Serras, lagos e rios fazem de Monte Alegre, no oeste paraense, um achado em meio à imensidão verde e um convite aos aventureiros e amantes da natureza. A maneira mais rápida de se chegar à cidade partindo de Belém é por via aérea, com para obrigatória no município de Santarém. De lá saem lanchas e balsas que fazem viagens diárias com duração média de três horas pelo rio Amazonas, a um custo de R$ 55,00 a passagem – sendo que de balsa o desembarque é feito na localidade de Santana do Tapará. Depois é só seguir pela PA-255, recém-inaugurada pelo governo do Estado, e percorrer 86 quilômetros até o centro de Monte Alegre em uma viagem de aproximadamente uma hora e meia. A cidade dispõe de hotéis e pousadas com diárias que variam entre R$ 80 e R$ 150.
Entre os atrativos turísticos do município está o Parque Estadual Monte Alegre (Pema). A visita à unidade de conservação integral, criada por lei estadual, é a opção mais indicada para quem curte ecoturismo. Lá é possível encontrar sítios arqueológicos que guardam artes rupestres – pinturas e gravuras registradas em rochas – comprovando que a existência humana naquela região remonta há pelo menos 11 mil anos. Os mais conhecidos estão localizados na Serra do Ererê e na Serra do Paytuna, distante cerca de 40 quilômetros do centro da cidade.
O acesso é feito pela PA-255. No Km 12 da rodovia basta seguir por um ramal que leva ao Parque. Nessa área, o trajeto é feito apenas por carros com tração nas quatro rodas, pois a estrada não é pavimentada, e sempre acompanhado de um guia. Na cidade não é difícil achar quem possa orientar esse tipo de passeio. O aluguel de veículos custa em média R$ 500 e o guia R$ 100. O PEMA está inserido na Área de Proteção Ambiental Paytuna e por isso é necessário pedir uma autorização (sem burocracia) ao Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio), responsável pela gestão da área.
O Instituto tem um projeto destinado à melhoria da infraestrutura do local para permitir a visitação do público aos sítios arqueológicos do Pema. “Nossa intenção é tornar esse local uma espécie de museu e criar um centro de visitação estruturado, com estacionamento e trilhas interativas, a partir de sete roteiros turísticos. Além disso, haverá auditório e salas ilustrativas onde serão exibidas as pinturas e a história arqueológica do Parque”, explicou Otávio Peleja, gerente das Unidades de Conservação da Calha Norte I (Pema e APA Paytuna).
O Ideflor-bio também atua na capacitação de moradores de 24 comunidades localizadas na APA. “Realizamos a primeira experiência no ano passado e a intenção é expandir essa ação. Esse é o tipo de iniciativa que gera renda para os moradores, pois uma vez que estão inseridos em uma área de proteção ambiental integral eles ficam impossibilitados de desenvolverem outras atividades”, complementou Peleja. A APA Paytuna busca conservar e recuperar os ecossistemas naturais, com vistas à melhoria da qualidade de vida da população local, por meio de atividades pautadas na conservação ambiental, ordenamento territorial e sustentabilidade produtiva.
A subida às serras do Pema exige disposição e espírito aventureiro. Alguns trechos são bem íngremes. Para maior conforto e segurança é aconselhável começar a caminhada bem cedo, quando as temperaturas ainda estão amenas, e usar roupas apropriadas, como calça jeans ou legging, camisa de manga comprida – para evitar picadas de mosquitos e arranhões pelas trilhas – , sapato com solado de boa aderência, chapéu e protetor solar. Como a caminhada é longa, assim como as escaladas, é indicado levar uma alimentação leve, como frutas e barras de cereais, além de muita água, pois o calor é intenso.
Entre os pontos de maior visitação na Serra está a Pedra do Pilão, um dos principais atrativos turístico desse lugar. De lá é possível ter uma visão panorâmica de toda a região, tendo ao sul, a beleza da várzea, com seus lagos, e ao fundo a grandeza do rio Amazonas, uma paisagem digna da mais silenciosa contemplação. A pedra é uma das mais belas formações geológicas da região e resulta de um processo de erosão provocada pelo vento sobre os arenitos. Já a Pedra do Mirante possibilita ao visitante uma visão panorâmica, em 360º, de todo o espaço. Uma paisagem de tirar o fôlego até de quem já está acostumado a essas jornadas.
Outro destaque é um grande painel com surpreendentes exemplos de arte rupestre de Monte Alegre. O espaço está localizado nas proximidades da Pedra do Pilão, na encosta da serra do Paytuna, e entre os elementos que podem ser vistos estão desenhos e figuras geométricas, com destaque para um conjunto de quadrados que se cruzam e lembram um calendário.
Uns minutos a mais de caminhada por uma trilha de fácil acesso se chega à Gruta da Pedra Pintada, que conserva outros vestígios da presença dos chamados “paleoíndios”. A caverna tem cerca de 120 metros de altura em relação ao nível do rio Amazonas, e além de iluminada é bem ventilada. Os painéis com pinturas rupestres foram alvo de estudo da antropóloga norte-americana Dra. Anna Roosevelt, a partir de 1991. Os trabalhos representam a primeira informação, cientificamente comprovada, sobre a presença desses seres primitivos na região amazônica.
