Um dos julgamentos mais importantes da história recente dos Estados Unidos tem início nesta segunda-feira (29), após um longo e complexo processo de seleção do júri.
Derek Chauvin, o policial branco que provocou, em maio do ano passado, a morte do cidadão afro-americano George Floyd, ao se ajoelhar sobre seu pescoço durante nove minutos, começará finalmente a ser julgado em Minneapolis, no norte dos Estados Unidos.
As declarações de abertura da acusação e da defesa estão agendadas para esta segunda-feira. Na sequência, serão ouvidas as testemunhas e terão início os interrogatórios. Esta parte do julgamento deve durar de duas a quatro semanas, seguida pelos argumentos finais. Só então o júri iniciará a deliberação, esperada para maio.
Acusações e defesa
Derek Chauvin, de 45 anos, que estava há 19 anos na polícia, enfrenta acusações de homicídio doloso e homicídio culposo – ou seja, com e sem intenção de matar – e de assassinato de terceiro grau, que na justiça brasileira é similar à lesão corporal seguida de morte. Ele foi demitido e está em liberdade condicional desde outubro, depois que pagou fiança de US$ 1 milhão.
Chauvin se declarou inocente e alegou que, para abordar Floyd, seguiu corretamente o treinamento policial. Esse também deve ser o argumento da defesa, que vai tentar convencer o júri de que a vítima morreu por estar sob efeito de drogas. Floyd, de 46 anos, foi abordado por quatro policiais em Minneapolis, sob alegação de que havia usado uma nota falsa de US$ 20.
A acusação deve argumentar que a violenta ação de Chauvin, em 25 de maio de 2020, não foi um exceção, mas uma estratégia utilizada por ele durante todo o tempo em que esteve na polícia. Há registros de pelo menos outros seis incidentes anteriores à morte de Floyd, nos quais o ex-policial imobilizava as pessoas pelo pescoço ou se ajoelhava em cima delas.
Se condenado por assassinato em segundo grau, Chauvin pode pegar até 40 anos de prisão, 25 anos por homicídio em terceiro grau e até 10 anos por homicídio culposo. Os outros três policiais que participaram da operação também foram demitidos, mas serão julgados separadamente em agosto.
Entre a população de Minnesota, há muita expectativa em relação ao julgamento de Chauvin, mas também falta de esperança. George Floyd se tornou um dos maiores símbolos do racismo estrutural nos Estados Unidos e da violência policial. A morte deste afro-americano causou revolta, indignação e suscitou os maiores protestos dos últimos 50 anos no país.
Por um lado, neste mês de março foi fechado o maior acordo pré-judicial de um processo por homicídio culposo na história dos Estados Unidos: a família de Floyd vai receber da cidade de Minneapolis uma indenização de US$ 27 milhões, o que mostra a importância desse caso.
Segundo analistas, a revolta nacional após a morte de Floyd influenciou até mesmo as eleições presidenciais de novembro de 2020. Mais pessoas foram às urnas para tentar reverter essa disparidade racial. Além disso, foi aberto um grande debate sobre a reforma da polícia americana.
Por outro lado, as pessoas perderam a fé na Justiça – um sentimento baseado em julgamentos anteriores. Muitos não acreditam que Chauvin possa ser condenado, já que os policiais contam com uma grande imunidade nos Estados Unidos, e que a população volte para as ruas. No domingo (28), na véspera do início do julgamento, novas manifestações e vigílias para homenagear Floyd já foram realizadas.
O reverendo Al Sharpton, ativista dos direitos humanos, resumiu o sentimento atual do país neste momento: “Chauvin está na sala do tribunal, mas os Estados Unidos estão sendo julgados. É o sistema de justiça criminal que está em julgamento”, declarou.