manter assim por doze meses e aí o banco passaria a se responsabilizar. Eles estão abertos hoje, mas já reduziram os serviços. Não entregam mais folhas de cheque e nem aceitam depósitos acima de R$ 5 mil”, destaca o presidente, lamentando que o banco esteja descumprindo a sua parte.
Fernando destaca, ainda que a agência de Eldorado recebeu premiação recente entre as 20 melhores unidades do Banco da Amazônia, num universo de 137 agências da instituição no Brasil. “Então não tem justificativa uma coisa dessas”.
CAMINHONEIROS
Motoristas ouvidos pelo CORREIO ontem, bloqueados na pesta da BR-155, mostraram compreender a motivação do protesto, mas questionavam a intervenção na estrada. Muitos estavam visivelmente irritados.
“Gente, tudo bem cobrar uma coisa que é justa, mas nós somos trabalhadores e temos uma responsabilidade para cumprir com essa carga que carregamos. Não podem fechar estrada por qualquer coisa”, reclamou o caminhoneiro Alécio Mendes, transportando produtos de supermercado para Marabá.
Já o senhor João Obédio Almeida, morador de Eldorado, não estava entre os manifestantes, mas, assistindo ao movimento, deu total apoio. “Está certo mesmo. Não podemos ficar calados, pois esse problema vai deixar a cidade mais pobre, precisamos desse banco aqui”.
Ontem no final da tarde o Jornal recebeu a informação dos líderes do movimento de que o Banco da Amazônia aceitou conversar com os manifestantes nesta terça-feira (10), às 10 horas, no prédio que abriga a diretoria executiva, em Belém.
(Da Redação)
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