O risco é de um otimismo exagerado levar o Congresso a empurrar para depois das eleições de 2018 as votações mais importantes da agenda econômica
A economia brasileira passou a surfar numa onda de indicadores positivos que apontam para a retomada do crescimento, mas o otimismo com o fim da recessão pode retardar a aprovação de reformas essenciais para garantir a sustentabilidade das contas públicas.
Na avaliação de fontes do governo e do mercado, o risco é de um otimismo exagerado levar o Congresso a empurrar para depois das eleições de 2018 as votações mais importantes da agenda econômica, com a desculpa de que o PIB já pegou tração e não precisa mais da urgência das reformas.
Na quinta-feira, 5, a Bolsa chegou a tocar no patamar histórico de 78 mil pontos impulsionada pelo otimismo com a recuperação da economia, mas, ao longo do dia, o mercado perdeu fôlego e acabou fechando praticamente estável, em 76.617 pontes.
Para fontes da equipe econômica e economistas, o adiamento de reformas, como a previdenciária e a tributária, pode abortar o crescimento sustentável nos próximos anos. Sem uma solução duradoura, o governo não será capaz de interromper a sequência de rombos em suas contas.
Para o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Eduardo Guardia, o Brasil não pode conviver por um longo período com déficits primários – a previsão do governo é de que as receitas voltarão a superar despesas só em 2021. “Um país não pode conviver com déficits de 2% do PIB. Ponto. Algo terá que ser feito”, disse Guardia ao Estadão/Broadcast.
Segundo ele, a reforma da Previdência continua sendo prioridade do governo e a proximidade das eleições não altera essa necessidade.
Guardia credita a melhora dos indicadores econômicos – que estimula a retomada do consumo e a melhoria do crédito – à confiança, que criou um ambiente “pró-negócios” favorecido pelas mudanças nos marcos regulatórios das concessões e das regras trabalhistas.
Para o economista Paulo Picchetti, da FGV, o principal pilar da retomada é o consumo interno e externo (com impulso às exportações), mas ele ressalta que há um limite para a expansão nessas bases.
“Do ano que vem para frente, os investimentos terão de tomar esse papel de indutor do crescimento”, diz. Picchetti alerta que, sem as reformas, certamente esse ciclo expansivo fica em risco.
O secretário de Planejamento e Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento, Marcos Ferrari, avalia que a atual crise se assemelha à que os Estados Unidos tiveram recentemente. “Teremos uma recuperação lenta e robusta. Ela difere das nossas crises anteriores, que atingiu nível pré-crise poucos trimestres depois.”
Segundo Ferrari, o Brasil só atingirá o nível do PIB de 2014 em 2020. Para ele, a recuperação já é robusta, mas sem crescimento rápido no curto prazo. “Vai demorar alguns trimestres para o País voltar a ter um crescimento mais acelerado”, afirma.
Com a janela de votações no Congresso encurtada depois da apresentação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, lideranças governistas têm minimizado o impacto na economia do adiamento das reformas.
O próprio presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), já disse que o “ciclo fiscal” de 2018 está resolvido em função das receitas de concessões e privatizações e que os agentes econômicos não contam mais com a aprovação da reforma da Previdência.
Especialista em contas públicas, o economista-chefe da Tullett Prebon, Fernando Montero, diz que o mercado começa a projetar taxas de juros e PIB mais “amigáveis” à dinâmica da dívida pública.
“Mas nada disso resolve. O cenário externo pode mudar, a crise política continua, urgem as reformas e um ano eleitoral é sempre perigoso. Celebramos um ciclo mais benévolo. Forçoso é perguntar: onde estaríamos com a reforma da Previdência em andamento?”As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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