A imagem do município de Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, ficou fortemente associada à urbanização descontrolada que se seguiu à construção, em meados da década de 1980, do Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos Governador André Franco Montoro. No entanto, a cidade, que é a segunda mais populosa e tem o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) no Estado de São Paulo, possui um patrimônio arqueológico-histórico que remonta ao primeiro século da colonização portuguesa.
Antes que se iniciasse o Ciclo do Ouro em Minas Gerais, o território atualmente ocupado por Guarulhos foi o principal polo de produção aurífera do país.
O levantamento desse patrimônio – que inclui longos túneis escavados na rocha para o fornecimento de água destinada à lavagem do cascalho na lavra do ouro – foi realizado pelo “Projeto de Inventário e Pesquisa Arqueológica de Guarulhos” (Pipag), coordenado pela arqueóloga Cláudia Regina Plens, e apoiado pela FAPESP por meio de um acordo de cooperação com o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat).
Plens é professora colaboradora do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP) e professora adjunta da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), campus de Guarulhos.
“Quando iniciamos nosso estudo, em 2012, algumas ruínas da época da mineração, nos séculos XVI e XVII, já eram conhecidas, mas ainda não haviam sido mapeadas. Com informações prestadas por antigos moradores, fizemos um levantamento exaustivo. Há construções belíssimas escondidas no meio da mata”, disse a pesquisadora à Agência FAPESP.
Segundo Plens, diferentemente da opinião generalizada de que toda a população indígena do território paulista pertencia ao tronco Tupi, a pesquisadora estima que os habitantes originais da área faziam parte do tronco Jê.
O que se sabe é que o atual bairro de São Miguel Paulista, localizado na zona Leste do município de São Paulo e próximo a Guarulhos, nasceu de um povoamento indígena, cujo território foi reconhecido pelo poder colonial mediante outorga de Carta de Sesmaria, no final do século XVI.
“Esse território indígena, conhecido como Sesmaria de Ururaí, sempre foi considerado como parte apenas do município de São Paulo. Mas, à medida que começamos a mexer com a documentação, descobrimos, pela toponímia e pela geografia descrita, que a Sesmaria de Ururaí incluía também a parte setentrional de Guarulhos, onde se localizava a área de mineração”, disse Plens.
Um importante patrimônio remanescente dessa época é o Tanque Grande, um complexo de estruturas voltadas para a mineração, construído por mão de obra indígena por volta de 1600.
Situado no ponto de confluência de dois rios do Sistema Cantareira, o Tanque Grande represava grande volume de água, que era conduzida por gravidade ao local da lavra através de canais a céu aberto e túneis escavados na rocha que somavam cerca de nove quilômetros de extensão.
Agência FAPESP
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