Vestindo roupas pretas, familiares e amigos da empresária Cidicleia Carvalho Vieira França, 42 anos, assassinada na madrugada do último sábado (31), lotaram o plenário da Câmara Municipal de Parauapebas, pedindo por justiça durante a sessão desta terça-feira (3). Na ocasião, os vereadores prestaram solidariedade à família e se disponibilizaram a lutar para que o crime não fique impune.
Cleya, como era conhecida, foi executada com um tiro na cabeça após sair de uma vigília na Igreja Assembleia de Deus Mãe, no Bairro Altamira, e até o momento não há informações sobre a motivação para o crime, nem sobre o autor do disparo.
A empresária era casada com o atual secretário municipal de Desenvolvimento de Parauapebas, Isaías Queiroz de França, e mãe de dois filhos: Wenzo Richelly Carvalho França, 20 anos; e Victor Richelly Carvalho França, 16 anos. Este último estava com a mãe no momento do crime. Os três acompanharam a sessão, juntamente com a mãe de Cleya, Lúcia Carvalho Vieira, e as irmãs dela.
Emoção
Assim que iniciou a sessão, o presidente da Câmara, Elias da Construforte (PSB), pediu um minuto de silêncio em memória de Cleya. Após a votação das matérias do dia, todos os vereadores presentes prestaram condolências à família da vítima, alguns criticaram o Governo do Estado do Pará pela falta de investimento em segurança e se disponibilizaram a buscar ações que ajudem a reduzir os índices de violência em Parauapebas.
O primeiro a fazer uso da tribuna foi o vereador Rafael Ribeiro (MDB), que fez duras críticas à administração estadual. “Infelizmente, a segurança pública se encontra em uma situação de calamidade pública. O Governo do Estado tem sido omisso em suas obrigações, não só em Parauapebas, mas em todo o estado. Não podemos aceitar esses altos índices de violência. A Câmara precisa se mobilizar, para, juntos, cobrarmos do Estado. Se preciso for, vamos formar uma comissão para ir a Belém cobrar uma intervenção. O contingente da Polícia Militar é insuficiente, a Polícia Civil está sucateada e as viaturas são abastecidas pelo município. Como combater a violência dessa forma? Queremos andar na rua sem medo de ser assaltados. Hoje foi a Cleya, e amanhã?”, questionou.
Joelma Leite (PSD) destacou a necessidade das mulheres se unirem para lutar contra a violência e na busca por garantia de direitos. “Hoje uso essa tribuna com meu coração partido. É muito triste falar sobre o que está acontecendo em Parauapebas. Existe uma grande diferença entre perder um ente querido por motivo de doença e quando é tirado brutalmente, sem motivo. Convido as mulheres para praticarmos a sororidade, a união entre mulheres, baseada na empatia. Temos o hábito de criticar, ameaçar e invejar umas e outras. Que tenhamos mais companheirismo e acabemos com essa prática. Hoje somos quatro vereadoras, temos delegadas, juízas e o poder de cobrar. Cobrar justiça e garantir nossos direitos. Justiça para o caso da Cleya e tantas outras. Vamos nos unir e não descansar enquanto não tivermos resultados. Podia ser com qualquer uma aqui, pois estamos à mercê de toda violência. A justiça não vai trazer as vítimas de volta, mas vai trazer a sensação de que quem fez isso será punido”.
A vereadora Eliene Soares (MDB) exibiu um vídeo feito por mulheres da Igreja Assembleia de Deus Mãe em homenagem a Cleya. Em seguida, a parlamentar também enfatizou a necessidade das mulheres atuarem juntas. “Todas nós mulheres passamos pelas mesmas lutas. A nossa importância enquanto mulher é muito grande. As mulheres são a coluna forte das igrejas, de suas casas. Só nós sabemos o que temos que passar para ter harmonia em nossos lares. A Cleya fica como uma lição de mulher que praticou boas ações. A forma como a perdemos foi horrível. Que não deixemos esse crime no silêncio, que não seja mais uma mulher assassinada e as autoridades cruzem os braços. Estaremos empenhadas pedindo justiça. Juntas, mulheres, com certeza vamos fazer a diferença e que essa pessoa que matou a Cleya vá para a cadeia”.
Em seguida, foi a vez de Marcelo Parcerinho (PSC), que iniciou sua fala lendo uma carta do esposo da vítima. Na mensagem, Isaías França agradece o apoio de todos e fala do quanto Cleya era uma pessoa caridosa.
