Durante o 2° Enera, foram pensadas formas de construção coletiva da luta contra o fechamento de escolas no campo e compartilhadas práticas pedagógicas inovadoras.
O 2° Encontro de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária (Enera) ocorreu entre os últimos dias 21 a 25 de setembro, na cidade de Luziânia (GO). O evento, organizado pelo MST, reuniu cerca de 1500 educadores de todo o país e foi um espaço para debater o atual momento da educação pública brasileira, especialmente no contexto da luta no campo.
Em painéis temáticos, autoridades convidadas apresentavam suas ideias sobre os principais desafios da educação brasileira e para a construção de um projeto educacional que garanta a formação dos indivíduos numa perspectiva de libertação e transformação.
Os convidados relembraram também o primeiro Enera, realizado em 1997 e, a partir disso, consideraram os avanços conquistados na área educacional e os desafios que ainda precisam ser superados.
A professora da Universidade de Brasília (UnB), Mônica Molina, vê o primeiro Enera como o “ventre” da discussão sobre a educação no campo. O encontro de 2015 seria “a sementeira de mudanças que, com novas lutas, traz avanços na construção da igualdade e justiça social”.
A mesa de abertura do encontro contou com a presença do ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, que criticou o fechamento massivo das escolas no campo e, em um gesto simbólico, assinou uma portaria que fortaleceria o sistema educacional nas zonas rurais.
“Não podemos admitir que esse número de escolas sejam fechadas sem que existam estudos preliminares que indiquem o impacto que isso causa nas comunidades do campo. Comprometo-me a criar grupos de estudo e apoio para que essa lógica seja quebrada”, afirmou.
Mercado
Outra temática abordada foi a mercantilização da educação – a compra de instituições educacionais por grandes grupos empresariais-, apontada como um dos maiores problemas a serem enfrentados pelos educadores brasileiros. Roberto Leher, reitor da UFRJ, citou os casos das Organizações Kroton e Anhanguera que, juntas, teriam o mesmo número de alunos de todas as universidades federais do país, cerca de 1,2 milhão.
Segundo Leher, a educação deve estar sob domínio do poder público e não privado. “Temos que manter objetividade na luta política, não podemos passar a formação das juventudes para as corporações”, enfatiza.
Soberania alimentar
O debate sobre a produção de alimentos saudáveis e o papel das escolas no processo da soberania alimentar norteou os trabalhos de uma das mesas do encontro. Adalberto Martins, do setor de Produção do MST, defendeu que a soberania alimentar e a produção de alimentos agroecológicos estejam incorporados ao abastecimento popular e ao trabalho cooperativo, envolvendo estruturas do campo e da cidade.
“É revolucionário pensar na produção de alimentos saudáveis com o abastecimento popular, mas para isso precisamos ter, além de mão de obra e terra, rumo, projetos e decisão política”, argumentou.
MST e educação
O 2° Enera também se configurou como um espaço de socialização das práticas pedagógicas do MST em todo o país. Nesse sentido, cerca de 13 grupos de trabalhos agregaram as inúmeras experiências realizadas em áreas de assentamentos e provocam debates sobre o papel da educação enquanto um espaço que possibilite a emancipação humana.
Um exemplo, é o projeto “Educação, luta, arte e brincadeira das crianças maranhenses” que busca socializar as diferentes dimensões educativas com as crianças Sem Terra do Maranhão. As questões da luta pela terra e da valorização da cultura local são trazidas para dentro das escolas com o incentivo a arte, dança, música e produção literária.
“O resgate da cultura como um patrimônio popular também é uma preocupação do Movimento Sem Terra, já que a educação é um instrumento fundamental para a emancipação do sujeito. A educação no campo, entretanto, deve ser diferenciada, pois deve ser protagonizada pelos próprios sujeitos do campo“, disse Maria Alzerina Montelo, coordenadora do projeto.
Ato Político
Os 1.500 educadores marcharam pela Esplanada dos Ministérios na manhã da última quarta-feira (23), em Brasília. O ato iniciou com uma intervenção em frente ao Ministério da Educação (MEC) para denunciar o fechamento das escolas do campo e a mercantilização da educação pública no país.
Para Divina Lopes, do setor de educação do Movimento, vivemos num período de crise em que o capital precisa pensar novas formas de se reproduzir e uma dessas frentes é o avanço cada vez maior sobre a educação.
“É inadmissível que no último período 37 mil escolas tenham sido fechadas no campo. Não podemos aceitar que no Brasil ainda existam mais de 13 milhões de analfabetos. O avanço do agronegócio e da lógica mercantil dos empresários da educação tem que ser barrado. E hoje, o 2° Enera se coloca em luta com um ato de denúncia, mas também, marchamos em defesa de uma educação pública e de qualidade para todos os brasileiros”, afirma.
Após a marcha, os educadores realizaram uma ocupação no Ministério da Agricultura para denunciar o uso abusivo de agrotóxicos pelo agronegócio e a destruição ambiental e social que este modelo provoca no brasileiro.
Por Nadine Nascimento
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