Depois de seguir por mais um ramal do Pema, chega-se à base da Serra da Lua, que tem um dos caminhos mais íngremes a se percorrer, com cerca de 100 metros de desnível. As pinturas desse sítio se estendem por mais de 200 metros ao longo de um paredão na Serra do Ererê. Entre os desenhos que se destacam está um círculo com cerca de um metro de diâmetro, que segundo os habitantes da região simboliza a lua. Também podem ser observados desenhos de mãos e círculos com raios ou caudas, em tons vermelho e amarelo. À frente é possível contemplar a Serra do Sol, outro atrativo local.
Pelo caminho, entre trilhas e ramais, ainda na Serra do Ererê, o visitante se depara com monólitos, formações rochosas de aparências exóticas resultantes de erosão eólica. Entre as esculturas impressas na rocha estão figuras que lembram animais ou plantas. As mais conhecidas são a Pedra da Tartaruga, localizada entre as serras do Ererê e do Paituna, e a do Cogumelo, no oeste da serra do Paytuna.
Outra gruta que encanta é a do Itatupaoca. O nome tem origem indígena e significa “casa rochosa de Deus” ou “igreja de pedra” (Ita = pedra / tupã = Deus / oca = casa). O lugar tem um “quê” de mágico. A entrada mede 9,5m de altura e está a aproximadamente 120m de altitude em relação ao nível do rio Amazonas. A subida não impõe tantas dificuldades e a visão do alto também é recompensadora.
Depois de uma longa visita pela serra, vale a pena visitar a gruta e se deliciar com o vento que circula pelo interior, funcionando como uma espécie de ar-condicionado natural. Do teto caem gotas de água fria que também ajudam a reduzir a temperatura ambiente em meio ao intenso calor. Este cenário de filme, com grutas, cavernas e paredões, faz de Monte Alegre um dos mais importantes sítios de estudos geológicos na Bacia do Amazonas.
Na região também é possível encontrar cachoeiras e igarapés. Na serra do Itauajuri, ponto de maior altitude de Monte Alegre, com quase 400 metros, muitas delas são avistadas. Entre as mais conhecidas e de fácil acesso está a cachoeira das Pedras. O educador físico Antônio Henrique do Nascimento, está retornando a sua cidade natal e aproveitou para conhecer melhor a região. “Aqui tudo é muito lindo. Não é qualquer lugar que tem um espaço como este em que você pode desfrutar de um banho de cachoeira, ainda mais por não ser tão longe da cidade. Quem vier ao município precisa conhecer isso”, recomendou.
Além da cachoeira, ainda é possível desfrutar da chamada “Lagoa Azul”, formada pelo Igarapé do Janai, entre outras com acesso por
meio de trilhas entre rios e floresta. Foi o que fez o funcionário público Geraldo Tavares, que trouxe a família de Belém para apreciar as belezas da região. “Conheço outros locais dentro e fora do Brasil, mas esse é diferente. Monte Alegre não se destaca só pela natureza, mas pela geologia, que é impar, e pelas pinturas rupestres. Este ano deixei de ao Chile para visitar esse lugar, e não me arrependi”, confessou Tavares.
A serra está localizada a 14 quilômetros da cidade. O acesso é relativamente fácil, pela PA-423, que não é asfaltada, mas cujo curso é bem tranquilo. “O Pará é tão grande e tão diverso. Você tem belezas naturais que não encontra em lugar nenhum. Todo o paraense deveria conhecer pelo menos uma vez a região do oeste do Pará. Não só aqui, mas Santarém, Alenquer e outros municípios”, sugeriu Geraldo Tavares.
O turista fez o passeio das cachoeiras orientado por Roberto de Deus, morador de Monte Alegre, em uma caminha de aproximadamente três horas. Para o guia, que atua na região há 22 anos, essa é uma experiência única e que permite um aprendizado constante. “As pessoas me questionam se não me canso de trabalhar com isso eu respondo que não. A cada dia aprendo alguma coisa, conheço uma planta diferente, um animal deferente. Aqui é a minha universidade e meu curso já tem 22 anos. Guio pessoas comuns e especialistas e sempre há uma troca de informações e experiências”, comentou.
Já mais próximo do centro da cidade também existe um espaço cultural/literário muito interessante, o Museu e Biblioteca Professora Sinhazinha. Antônio Leal e sua esposa fundaram o local, onde é possível encontrar livros e objetos antigos, cerâmica dos povos primitivos da Amazônia e até uma máquina de impressão que pertenceu ao jornal “O Monte Alegre”, com mais de 80 anos, doada ao dono do periódico pelo general Magalhães Barata. O espaço funciona na casa de Leal e é aberto para visitação. Basta chegar lá que eles fazem questão de contar a história de tudo.
Como chegar:
Saindo de Santarém, o transporte é feito em lanchas rápidas com saídas diárias. A passagem custa R$ 55,00 e a viagem dura cerca de três horas. Também é possível fazer o trajeto em balsas, com desembarque em Santana do Tapará. Depois é só seguir pela PA-255 e percorrer 86 km até o centro de Monte Alegre em uma viagem de aproximadamente 1h30.
Onde ficar:
As pousadas e hotéis de Monte Alegre variam entre R$ 80 e R$150, de acordo com o número de ocupantes.
Alimentação:
A região é rica em pescado de água doce e os estabelecimentos oferecem um cardápio variado, com destaque para o pirarucu, tambaqui e tucunaré. Há restaurantes com alimentação bem acessível onde o quilo custa a partir de R$ 39,00.
Por Lidiane Sousa
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