Os últimos dias foram de lascar. De repente, a cidade virou de ponta a cabeça e foi manchete negativa em quase todos os noticiários do Brasil. Com o perdão da comparação, parecia que os bueiros do inferno tinham sido abertos de uma só vez e um número infinito de demônios baixara na cidade, fazendo um imenso estrago e espalhando um rastro de horror e perplexidade.
A bem da verdade, Parauapebas nunca foi um primor de tranqüilidade. Como todas as cidades oriundas de garimpo e projetos minerais, a vida humana nunca valeu grande coisa por essas plagas, contudo, os últimos dias foram muito complicados. Nos início dos anos 80 era comum se dizer que aqui se matava quatro e amarava três para dia seguinte, mas… bom, imaginava-se que os tempos eram outros. Era, até a semana passada.
Desafortunadamente, a pior versão da desgraça aconteceu exatamente com um pioneiro, figura muito querida. Cabo N. Oliveira, que não era outro senão o conhecido cabo Santarém, chegante em Parauapebas nos idos de 1985, para trabalhar no ramo de hotelaria, juntamente com sua família.
Boa praça, amigos dos amigos, nos tempos de juventude e apesar da baixa estatura, era goleiro de futebol de salão dos bons (um dos melhores que já vi), Santarém granjeou amigos nos seus mais de 30 anos de Parauapebas, mas, nada disso foi suficiente para lhe dar um salvo-conduto da fúria de marginais que invadiram sua casa para lhe desferir o golpe final. Vejam que nem o uniforme de polícial, jogado sobre um móvel da sala inibiu a ação dos bandidos, ou colocaram freio na ousadia e na maldade dos assassinos que lhe tiraram a vida com requintes de crueldade.
No dia seguinte, veio o reverso da medalha. Nada menos do que sete jovens, todos saídos da adolescência perderam a vida em execuções sumárias.
Durante o intervalo do velório e o sepultamento do militar, inúmeras versões encheram as redes sociais de informações desencontradas e carentes de fundamentação. Que os jovens eram delinquentes; que morreram trocando tiros com a polícia; que tudo não passava de uma “vendeta policial” e por fim, que eram simplesmente execuções pura e simples.
A população atônita ficou dividida. Muita gente, levada pelos boatos que brotavam feito chuchu na serra nas redes sociais, dizia que se tratava de marginais incorrigíveis. Curtiam e comentavam as postagens, aprovando as execuções. Por outro lado, uma parcela significativa da sociedade deplorou o ocorrido e alguns dias depois até manifestações foram realizadas.
Nos dois casos, duas situações devem ser observadas. O perigo da contemplação e a necessidade da repressão rigorosa ao crime. Quando a sociedade acha que execuções são normais, alguma coisa está muito errada. Por outro lado, um policial que dedicou 23 anos a proteção dos cidadãos deve ser reverenciado com todas as homenagens possíveis.
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