Macarrão, por exemplo, teve alta variando entre 2% e 5% ao longo deste ano
Um dos principais alimentos da mesa dos brasileiros, o arroz teve alta de preço de 26,32%, de janeiro a agosto deste ano, nos supermercados de Belém. A disparada no valor do produto – muito acima da inflação do período, acumulada em 1,16% – é uma das mais sentidas entre os aumentos observados nos itens da cesta básica. Com os alimentos mais caros, o consumidor tem sido estimulado a substituir produtos, mas até as outras opções disponíveis sofreram reajuste no preço, acima da inflação.
O macarrão, por exemplo, que poderia substituir o arroz, como sugeriu o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Sanzovo Neto, teve uma variação de 2% a 5% ao longo deste ano, dependendo do tipo (com ou sem ovos), da marca e do local de compra, conforme análise prévia feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), ao jornal O Liberal. O pacote de 500 gramas de macarrão com ovos varia de R$ 3,32 a R$ 4,42, enquanto o sem ovos custa entre R$ 2,62 e R$ 3,12.
“Na economia, você vai para produtos substitutos. Aqui no Pará, por exemplo, se a carne está cara, substitui pelo peixe. Acho que ao mesmo tempo que tem que haver algum entendimento sobre a causa dessa alta, como inflação, a China está comprando mais, entressafra do produto, uma série de fatores, ao mesmo tempo que se busca o entendimento com setor produtivo e empresarial, mas a população tem que comer e ela não vai esperar um mês, dois meses, três meses. Ela vai comer amanhã, vai comer hoje. Então, nesse exato momento, teve que buscar substituto. O macarrão seria uma alternativa, mas ele também não está barato”, observa o supervisor técnico do Dieese-PA, Roberto Sena. “O macarrão leva trigo e o dólar está alto, então, de alguma maneira, o pãozinho, toda a cadeia que o trigo ajuda e o macarrão estão no meio, ficou mais cara ao longo do ano. Pode estar mais barato que arroz, mas também está caro”, completou.
No caso do arroz, conforme pesquisa divulgada pelo Dieese nesta quinta-feira (10), o quilo do produto custava, em média, R$ 3,36 nos supermercados da capital paraense, no mês de agosto – aumento de 0,30% em comparação ao mês anterior; de 28,24% em um ano, enquanto a inflação acumulada do período foi de 2,94%, e de 26,32% nos últimos oito meses (janeiro a agosto), contra uma inflação de 1,16% para o período.
A trajetória de preço desse e de outros produtos confirma a alta expressiva na cesta básica. Outro item que tem pesado bastante no bolso dos consumidores, por exemplo, é o óleo de cozinha, que somente este ano (de janeiro a agosto), ficou 20,51% mais caro em Belém. Nos últimos 12 meses, o reajuste do produto chegou a 44%. No mês passado, por exemplo, ele custava R$ 5,17 na prateleira, enquanto no mesmo período de 2019 estava R$ 3,59, ainda conforme os levantamentos feitos pelo Dieese.
De maneira geral, a cesta básica do paraense ficou 6,61% mais cara, custando R$ 441,51, em média, e comprometendo quase metade (45,68%) do salário mínimo, que está R$ 1.045,00.
“E o aumento está acontecendo em um período em que a renda caiu, mais da metade das famílias do Pará estão endividadas e quando há o anúncio de um corte pela metade no valor do auxílio emergencial. E aí, você vai fazer o quê? Estão falando do arroz, mas subiu feijão, carne, óleo de soja, subiu a cesta básica como um todo”, ressalta Roberto Sena.
Ao longo deste ano, o quilo do feijão ficou 21,31% mais caro e fechou agosto custando, em média, R$ 6,66, apesar da queda em comparação a julho de 6,46%. O preço médio do quilo da carne teve queda de 2,13% no acumulado de janeiro a agosto, mas já registrou aumento de 2,87% em agosto, na comparação com julho. O leite chegou a ficar 25,40% mais caro em Belém, este ano.
“Os aumentos não ocorreram em todos os produtos. Mas os que mais sentiram o efeito foram o arroz, óleo de soja, leite, feijão e carne. Com a carne, você tem a opção de fazer a substituição: quem usava o filé, por exemplo, deixa de usar, quem usava carne de primeira, usa de segunda. Tem opção de substituir pelo frango, pelo peixe, tem alternativas. O arroz, por mais que seja substituído pelo macarrão, faz parte do dia a dia do prato do brasileiro, que normalmente é o tradicional feijão com arroz”, observa o presidente da Associação Paraense de Supermercados (Aspas), Jorge Portugal.
O governo chegou a anunciar algumas ações, como a redução de 12% para zero da alíquota da importação do arroz, mas o empresário entende que são medidas paliativas. “Sabemos que não vai ter efeito imediato, isso demora para importar. Um dos fatores que mais contribuiu para esse aumento foi o câmbio, o dólar no patamar elevado, onde os produtores nacionais exportaram mais. Tem mercados, como o asiático, que estocaram alimentos. Ainda teve outro fator, que foi a ajuda na economia, o auxílio emergencial, que era necessário, foi fundamental para o aumento do consumo, e tem também a consequência disso, porque desde o plano real, não existe mais essa questão de tabelamento, é a lei da oferta e procura. Logicamente, quanto menos tem pra ofertar, o preço se eleva”, ressalta Portugal.
O presidente da Aspas ressalta, porém, que os supermercadistas são a ponta da cadeia. “É preciso deixar claro que nós (os supermercadistas) somos a ponta do iceberg. Não é o supermercado que aumenta, nós temos notas fiscais comprovando, dos fornecedores. Isso já vem lá, desde o produtor, a indústria, até chegar na gente. Tanto prova que tem produtos como a cebola que estiveram com o preço lá em cima e depois caiu”, ressalta.
Sobre a declaração do presidente Jair Bolsonaro, que chegou a pedir aos supermercados lucro próximo de zero nos produtos essenciais, Portugal avalia que é uma tentativa de responsabilizar um setor que não provocou esse problema. “Por que o governo não zera impostos? Como vamos zerar (lucro) pagando impostos, pagando funcionários, contas de energia?”, questionou.
Para o presidente da Aspas, com a redução no valor do auxílio emergencial, a tendência é que o consumo caia também, mas dificilmente o arroz terá redução de preço de maneira imediata. “Mesmo com a desoneração da taxa de importação, a colheita, a nova safra, deve ocorrer só no início do ano, então é quando deve normalizar. Se o dólar cair, aí com certeza a exportação vai diminuir e vão ser ofertados mais produtos para o mercado interno”, avalia. “Inclusive, nossa orientação para os associados é não estocar produtos desse tipo, esses produtos que eu citei, nesse período, é para comprar o mínimo, para poder girar e não fazer aquela compra de estoque, como são acostumados a fazer”, pede.
O aumento no valor de alguns dos principais itens da cesta básica tem impactado no orçamento das famílias paraenses. “Feijão, arroz, charque, quase tudo aumentou. A gente vai comprando como pode, aos poucos, porque está tudo caro mesmo”, declarou o ambulante Édio Almeida Lobato, de 50 anos, que gasta entre 600 e 700 reais por mês com alimentação, quase a metade da sua renda.
“Eu gastava 700 e pulou para 800 reais. Eu creio que pra mim o mais caro foi arroz, carne, os alimentos de maneira geral”, disse o autônomo Adelson Pinheiro, de 39 anos. “A quantidade do que eu levo está diminuindo muito”, afirma.
Keila Ferreira
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