A Justiça afastou meio mundo de pessoas de suas funções – prefeito, secretários, vereadores – e, quando necessitava de um de seus membros para dar rumo à vida administrativa da comunidade, ninguém do Judiciário aceitou ocupar interinamente a cadeira principal da prefeitura.
E mandaram o “pepino” pra alçada do Tribunal de Justiça do Estado.
O mesmo TJ que há mais de dois meses procrastina uma simples decisão de conceder ou não liminar ao prefeito titular, João Salame, afastado do cargo por 180 dias, sem ter sido ao menos ouvido pelo juiz que lavrou a sentença de afastamento – acusando o gestor de apropriação indébita de recursos do instituto previdenciário do município.
Isso mesmo.
Porque vários recursos contra a decisão de afastamento de João Salame foram apresentados ao Tribunal de Justiça do Estado e o que se vê são desembargadores pedindo licenças ou se esquivando de darem uma decisão judicial.
Não há a menor dúvida de que a procrastinação tem vergonhoso viés político por conta do entrevero entre o prefeito afastado e membros do TJ, acusados pelo ex-prefeito de Marituba, Antonio Armando, de receberem propina para a venda de sentenças.
Á época, um áudio de uma conversa entre Salame e Armando contendo denúncias contra magistrados foi divulgado amplamente pela imprensa e blogosfera do Pará, com repercussão nacional.
A partir daí, os fatos subsequentes evidenciam a judicialização imposta a tudo que envolve a prefeitura de Marabá.
Enquanto isso, entre o rochedo e o mar, lambari segue pegando lambada.
Nada se resolve na prefeitura.
Tudo parado.
O município foi transformado em flagelo, diante da desestabilização administrativa imposta pela Justiça.
Só para lembrar: pela Constituição Federal, “em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federa”.
Essa mesma linha é seguida por estados e municípios, quando há vacância de cargo.
Lamentando profundamente vivermos momentos sombrios em nosso município, o blogueiro se apega aos versos do incomparável Patativa do Assaré, chorando os dias pelos quais sua pequena cidade de Assaré, localizada na Chapada do Araripe cearense, passou, sem prefeito.
Nessa vida atroz e dura
Tudo pode acontecer
Muito breve há de se ver
Prefeito sem prefeitura;
Vejo que alguém me censura
E não fica satisfeito
Porém, eu ando sem jeito,
Sem esperança e sem fé,
Por ver no meu Assaré
Prefeitura sem prefeito.
Por não ter literatura,
Nunca pude discernir
Se poderá existir
Prefeito sem prefeitura.
Porém, mesmo sem leitura,
Sem nenhum curso ter feito,
Eu conheço do direito
E sem lição de ninguém
Descobri onde é que tem
Prefeitura sem prefeito.
Ainda que alguém me diga
Que viu um mudo falando
Um elefante dançando
No lombo de uma formiga,
Não me causará intriga,
Escutarei com respeito,
Não mentiu este sujeito.
Muito mais barbaridade
É haver numa cidade
Prefeitura sem prefeito.
Não vou teimar com quem diz
Que viu ferro dar azeite,
Um avestruz dando leite
E pedra criar raiz,
Ema apanhar de perdiz
Um rio fora do leito,
Um aleijão sem defeito
E um morto declarar guerra,
Porque vejo em minha terra
Prefeitura sem prefeito.
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