No final de maio último, o delegado da Polícia Federal Antônio Carlos Cunha Sá, ou apenas Tony Cunha, 34 anos, licenciou-se da função de chefe da Delegacia Regional da PF em Marabá, cargo que havia assumido em 5 de setembro de 2013. Cunha não é um paraquedista. Para quem não sabe, seu avô, Raimundo Cunha, havia sido vereador de Marabá por quatro mandatos entre as décadas de 1960 e 1980 e sua mãe é nativa do Cabelo Seco. Os pais de Cunha cresceram nesta cidade e o delegado só não nasceu aqui porque o parto de sua mãe era de alto risco e ela precisou ser levada, no final da gestação, para Belém, onde deu à luz.
Sua infância foi toda vivida em Marabá e apenas no ensino médio foi estudar em Fortaleza, onde também graduou-se em Direito pela Unifor. Em 2004, aos 21 anos de idade, foi aprovado em concurso e tomou posse na Polícia Federal em Marabá após ser aprovado no curso preparatório. Dos 10 anos de carreira, sete foram dedicados à cidade de sua família, com um pequeno intervalo de atuação em Campinas-SP, onde coordenou uma força-tarefa de combate ao crime organizado.
Na entrevista a seguir, concedida em sua casa na última semana, Tony Cunha revela por que decidiu mergulhar na carreira política, quando a de delegado da Polícia Federal oferece um bom salário e status privilegiado, principalmente a partir da operação Lava Jato.
Jornal CORREIO – Quando surgiu esse seu interesse pela política partidária?
Tony Cunha – Meu objetivo é concorrer ao cargo de prefeito de Marabá. Sou filho desta terra – apenas nasci em Belém porque os hospitais de nossa cidade não tinham condições estruturais de receber um bebê prematuro. Fiquei sob cuidados especializados lá e, depois, felizmente, retornei a Marabá.
Quando passei no concurso de delegado, decidi tomar posse na Delegacia de Marabá. Depois, fui removido para a cidade de Campinas, onde coordenei a força tarefa de combate a crimes organizados, mas ficava aquele sentimento de que precisava fazer mais por minha cidade natal. Eu havia feito alguns trabalhos aqui na primeira etapa da carreira, mas precisava oferecer mais, devolver um pouco mais para minha terra. Em resposta a esse anseio, fui convidado pelo superintendente da Policia Federal do Pará para chefiar a Delegacia de Marabá, que abrange 23 municípios do sul e sudeste do Estado.
CORREIO – Que balanço você faz de sua gestão à frente da PF em Marabá nos últimos três anos?
Tony Cunha – Trabalhamos intensamente desde 2013 até este ano. Conseguimos reorganizar o modelo de funcionamento, melhorar as condições de trabalho e estrutural, incentivando os demais policiais, porque o trabalho da policia é em equipe e acreditamos que trata-se de uma contribuição expressiva. Tenho certeza que a PF vai continuar muito bem, estando eu licenciado ou não, voltando ou não. Se eu voltar, um dia, terei uma carreira extensa de 20 anos pela frente e tendo a mesma abnegação que sempre tive.
Considero-me satisfeito, realizado, inclusive na PF, mas não sei onde a vida pode me levar ou qual cargo posso ocupar, dentro ou fora da polícia. Sinto-me realizado por ter sido chefe da Polícia Federal na minha cidade, por ter conseguido mostrar que é possível fazer um bom combate e focar, principalmente, no combate à corrupção, que para mim são o pai e a mãe de todos os crimes. A gente atua no tráfico de drogas e outras áreas, mas pedi aos colegas que conduziram operações importantes, que priorizassem o combate à corrupção. como já é a norma da PF.
CORREIO – Caso candidate-se, de fato, o que acha que pode oferecer de diferencial para a comunidade de Marabá no como prefeito?
Tony Cunha – A contribuição que posso dar ainda mais, além do meu trabalho na policia, é que estou com os direitos políticos em vigor, tenho um passado absolutamente limpo – desafio quem prove o contrário. Então, achei que deveria realmente evitar que os desmandos ocorressem. Acho que posso oferecer uma escolha com total respeito aos outros pré-candidatos – não entro no mérito dos nomes – mas tenho um direito legal legítimo, democrático e constitucional de oferecer meu nome para análise popular.
CORREIO – Então sua campanha para chegar à Prefeitura terá como foco o combate à corrupção?
