Escrever é tão fácil! É só desenhar as letras. O difícil é escrever algo que agrade, que chame a atenção do leitor!
Se escrever é fácil, ler não é. O hábito da leitura é para poucos. Quando alguém que sabe ler, vê um texto com mais de 05 linhas, passa os olhos sobre as palavras e diz para si mesmo que lerá depois. Mentira! Lerá nada! No entanto, se as primeiras linhas lhe agradarem, lerá mais um pouquinho e mais um pouquinho, até ler tudo. Mas como agradar ao leitor? Como produzir nele a vontade de continuar lendo?
Cabe ao escritor a resposta. Quando o objetivo do escritor é atrair a atenção do leitor, ele usará a função emotiva da linguagem, carregada de subjetividade, visando comover aquele que lê! Mas, se a preocupação do escritor é com a escrita, com a mensagem, irá fazer de tudo para que o texto fique bonito, mesmo que não agrade.
Agora, por exemplo, estou sem um pingo de vontade de escrever. Estou com aquela preguiça mental, olhando, pela janela, a chuva fria que insiste em cair. (são 13h08min, 28 de novembro de 2018, Parauapebas/PA). A namorada, de blusa vermelha e short preto, está se aprontando para ir para a academia. O cachorro entrou no quarto, ela briga para que ele saia. A umidade deixa os cachorrinhos fedidos. O mofo se alastra. As muriçocas se multiplicam. A raquete não para de estalar. A vontade de ficar na cama aumenta. No canal da globo, notícias sobre o Fluminense. Continuo sem assunto. Lembrei-me de Olavo Bilac:
“Certa vez, um grande amigo do poeta Olavo Bilac queria muito vender uma propriedade, um sítio que lhe dava muito trabalho e despesa. Reclamava que era um homem sem sorte, pois o sítio lhe dava muitas dores de cabeça e não valia a pena conservá-lo. Pediu então ao amigo poeta para redigir o anúncio para vendê-lo, pois acreditava que se ele descrevesse a propriedade com palavras bonitas, seria muito fácil alguém comprá-lo.
E assim Olavo Bilac, que conhecia muito bem o sítio do amigo, redigiu o seguinte texto:
“Vende-se encantadora propriedade onde cantam os pássaros ao amanhecer, no extenso arvoredo. É cortada por cristalinas e refrescantes águas de um ribeiro. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda.”
Meses depois, o poeta encontrou o amigo e perguntou-lhe se tinha vendido o sítio.
“Nem pensei mais nisso”, respondeu ele. “Quando li o anúncio que você escreveu, percebi a maravilha que eu possuía.”
Revejo alguns poemas e crônicas que escrevi. Acho lindos os poemas. Reviso alguns, mas salvo os originais. As crônicas cômicas já não me parecem mais tão engraçadas. Natural. Acontece quando assisto a filmes de comédia. Ao vê-los pela primeira vez, rio muito. Depois, perdem a graça. O mesmo se dá com filmes dramáticos. Quase chorei ao ver “O campeão”, com Jon Voight, “Ghost, do outro lado da vida” e alguns outros. Depois, quando os vi de novo, não foi a mesma coisa. Mas, tem uma cena de um filme do Mazzaropi, Jeca Tatu, que mexe comigo até hoje: os pais criaram o filho com todo o carinho e sacrifício. Passaram até fome para mantê-lo na cidade grande no curso de medicina. No dia da formatura, o filho não colocou os nomes dos pais na lista de convidados. Tinha vergonha deles, pobres jecas da roça. Os pais insistiram. Até o segurança, percebendo tudo, se emocionou. Mas não podia deixá-los entrar. Eles assistiram a festa de formatura do filho, pela janela do salão, na chuva, mas alegres por terem conseguido formá-lo. Não há como impedir que os olhos se molhem de tristeza e revolta. A cena é ímpar, antológica, triste!
E minha disposição para escrever termina aqui. Sem inspiração, não há escritor que consiga a atenção do leitor.
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