Joana D’arc Felix de Souza, caçula de 3, acompanhava a mãe em seu trabalho de empregada doméstica. Para ficar quietinha, sua mãe lhe ensinou a ler, aproveitando os jornais da casa da patroa. Então, aos 4 anos ela já lia todos os jornais que tinham na casa. Segundo suas palavras: “Um dia, a diretora da escola Sesi foi visitar a dona da casa e perguntou se eu estava vendo as fotos do jornal. Respondi que estava lendo. Ela se surpreendeu, me pediu para ler um pedaço e eu li perfeitamente. Coincidentemente, era começo de fevereiro e ela sugeriu que eu fosse uns dias na escola. Se eu conseguisse acompanhar, a vaga seria minha. Deu certo e com 14 anos eu já terminava o ensino médio”
Seu pai trabalhava com curtume, processamento de couro cru para o mercado, e foi com o exemplo dele que ela desenvolveu o gosto por esta aptidão, decisiva para que ela escolhesse o curso de Química nos estudos superiores, pois estava acostumada a ver profissionais da área atuando no trabalho com o couro.
Com material de cursinho emprestado, ela passou a estudar noite e dia até entrar na Unicamp. A fome fez parte de seus estudos, uma vez que as facilidades são direcionadas normalmente a quem não precisa. Joana, como previa, passou muita dificuldade em Campinas. O dinheiro que recebia do pai e do patrão dele permitia que ela pagasse somente o pensionato onde morava, as passagens de ônibus e o almoço. Sua situação só melhorou a partir do segundo semestre, quando começou a iniciação científica e teve o auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
“Quando recebi a primeira bolsa, corri para a padaria e gastei uns 50 reais em doces para matar a vontade”, ri.
Joana concluiu mestrado e doutorado em Campinas – este último com apenas 24 anos – antes de ir para Harvard fazer seu pós-doc. Um professor solicitou que ela aplicasse em seu trabalho um problema brasileiro, e ela optou pelos resíduos de curtume nas fábricas de calçados – desenvolveu a partir destas substâncias poluentes um fertilizante organomineral.
A morte de sua irmã de 35 anos por parada cardíaca – mesma causa do falecimento do pai – foi o motivo que a trouxe de volta ao Brasil, para cuidar da mãe e de quatro sobrinhos deixados pela irmã. Novamente em Franca, a cientista procurou oportunidades em curtumes da cidade natal até que recebeu o convite para se tornar professora da ETEC em 2008. Joana ainda comandou pesquisa que resultou na produção de um tecido ósseo feito a partir de materiais também encontrados na natureza: escamas de peixes e colágeno de curtume.
Como resultado deste trabalho, a professora e cientista já soma 56 prêmios na carreira. Destaque para a eleição de ‘Pesquisadora do Ano’ no Kurt Politizer de Tecnologia de 2014, concedido pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abquim), além de projetos vitoriosos em concursos do Conselho Regional de Química do Estado de São Paulo e da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), que acontece anualmente na USP (Universidade de São Paulo).
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