“Mato quem tiver por aí, até as galinhas”, teria dito o vice ao titular por telefone. Batalha dos dois está também na Câmara, com uma CPI polêmica
Deu BO. E dos brabos. O prefeito de São João do Araguaia, João Neto Alves Martins, de 56 anos, procurou a Delegacia de Polícia Civil do município, na última sexta-feira (30), para acusar o seu vice-prefeito, Francisco José Batista de Lima, o Chiquinho, de 44 anos, de ameaçá-lo. Desde janeiro, quando houve a posse da chapa dos dois – o primeiro do PTB e o segundo do PROS – é conhecida a animosidade entre eles.
O registro policial foi feito às 15h22, exatamente 17 minutos depois do horário que o prefeito afirma ter recebido a ligação, às 15h05. João Neto relatou ao delegado Timóteo Oliveira que a esposa atendeu ao telefonema do vice – feito a partir do número de telefone do próprio Chiquinho – e imediatamente passou o aparelho ao marido.
Ainda no boletim de ocorrência, ele afirma que o vice imediatamente começou a acusar o prefeito de ter realizado ameaças de morte contra ele e que teria ouvido isso da boca de outras pessoas, sem revelar quem seriam. João Neto diz ter ouvido de Chiquinho que os boatos que rolavam na cidade era de que o prefeito mataria o vice por “disputa de poder”.
Conforme João Neto, Chiquinho ainda disse que o prefeito não era “homem para falar com ele”. Neste momento, o titular destaca ter ficado “chateado” e mandado o vice “se lascar”. A partir disso, acrescenta, Francisco teria passado a xingá-lo e proferido a ameaça: “mato quem tiver por aí, até as galinhas”.
João Neto também registrou que no segundo dia de governo, Francisco teria pedido algumas Secretarias, espaço no governo, e que chegou a dizer ao prefeito que “nós vamos ser adversários e só vai me calar se me matar”. Acerca do caso, o delegado Timóteo Oliveira agendou uma audiência entre os dois para 10 dias após o registro do boletim de ocorrência.
O Portal de Carajás tentou entrar em contato por telefone com João Neto, que não atendeu à ligação. Francisco, por sua vez, negou qualquer ameaça e acusou o prefeito de desvios de verba pública e de estar “se fazendo de vítima”. Ao ser procurado pelo portal, informou ainda não ter sido intimado para audiência e confirmou ter telefonado para o prefeito na última sexta-feira.
Segundo ele, o teor da conversa foi questionar João Neto sobre os boatos que vinha ouvindo na cidade, conforme consta no registro de boletim de ocorrência. Ele alega que houve uma discussão entre os dois, mas que não proferiu qualquer ameaça contra João Neto. “Ele falou um palavrão e houve uma discussão verbal, mas não há qualquer motivo para eu ameaçar alguém, muito pelo contrário”, afirma.
De acordo com ele, há aproximadamente 15 dias a Câmara Municipal de Vereadores instalou uma comissão processante contra João Neto por suspeita de diversas irregularidades em licitações realizadas pela administração municipal. Francisco alega que o prefeito está com “os nervos à flor da pele” e vem coagindo vereadores para não ser afastado do cargo.
A animosidade entre eles, conta, se iniciou logo após as eleições do ano passado. Durante a formação da coligação que iria concorrer, havia sido acordado que caso o prefeito fosse eleito algumas secretarias seriam destinadas aos parceiros do vice. Francisco diz que logo após o resultado do dia 2 de outubro, no entanto, o prefeito passou a tratá-lo com indiferença e não cumpriu os acordos.
A situação se acirrou na votação da Mesa Diretora da Câmara Municipal, quando parceiros políticos do vice venceram a eleição contra os aliados ao prefeito. Para Francisco, João Neto é o “líder de uma quadrilha” na Prefeitura Municipal, juntamente com parentes que ocupam cadeiras em secretarias.
Ele afirma que é de conhecimento público que a família possui veículos em nome de laranjas que são alugados para o Poder Público. “Improbidade, fraude, peculato, prevaricação, vem ocorrendo tudo isso. Ele está nervoso porque a popularidade está baixa e agora está criando essa inversão de valores para se passar por vítima. Eu não tenho motivos para ameaçar ninguém, é ele quem está na eminência de ser afastado do cargo pela Câmara Municipal. Não sou eu que estou passando por problemas. Ele que está nervoso pelo processo. Começou agora a registrar BO para se fazer de vítima da história”, declarou.
Denúncias requentadas
O advogado Cláudio Corrêa, que defende o prefeito João Neto, procurado pela Reportagem agora a pouco, disse que as denúncias que o grupo de Chiquinho está levantado agora são requentadas. Lembrou que o gestor está no cargo desde 2013 e todas essas denúncias foram feitas ao Tribunal de Contas dos Municípios e Ministério Público Estadual, e foram arquivadas. “Em quatro anos e meio o MP nunca abriu uma ação civil pública contra o prefeito”, observou.
De acordo com Corrêa, tudo que o vice alega, já foram apresentadas provas de que as denúncias são vazias. “O vice está desesperado. Todas as licitações que foram feitas enviamos edital para o MP. As licitações são abertas, vereadores já participaram para ver como funcionam e pediram para que mandássemos todas as licitações para eles e fizemos isso. Mas também estão disponíveis no Portal da Transparência”.
A ameaça denunciada pelo prefeito, segundo o advogado, foi feita porque João Neto não foi afastado do cargo pela Câmara na última semana, como Chiquinho pretendia. “O presidente da Câmara está sendo usado por ele. Apresentamos hoje a defesa preliminar. Ele (vice-prefeito) quer sentar no poder de qualquer forma. São João nunca teve um vice como este. O prefeito está preocupado com sua integridade física e procurou o secretário de Estado de Segurança Pública para denunciar o caso. Hoje o João Neto está escondido, com medo. Trabalha apenas acompanhado de outras pessoas, preocupado com as ameaças que recebeu”, diz. (Luciana Marschall e Ulisses Pompeu)
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