“Gostaria de viver para estudar e não de estudar para viver.” (Francis Bacon)
Muito apropriada esta frase de Bacon. As pessoas, atualmente, buscam o estudo, o diploma, como alternativa para ascender na vida, para melhorar o salário, ter mais conforto e qualidade. No entanto, os cursos de elite, como medicina, direito, odontologia, engenharia da computação, dentre outros, estão cada vez mais caros nas faculdades particulares e mais concorridos nas universidades públicas.
Não sei dizer se são por estes motivos que os alunos estão cada vez menos interessados em estudar. Vejo um marasmo tão grande neles, que me sinto contaminado e triste. Esta falta de interesse, de vontade de vencer pelo estudo, de se preparar para um futuro que se espera promissor, é refletida nas notas do ENEM. As notas foram as piores de todos os tempos. Apenas 53 alunos conseguiram nota MIL na redação, dentre os quase 5 milhões que prestaram o exame!
Na escola estadual de ensino médio Luís Magno, onde leciono, em Parauapebas/PA, a falta de interesse dos alunos pelo estudo é notória. Dá pena. Minha luta é feroz, no intuito de neles despertar o gosto pelo aprendizado. Não desisto nunca. A resignação deles é indescritível! Os poucos que tentam demonstrar algum interesse em aprender, querem fazer uma faculdade que lhes rendam bons salários. Não estão estão interessados em fazer algo que amem! Os outros dizem que, se não conseguirem passar para um bom curso, farão licenciatura. No último caso, serão professores, pois os cursos são baratos e de pouca concorrência! Meu Deus! Professores!!
Mas o mercado está atento a estas mudanças. No processo de seleção dos candidatos a uma vaga, procura filtrar os profissionais, aplicando-lhes testes e exigindo-lhes um período de experiência para checar se, além de serem os profissionais requeridos, têm e sentem prazer no que fazem. Os concursos públicos filtram os “melhores”. No concurso para professores em Parauapebas neste ano, vi tantos e bons profissionais da educação serem reprovados! O pior é que os alunos estão atentos a isto. Quando o professor entra na sala, perguntam em tom de deboche: “E aí, professor? Passou no concurso?”
Foi-se o tempo do glamour pelo curso superior, em que as pessoas estudavam só para ter um diploma e serem chamadas de doutoras. Aliás, só as ricas o faziam. As universidades estão aí, para todos. Quem não pode pagá-las e não consegue a tão difícil, concorrida e sonhada faculdade pública, tem que enfrentar a burocracia governamental para conseguir o financiamento mais barato.
Estudar é muito difícil, mas, ter acesso ao estudo, à escola pública e gratuita de ensino médio é muito fácil. Há vagas para todos. Só que o aluno não quer aprender, não quer se dedicar. Ele culpa o governo, o professor, a direção da escola, mas não percebe que ele é o maior culpado. Não faz as tarefas pedidas, não participa das aulas, adora quando o professor falta, adora também o professor que não ensina, mas dá boas notas. O aluno não quer aprender, quer o diploma, aí não sabe o que fazer com ele, pois é reprovado pelo mercado de trabalho. Sobram aqueles poucos que estudam, participam, cobram do professor e vencem as dificuldades. Estes serão os patrões daqueles desinteressados, preguiçosos e sem ambição. É tão comum ver alunos que estudaram na mesma escola pública, tiveram as mesmas oportunidades e, depois, possuírem tão diferentes padrões de vida. Uns poucos ricos e a maioria pobre. E os pobres insistem em dizer que tiveram azar. Que nada, tiveram foi preguiça de estudar! E não venham dizer que tinham que trabalhar, ajudar no sustento da família, pois quem conseguiu vencer, também passou por isto!
Existe aquele que descansa ao pé da árvore e aquele que nela sobe para apanhar os frutos. Não queira abraçar o mundo com as mãos, mas tenha mãos preparadas para apanhar o que o mundo te oferece. A vida é um deserto para aquele que nela se acomoda. Shakespeare dizia que “O que não dá prazer não dá proveito. Em resumo, senhor, estude apenas o que lhe agradar.” Teria ele razão hoje? O “novo” ensino médio está aí com a cara de Shakespeare. O aluno poderá cursar as disciplinas com as quais tiver mais afinidade. Mas na hora da prova do ENEM, tem que ter estudado todas! E aí? Como é que fica?
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