“Não sabia o quanto minha esposa era amada. Conheci-a há 23 anos e tudo que construímos foi junto. Uma mulher amorosa, que todo o seu tempo era para fazer o bem. Fazia ação social, como distribuição de cestas básicas e sopão, levando sempre a palavra de Deus. Me arrependo por não ter dado mais atenção e carinho, por está tão envolvido com o trabalho e não ter dado valor às mínimas coisas. Hoje essas pequenas coisas me fazem falta e sei que não vou tê-la de volta e isso é o que mais doí em meu coração. Ela me deu os momentos mais felizes da minha vida e os dois presentes mais importantes, meus dois filhos. Estamos juntos apoiando um ao outro, sempre. Ela sempre cuidou de nós e vai continuar cuidando lá do céu e olhando por nós. Obrigado!”
Posteriormente, Parcerinho continuou com a palavra, apresentando estatísticas que colocam o Pará entre os estados mais violentos do país e criticando a atuação do governador Simão Jatene quanto a essa situação.
“Nosso governador, em vez de investir, vem reduzindo ano a ano os investimentos, que para ele são gastos com a segurança. Só nas áreas de inteligência e investigação da polícia, reduziu em 84% o orçamento. É isso que nosso governador vem fazendo pelo estado. No período eleitoral ele prometeu para Parauapebas hospital, Propaz, faculdade, escola técnica e o presídio, que está sendo tomado pelo mato. É isso que Jatene faz pela nossa região. Esse governador não tem respeito nem pelos mortos, pois até o IML [Instituto Médico Legal], que é responsabilidade do estado, quem toma conta é o município. Até a gasolina do delegado quem paga é o município, que cede servidor administrativo também. Enquanto aqui está se trabalhando, o governo está cortando recursos. Se fosse uma briga, não estranharia, agora, montar uma tocaia na porta da igreja. Assassinar uma pessoa que estava orando pela família. A gente via o empenho da Cleya como mãe, empresária. O trabalho dela dobrou depois que o marido se tornou secretário, e fica a pergunta: por que? Qual motivação?”, indagou Marcelo Parcerinho.
Ivanaldo Braz também enfatizou que o município faz pela segurança pública muito mais do que o estado. “Não vamos colocar a culpa na polícia, mas a responsabilidade de descobrir e prender o autor é toda dela. O município ajuda com combustível para as viaturas, manutenção, cede servidores, tem o sistema de monitoramento que ajuda a coibir muitos crimes, tem a Guarda Municipal também. Temos que pedir um basta, vamos cobrar uma atitude da Secretaria de Segurança Pública do Estado”.
Os demais vereadores presentes, Horácio Martins (PSD), Kelen Adriana (PTB), Joel do Sindicato (DEM), Maridé Gomes (PSC), Francisca Ciza (DEM), José Pavão (PSDB) e João do Feijão (PV), também prestaram condolências à família enlutada e se colocaram à disposição para ajudar.
Zacarias Marques (PSDB), que é membro da Comissão Permanente de Segurança Pública e Defesa Social da Câmara, informou que nesta quarta-feira (4), às 15 horas, será realizada uma reunião com representantes do Gabinete de Gestão Integrada do Município (GGIM), das polícias e demais membros da segurança pública.
“Para que possamos ir ao secretário de segurança do estado questionar o que a gente vive hoje, falar do aparelhamento da segurança pública. Para que possamos combater de forma mais ostensiva. Vamos cobrar a conclusão da obra do presídio, que inicie a construção da delegacia do Bairro Cidade Jardim e traga o Propaz para cá. Me solidarizo com a dor pelas vidas ceifadas, devido à violência. Mas espero que tenhamos consciência, para não usar a dor para qualquer tipo de promoção”, relatou Zacarias Marques.
O presidente da Câmara, Elias da Construforte (PSB), encerrou a sessão se solidarizando com a família de Cleya e informando que o Legislativo vai cobrar providências para elucidar o assassinato dela e ações para enfrentar a violência em Parauapebas.
“A Câmara Municipal, como guardiã dos direitos dos cidadãos, se solidariza com amigos e familiares. Coloco as comissões de Segurança Pública e de Direitos Humanos à disposição para irem a Belém discutir os problemas da insegurança que se abateu sobre Parauapebas. Vamos cobrar das autoridades competentes que solucionem mais esse crime. Que o estado cumpra com seu papel de garantir a segurança de todos. Que este e outros casos não fiquem impunes, pois Parauapebas não aguenta mais tanta violência. É hora de dar um basta!”.
Texto: Nayara Cristina / Revisão: Waldyr Silva / Fotos: Lucas Dias / Ascomleg
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