Se em algum momento houve catástrofe, ela ficou no passado ou na cabeça de quem não conhece a realidade da rede.
“Estou cansada desse papo de que a escola pública não presta”, me contou uma professora durante um congresso. “Dizem que nosso trabalho é uma tragédia, mas não é isso o que eu vivo no meu dia a dia.” Escutei com atenção e dei razão a ela. Até arrisquei uma provocação, falando que eu achava justamente o contrário. Para mim, a Educação pública brasileira nunca esteve melhor.
Exagero? Talvez um pouco. Especialmente num cenário de estados e municípios quebrados, e de um teto de gastos que ameaça seriamente transformar em pó duras conquistas da área (penso sobretudo no PNE). Mas, se a gente fizer uma retrospectiva histórica – aquela coisa de focar no filme e não na fotografia –, a trajetória é de avanço. Muito se fala da Educação brasileira de antigamente como uma época gloriosa, “no meu tempo é que era bom”. Ah, é? No dourado ano de 1960, a taxa de escolarização era de apenas 33% (chegamos a 98,5% em 2014). O analfabetismo, por outro lado, era de 40% (hoje é 8%, e ainda não está bom). O autoritarismo era palavra de ordem, não havia avaliação para medir a qualidade do ensino e o termo inclusão ainda nem havia sido inventado.
“Mas hoje ninguém aprende nada na escola pública!”, dizem os pais cujos filhos estudam ou estudaram em escolas… particulares! É verdade que as avaliações externas apontam um fosso. Mas um olhar de lupa mostra que o buraco é menor do que se imagina. Quando se compara a diferença entre escolas públicas e particulares que atendem a mesma clientela – alunos pobres –, o desempenho é parecido. Ou seja, a vantagem dos colégios particulares está mais ligada a outros fatores, como nível socioeconômico e acesso precoce à cultura escrita, do que à qualidade do ensino.
Obstáculos existem – óbvio. Mas o cotidiano da rede pública está longe de ser o octógono de MMA descrito por alguns sites e jornais. Em geral, essa é uma visão de fora do mundo da Educação. E aqui vai um mea culpa, pois a mídia tem bastante responsabilidade na disseminação dessa perspectiva torta. O lema de muitos jornalistas é resumido por uma frase em inglês: bad news are good news. Notícias de desastres, brigas, confusões é que costumam ganhar as manchetes. São “boas” porque vendem mais. Não representam o todo, só uma pequena parte – a mais feia, quase nunca a mais verdadeira. (Aliás, depois de olhar tantas edições para preparar este número 300, dá conforto ver que NOVA ESCOLA trilhou um caminho diferente. Iluminou bons exemplos, valorizou educadores, indicou alternativas. Esteve mais a serviço da solução do que do lado do problema.)
Se em algum momento houve uma catástrofe na Educação pública, ela ficou no passado ou na cabeça de quem não conhece sua realidade. Ou nos textos de quem lucra com o caos. Ainda não está bom, há muito por fazer, mas não vamos nos deixar paralisar pelo discurso da dificuldade. Façamos dela a razão para ir além. mais informações aqui Rodrigo Ratier –
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