A tarde do último domingo, 4 de novembro, foi marcada por sentimentos de alegria e saudade, durante a cerimônia de apresentação do novo cacique da aldeia Parkatejê, localizada na Terra Indígena Mãe Maria, em Bom Jesus do Tocantins, mas a apenas 30 km de Marabá.
Com a morte do cacique Gavião Krôhôkrenhum, ocorrida no dia 19 de novembro, os mais experientes da equipe tiveram a dura missão de apontar um novo líder para seu povo. E eles escolheram Akroiarere Parkatejê, também conhecido popularmente como “Cuia”, um dos cinco filhos de Krôhôkrenhum.
A tarde de domingo, na aldeia Parkatejê, iniciou com a abertura dos Jogos Indígenas que se estende por toda esta semana, com a participação de tribos indígenas dos estados do Tocantins e Maranhão, além do Pará.
Ao final da cerimônia, Cuia foi apresentado e entrou na arena central da aldeia bastante emocionado. Chorou enquanto era recebido com aplausos, lembrando-se de seu pai e grande mestre.
Ao entrar na arena, ele foi recebido por jovens e colocaram em suas mãos uma tocha, simbolizando a responsabilidade que passa a carregar para defender os interesses do povo Parkatejê. Andou por mais de 100 metros até chegar em frente uma tenda onde havia uma exposição homenageando seu pai e maior líder do povo. Depois, chorou mais ainda quando foi cumprimentado por parentes e recebeu votos de felicidades na nova missão. “Vou buscar fazer tudo o que meu pai ensinava, buscando melhorias para nosso povo”, disse ele.
Cuia, o novo cacique, tem 45 anos e foi escolhido para o cargo depois do falecimento de seu pai. A família dele se reuniu e chegou à conclusão que seu nome seria o ideal para dar continuidade aos ideais de Krôhôkrenhum, um homem que era respeitado dentro e fora da comunidade indígena.
Entre suas principais missões está a de evitar que seu povo continue se dividindo dentro da própria TI Mãe Maria, criando novas aldeias. Embora atualmente haja nove aldeias com caciques independente, a Parkatejê continua a mais sólida, com três núcleos: a velha aldeia, a nova e uma terceira, localizada dentro da mata, conhecida como “Negão”.
Legado
Capitão, como era respeitosamente chamado Krôhôkrenhum, optou sempre pelo fortalecimento do seu povo e das suas tradições, em defesa do território, sem abdicar do acesso ao conhecimento do ‘branco’, para fortalecer seus ideais.
Tesoureiro e coordenador da aldeia mais tradicional da TI Mãe Maria, Kate Parkatejê explicou que eles decidiram fazer uma festa para homenagear o grande líder Krôhôkrenhum, apresentar o filho dele como novo cacique e ainda realizar a abertura dos jogos de confraternização dos povos indígenas desta região.
Disse ainda que os jogos que iniciaram dia 4 e encerram dia 9 deste mês, são formados por comunidades indígenas próximas do Pará, Tocantins e Maranhão, e servem para que as outras pessoas da região reconheçam quem é o novo cacique.
Os jogos estão sendo disputados nas modalidades futebol de campo, futebol de areia, arco e flecha, cabo de força, corrida de 100 metros rasos, a tradicional corrida de tora e a aguardada meia maratona, com percurso de 22 km, começando no final da reserva Mãe Maria até o centro da aldeia Parkatejê.
As comunidades que participam dos jogos são de Kanela-MA, Kayapó-PA, Governador-MA, Canto Bom-MA, Aikewara-PA, Krikati-MA, Karajá-TO e Xerente-TO, além dos próprio Gavião.
Segundo Kate, cerca de 800 indígenas participam da festa, sendo a metade residente na TI Mãe Maria e a outra parte vinda de aldeias dos dois estados vizinhos. “Vamos ter mistura de culturas indígenas. Vamos apresentar nossas tradições para eles, como alimentos e eles trazem o que produzem onde vivem”, explica.
(Ulisses Pompeu)
Comentários com Facebook