Na hora que eu fiquei sabendo, eu me entrego à Justiça divina e à Justiça da terra que eu prometi, e estou indo agora para me entregar — afirmou o médium, ao se entregar, à colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo. A polícia ainda deve decidir onde João de Deus ficará detido. Uma cela especial havia sido preparada para ele em Aparecida de Goiânia, que fica na região metropolitana da capital do estado, mas a polícia poderá optar por deixá-lo preso na próprio Deic.
João de Deus se entregou ao delegado titular da Deic, Valdemir Pereira, e ao delegado geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes. Segundo a delegada Marcela Orçai, o médium estava acompanhado de advogados e não foi necessário o uso de algemas.Investigadores chegaram a cogitar que o médium já teria deixado o estado e poderia estar se preparando para fugir.
Sua última aparição pública do médium foi na última quarta-feira, em Abadiânia, onde visitou a Casa Dom Inácio de Loyola, o seu centro mediúnico, por apenas oito minutos. Na ocasião, ele afirmou que era inocente.
Ontem, O Gblobo publicou que ele retirou cerca de R$ 35 milhões de contas bancárias em seu nome desde a quarta-feira passada, segundo investigadores envolvidos com o caso. A descoberta dessas operações fez com que a Polícia Civil de Goiás e o Ministério Público do estado (MP-GO) acelerassem o processo para pedir a prisão preventiva do médium, aprovada pela Justiça na última sexta-feira.
O MP-GO criou uma força-tarefa para apurar o caso, com apoio de diversos estados pelo país. Entre as mulheres que dizem ter sofrido abuso está uma das filhas do médium, Dalva Teixeira, de 49 anos, que afirmou à revista “Veja” ter sido estuprada dos 10 aos 14 anos de idade.
João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, de 76 anos, faz atendimentos mediúnicos em seu centro espiritual em Abadiânia desde a década de 1970. As primeiras acusações ao médium foram divulgadas por O Globo e pelo “Conversa com Bial”, da TV Globo, no último dia 8.
Em São Paulo, um dos estados que colaboram com as investigações do MP-GO, a promotoria levantou a suspeita de que funcionários do centro onde João de Deus atendia tenham sido coniventes com os abusos sexuais.
O Código Penal prevê penalidades também para quem participa ou coopera com qualquer tipo de crime, na medida de sua culpabilidade. A teoria é citada no artigo 29. Ao menos dez mulheres ouvidas pelo Ministério Público de São Paulo afirmaram que um grupo de funcionários do médium sabia dos abusos cometidos durante as sessões espirituais em Abadiânia. Os depoimentos estão dando suporte às investigações em Goiás.
— Das 21 vítimas que ouvimos até aqui, praticamente metade mencionou que pessoas que trabalhavam há muito tempo no templo tinham conhecimento do que ocorria e nada faziam para evitar os abusos. Não podemos falar sobre providências a serem adotadas em relação a esses funcionários, pois a investigação está a cargo dos colegas em Goiás. Mas estamos repassando todas as informações adiante — disse a promotora de São Paulo Gabriela Manssur.
De acordo com os relatos, os abusos ocorriam em uma sala reservada apenas em momentos de atendimento individualizado. Se havia uma terceira pessoa no local, ela era orientada a ficar com os olhos fechados ou mesmo vendados. Ao menos quatro funcionários que não ficavam nessa sala, mas eram próximos ao médium, são suspeitos de saberem do que ocorria e já foram identificados pelo MP de São Paulo. Os nomes não foram divulgados.
O que diz a lei
Na avaliação de um dos promotores do MP-GO, que está à frente do caso, se os relatos forem confirmados, trata-se do maior escândalo sexual da história do país.
— Caso os relatos se confirmem, eu não tenho dúvidas de que esse seria o maior escândalo de que já se teve notícia no Brasil… Tenho absoluta certeza — disse o promotor Luciano Meireles. O promotor afirmou que, com base nos depoimentos que já foram divulgados até agora, há três possíveis crimes: estupro, violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável.
As penas podem chegar a até 10 anos, 6 anos e 15 anos, respectivamente. Se houver uma condenação, as penas poderão ser reduzidas em razão do prazo de prescrição, que cai pela metade para pessoas acima de 70 anos, como é o caso do médium, ponderou o promotor.
Na prática, isso significa que denúncias ocorridas há um tempo que supera o de prescrição não poderão ser usadas para uma condenação. Isso não quer dizer, porém, que não sejam necessárias. Fonte: O Globo.
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