Depois de 12 horas sentado no banco dos réus, o ex-agente de trânsito Diógenes dos Santos Samaritano ouviu a sentença que o considerou culpado pelo feminicídio da esposa Dayse Dyana Sousa e Silva, de 35 anos, ocorrido na manhã do dia 31 de março de 2019, na residência do casal no bairro Parque dos Carajás, em Parauapebas.
O crime ganhou grande repercussão na época pela forma como aconteceu. À princípio o caso foi comunicado para a polícia como um suicídio, mas os investigadores da divisão de homicídios da Polícia Civil estranharam vários elementos encontrados na residência e diversos hematomas no corpo da vítima que derrubaram esta versão apresentada por Diógenes, que passou a ser tratado como principal e único suspeito pelo crime.
De acordo com os autos do processo, Dayse vivia um casamento abusivo e já tinha sido vítima de várias agressões verbais e físicas. Em uma das ocasiões, Diógenes foi denunciado por lesão corporal com base na lei Maria da Penha por quebrar um dos braços da esposa. Por conta da agressão, o casal se separou, mas acabou reatando meses depois.
Em depoimento no julgamento para o Juiz Cláudio Hernandes Silva, Diógenes inicialmente negou ter tirado a vida da esposa, assim como negou também que teria agredido ela na noite anterior ao crime na praça de alimentação do shopping da cidade.
Segundo ele, naquela noite, ele estava no shopping assistindo um jogo de futebol com um amigo enquanto o filho do casal, de quatro anos, estava num espaço recreativo, quando Dayse chegou ao local e depois de alguns momentos, ela teria dito que tinha algo para contar que o marido não iria gostar. A conversa, segundo Diógenes, era que tinha saído do resultado da sentença que o condenou pela lesão corporal contra ela, e que Dayse tinha decidido se separar novamente.
No mesmo depoimento, Samaritano disse que depois que saiu do shopping, ele continuou bebendo numa conveniência porque estava chateado com a sentença e chegou em casa embriagado na manhã do dia seguinte, 31 de março.
Numa tentativa de comover os jurados, o réu disse no mesmo depoimento que foi Dayse quem começou as agressões físicas por conta de ciúmes. Até este momento do depoimento, Samaritano ainda negava que tinha sido o autor do crime e a defesa ainda trabalhava com a versão de suicídio.
Logo depois de ver o corpo da vítima no chão, ele contou que, desesperado, ligou para um amigo advogado, pedindo que a polícia fosse avisada.
Depois que Dayse já estava morta, Diógenes saiu da cena do crime, deixou o filho na casa de uma babá e foi ao escritório de advocacia no bairro Cidade Nova se encontrar com dois advogados. Um deles ficou ele e o outro foi acompanhar as diligências policiais.
Questionado por um dos jurados o porquê ter ligado para um advogado em vez de ligar para uma ambulância quando se deparou com o corpo da mulher, ele disse que tentou chamar socorro pelo 192 mas não conseguiu.
Outra pergunta que pesou muito no resultado para a condenação de Diógenes foi o desaparecimento das imagens das câmeras de segurança que filmaram todo o ocorrido. E naquela resposta, Diógenes deu a entender que as imagens eram comprometedoras demais.
Segundo o juiz, não há registro de apreensão do DVR, contendo as gravações do que aconteceu naquele dia.
Na tese da acusação, o responsável pelo sumiço do DVR e de outros aparelhos eletrônicos, foi o primeiro advogado dele, para destruir provas, o que configura crime e fere o código de ética da OAB.
Depois de muitas horas, veio a revelação. Diógenes pediu para falar, confessou o crime e disse que está muito arrependido por tudo que aconteceu.
Samaritano foi condenado há 21 anos de prisão, mas o juiz reduziu a pena em 1 ano pela confissão dele, ficando em 20 anos de reclusão. Como Diógenes já cumpriu 4 anos, 10 meses e 27 dias de maneira preventiva, terá mais 15 anos, um mês e três dias de reclusão. inicialmente, em regime fechado.
Na mesma sentença, o magistrado ainda decretou à perda do cargo de agente de trânsito do departamento estadual de trânsito (DETRAN).
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