As dicas de um ex-agente do FBI para detectar mentiras de políticos
Entrevistas e debates eleitorais são oportunidades para que a realidade seja exagerada ou deliberadamente distorcida – mas, segundo especialista, há como perceber esses momentos.
Informações duvidosas divulgadas por candidatos não são uma raridade nas entrevistas e debates eleitorais.
Seja na reta final da corrida à Casa Branca ou no segundo turno das eleições municipais brasileiras, a disputa pelo voto tende a elevar a quantidade de meias verdades (e em alguns casos inverdades) ditas pelos postulantes a cargos públicos.
Mas há como identificar essas tentativas de distorcer a realidade, garante o especialista em interrogatórios Joe Navarro, que calcula ter conduzido cerca de 13 mil deles em sua carreira como agente do FBI, a polícia federal americana – em parte considerável, diz, quem estava do outro lado da mesa tentava enganá-lo.
Antes de se aposentar, em 2003, ele também deu aulas de técnicas avançadas de contraterrorismo em interrogatórios para colegas da agência.
Arrancar a verdade é uma de suas especialidades – abaixo, Navarro dá quatro dicas que podem ajudar espectadores e entrevistadores a identificar mentiras eleitorais.
1) Linguagem (inclusive corporal) realmente diz muito
“A principal dificuldade para identificar mentiras é que todos nós mentimos desde muito cedo”, diz Navarro. “Como espécie, somos muito ardilosos – se você quer chamar a atenção da sua mãe, você pode fingir que está com dor.”
A maneira como uma frase é construída pode indicar se alguém está tentando vender uma mentira. O mesmo pode ser dito da forma como ela é contada.
“Quando você faz uma determinada pergunta, ela causa algum desconforto psicológico? Se sim, como o candidato se manifesta gestualmente? O corpo revela em tempo real seu desconforto psicológico. Os lábios foram contraídos? O candidato começou a tocar no pescoço?”, revela o ex-agente do FBI.
2) Instigue a mentira para desmascará-la
“O que tentamos fazer é começar com perguntas amplas”, explica Navarro, que atualmente hoje como escritor e palestrante.
“‘Qual a sua experiência no assunto?’ ‘O que você acha disso?’ Você não revela que conhece o assunto que está perguntando. Eu deixaria os candidatos responderem à vontade e quando a resposta estivesse completa os cortaria de forma ríspida: ‘Não, essa informação não é precisa. Não correspondente com a realidade pelo seguinte…'”
Ele segue: “Ao cortar a fala do candidato, você o coloca em uma desvantagem psicológica que até então ele não tinha”.
3) Conheça os fatos e ignore o relógio
“Criar um clima de animosidade não é o ideal, mas é dever do jornalista não tolerar enrolação. Em determinado momento, você precisa deixar claro que não irá tolerar esse comportamento e que o assunto é sério.”
Uma recomendação que Navarro dá para entrevistadores, quando eles estão diante de uma mentira, é não seguir em frente enquanto o tema não for esclarecido. Isso é capaz de desestabilizar o candidato que deseja discutir outros assuntos enquanto o tempo está correndo.
“Um comportamento como esse seria revolucionário”, completa.
4) Saber lidar com respostas raivosas
“É preciso manter em mente que, ao lidar com pessoas de alto escalão, sempre haverá muito narcisismo, comentários autocongratulatórios e falta de habilidade para lidar com questionamentos.”
O especialista complementa que “até mesmo os candidatos mais simpáticos apresentam um pouco desse comportamento. Então a reação normalmente é agressiva. O interlocutor inteligente vai tentar encontrar uma resposta diferente. Mas o que minha experiência indica é que os entrevistadores estão despreparados para contra-argumentar e ficam preocupados com o relógio”.
O crucial, lembra Navarro, é não ser levado pela emoção. “A pessoa mais calma provavelmente sairá por cima. Os entrevistadores serão tão avaliados quanto os próprios candidatos. Os espectadores se perguntam o quanto eles vão tolerar a situação”, finaliza.
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