O vídeo em que um pai ensina o filho a fazer o reboco de uma parede de uma casa em construção gerou diversos comentários nas redes sociais, muitos apoiando a iniciativa e outros criticando o pai por estimular o filho a trabalhar. As imagens foram feitas na Vila Palmares Sul, em Parauapebas, e mostra o mestre de obras, Francisco do Nascimento Fonseca, fazendo o reboco da própria casa, em fase de construção, com o filho, Étni Sampaio Fonseca, hoje com 12 anos, pegando uma colher de pedreiro e ajudando a jogar massa de cimento na parede externa da residência.
A cena chamou a atenção de um tio do garoto, que gravou o sobrinho fazendo o serviço e brincou dizendo que ele era mais um pedreiro na família e já que poderia ganhar dinheiro com a atividade. O vídeo foi feito há três anos, mas só agora ganhou repercussão nacional. Alguns meios de comunicação chegaram a veicular que o Conselho Tutelar teria pedido a prisão do pai. A informação, porém, foi desmentida pelo órgão que fez questão de esclarecer que não é papel do conselho pedir prisão de quem quer que seja, isso é tarefa da polícia e da justiça.
Segundo a conselheira tutelar, Gardênia Martins, coordenadora do Conselho Tutelar II, em Parauapebas, esse é um caso que o conselho se quer tomou qualquer atitude. “Está claro que não se trata de exploração de mão de obra infantil. As cenas mostram apenas o pai ensinando o ofício ao filho, o que não é crime”, avalia.
“Crime seria se a criança estivesse sendo forçada a trabalhar. Ao contrário, o pai do menino esteve espontaneamente aqui e nos fomos lá na casa deles e vimos que o menino tem uma família bem estruturada e está estudando regularmente”, ressalta a conselheira, frisando que medidas só são adotadas quando há violação dos direitos da criança e adolescente, garantidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
“Nós somos zeladores de direitos. Zelamos pelos direitos das crianças e adolescente”, reforça Gardênia, observando que o ECA é contra a obrigatoriedade do trabalho infantil, “porque criança é para estar na escola”, reiterou.
Ela ressalta ainda que, no caso de adolescentes, o ECA não proíbe o trabalho. “Mas isso deve ser feito dentro da lei, através do programa Menor Aprendiz, em que o jovem tem todos garantidos todos os direitos trabalhista de um empregado regular, ressalvando a obrigatoriedade do menor estar estudando normalmente”.
Pai diz sentir orgulho da dedicação do filho
Homem simples, Francisco Fonseca fala com orgulho do filho, que desde pequeno sempre gostou de ficar perto dele quando está trabalhando e sempre demonstrou interesse pela construção civil. “Ele me acompanha e fica brincando do meu lado, perguntando como fazer isso e aquilo. É dele mesmo, sempre gostou desse meio”, diz, observando que no dia em que o vídeo foi gravado. O menino insistiu para que o deixasse jogar a massa de cimento na parede.
Contudo, o pai deixa claro que a única coisa que obriga o filho a fazer é estudar. “Nesse ponto eu sou rígido, porque quero que ele estude e se forme”, afirma Francisco, dizendo que somando críticas e elogios, teve muito mais elogios das pessoas que viram e comentaram o vídeo.
Ele conta que desde que iniciou a construção da sua casa deles, há três anos, o garoto o acompanha na obra. “Não adianta, quando vejo ele já quer me ajudar”, conta, informando também que o filho é aplicado na escola e que nunca repetiu de ano e tem boas notas.
Sempre ao lado do pai, Etni, que cursa a 7º ano na Escola de Ensino Fundamental João Evangelista, lá mesmo na Vila Palmares Sul, diz não ter dúvidas quanto a profissão que quer seguir: Engenharia civil. “Adoro construção e vou estudar muito para ser engenheiro civil. É isso que eu quero ser”, garante, resoluto.
A única preocupação da família agora é porque Francisco está desempregado e não teve mais recurso para dar sequência a construção da casa deles. Atualmente Francisco e a família estão morando com a sogra dele, porque não tem como pagar aluguel e nem dinheiro para acabar de construir da casa própria. “Eu faço bico, mas isso só dá para o sustento da família”, diz ele, que espera em breve voltar a trabalhar como mestre de obras.
(Tina Santos)
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