Tony Cunha – Essa será, de fato, a principal bandeira. A gente sabe que as grandes transformações estão na política. Se ela é ou não, hoje em dia, ocupada por pessoas que não mereciam estar lá, precisamos oferecer nosso nome para mudar essa realidade. Não adianta um combate intenso ao crime se as pessoas éticas não ocuparem o espaço da política, que é um espaço da mudança, da transformação. É lá onde a gente pode realmente combater as raízes dos problemas sociais. Em grande medida, o crime e a violência urbana estão ligados à ausência das condições sociais adequadas, à má aplicação dos recursos públicos e à corrupção.
Foi esse o proposito principal de oferecer meu nome para avaliação da população de Marabá. Eu acredito que tem jeito, que é possível formar uma boa equipe, ter seriedade, mas é necessário saber aplicar os recursos públicos adequadamente e melhorar a vida das pessoas.
CORREIO – O município de Marabá está mergulhado numa crise financeira grave, com atraso de salários e prefeito afastado à poucos meses de uma eleição sem clareza do que pode acontecer. Acha que esse cenário pode lhe favorecer?
Tony Cunha – A política deve ser a atividade de alguém que quer contribuir. As dificuldades existem e sempre existirão. Eu não acredito em “Messias”, não existe um salvador da pátria neste caso. Podem existir políticos comprometidos que encarem o problema, que ajustem as contas do município, apliquem melhor os recursos para tentar sanar os problemas, resolver e dar o melhor para a população.
O discurso de que o problema é muito grave, que há ausência de recurso e que a situação não é boa, não pode ser suficiente para quem oferece seu nome para contribuir. Se eu falar que não vou oferecer meu nome por conta das circunstâncias da cidade ou da situação econômica, pode ser que eu não seja tão sincero, meu objetivo é contribuir.
Não importa o tamanho da fera, nós precisamos entrar lá para domá-la e dar nosso melhor, obviamente com a ajuda de pessoas éticas, de uma grande equipe, para realmente melhorar a vida das pessoas, que é o fio principal da política.
O partido que me acolheu (Rede Sustentabilidade) tem como representante nacional uma figura que a gente tem uma convicção absurdamente honesta, que é a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva. O problema do Brasil não é um partido político, mas a necessidade de uma reforma política. Sei que tem gente séria nos demais partidos. A Rede Sustentabilidade me recebeu muito bem, tive um encontro com Marina, em Belém, e com alguns integrantes da Executiva Nacional e estadual. Fui muito bem acolhido, referendaram meu nome, companheiros da Rede de Marabá – que é um partido que acabou de nascer na cidade – também reconheceram em mim a possibilidade de levar esse projeto adiante.
CORREIO – Você é relativamente conhecido nas camadas A e B de Marabá. Qual a estratégia para se projetar entre C e D?
Tony Cunha – Eu costumo dizer que há dificuldade para um cidadão ético, desprovido do comando de um partido e de recursos ocupar o espaço da política. A legislação eleitoral praticamente inibe isso. Nós temos o coeficiente partidário eleitoral que faz com que um cidadão mais votado não ocupe a cadeira. Uma pessoa desconhecida deveria ter mais tempo de TV e não menos para explicar o que pretende, seus projetos, apresentar suas qualidades, mas é o contrário. O pequeno, o iniciante tem mais dificuldade. Eu acho que todos deveriam ter a mesma possibilidade, as mesmas condições de apresentar seu nome e projetos para a comunidade, porque é o que se espera. Eu certamente vou percorrer a cidade, ouvir as pessoas, entender os reclames e discutir soluções. A gente vai caminhar onde puder, porque a simpatia das pessoas não se pede, se conquista.
CORREIO – Uma nota assinada por um suposto policial federal anunciava, há duas semanas, uma grande operação da PF em Marabá, com várias prisões de autoridades. De fato, a Operação “Asfixia” ocorreu no dia 14, conforme profetizado. Ela teve suas digitais, embora licenciado?
Tony Cunha – A minha posição é clara: eu não falo mais da minha atividade policial, não trato de casos específicos, não interfiro e não respondo em questão atinente à PF, por questões éticas. Não misturarei as coisas enquanto estiver dedicado à atividade política. Tenho muito respeito pela minha instituição e jamais misturaria, porque é inadmissível e seria uma falta de respeito grande da minha parte.
Eu não presido essa investigação, nunca presidi, estou licenciado da PF, o que posso falar dela é que foi mais um grande trabalho da PF na região, certamente algumas pessoas levianas, utilizando das velhas práticas usam desses subterfúgios absolutamente ultrapassados e até ilegais para o estado democrático. O que podemos constatar é que o que estava escrito por esse sujeito anônimo é algo despropositado, tanto que os fatos narrados por ele não têm qualquer relação com os acontecimentos. É um completo absurdo que ri muito. É muita infantilidade e irresponsabilidade.
(Ulisses Pompeu)
Comentários com Facebook