Tião Rocha é antropólogo “por formação acadêmica”, educador popular “por opção política” e folclorista “por necessidade”. Idealizador do CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento)
Tião Rocha descobriu há 30 anos que era possível fazer educação debaixo do pé de manga, em roda, sem currículo fixo, sala de aula e hierarquia. Para ele, o segredo é pensar a educação como algo plural, que leva em conta “os saberes, os fazeres e os quereres” de todas as pessoas envolvidas no processo. Uma educação que não exclua nem selecione, mas que respeite o tempo de aprendizado de cada um.
“Infelizmente a escola não é uma coisa prazerosa. Esse é o grande desafio. A escola deveria se assemelhar muito mais a um parque de diversões, um lugar prazeroso. A escola hoje se parece muito mais com uma fábrica, que tem sino para entrar, sino para sair, a cada 50 minutos muda a matéria, tem uma hierarquização danada, aí deixa de ser fábrica e vira uma cadeia, um quartel, e às vezes chega ao ponto de parecer um hospício”, afirma.
Rocha é fundador do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, organização não-governamental que atua nas áreas de educação popular e desenvolvimento comunitário sustentável. Ele participa na próxima quinta-feira (6) de um dos debates do Wise (World Innovation Summit for Education), um dos principais eventos internacionais de educação, realizado nesta semana em Doha, no Catar.
Boa educação exige bons educadores
Ele defende que a boa educação só é possível com bons educadores –aqueles que não se posicionam como detentores da toda a sabedoria e que são capazes de compreender que todo mundo tem algo a ensinar. “O bom educador é aquele que se propõe a ser um aprendiz, tem que aprender o outro, que é perceber a potencialidade do outro e dar as oportunidades para crescer”, afirma.
Na sua opinião, o bom educador “não fica citando autores, não é um repetidor de ideias”, mas é aquele que constrói a sua própria pedagogia. “A educação só existe no plural, tem que ter no mínimo duas pessoas (o eu e o outro). Se o professor e o aluno são pessoas diferentes, a relação entre eles tem que ser de iguais. Ou seja, não tem o que sabe mais ou o que sabe menos, não existe isso, são experiências distintas, pessoas distintas”.
Isso só é possível, afirma o educador, quando cada um se sente acolhido dentro do processo educativo. Para pensar uma educação onde todos são ouvidos e ajudam a construir os saberes, ele criou a pedagogia da roda. Ela surgiu quando ele juntou pessoas debaixo de um pé de manga, e percebeu que ali não havia hierarquia e que em círculo todas as pessoas conseguiam se alhar nos olhos.
A partir daí, novas ferramentas foram construídas, como o cafuné pedagógico. “É uma coisa simples: só dá cafuné para o outro quem aprendeu a ter cafuné na vida. É criar acolhimento para aqueles que ainda não tiveram isso. Todos nós precisamos de colo”.
E justifica a adoção do método: “Quanto mais produzir afetos, generosidade, mais as pessoas vêm. Eu não conheço nenhuma criança que possa ter aprendido e se desenvolvido plenamente na base do castigo. Agora, eu conheço centenas de milhares que aprenderam e cresceram cidadãos plenos à base do afeto”, afirma.
Quebrar as paredes
Mas o que seria essa escola do futuro? Para Viana, uma escola bem diferente da que temos hoje. “Se a gente não mudar o jeito de ensinar, não adianta. Não é questão de verba, é questão de mudar efetivamente, romper, quebrar com essa grade curricular, quebrar as paredes que estão dentro escola”, afirma.
“Hoje as crianças têm um currículo que metade das informações são inúteis. Ou então ele aprende um monte de gramática, mas não aprende a gostar de ler. O aluno fingindo que aprendeu, o professor finge que ensinou, a escola finge que existe, o Estado finge que paga e nós estamos pensando que essa educação forma. Ela finge que forma”, diz. Marcelle Souza
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