À luz de Marcos 7, 1-8. 14-15. 21-23
Impuras tenho minhas mãos, sim
Os meus pés e olhos também.
e meus ouvidos e lábios
e até a alma tenho impura.
Porque eu não me escondi
da vida e de suas misérias
na torre limpa e imaculada
das pessoas puritanas.
Porque eu acariciei a dor das mães
e abracei a fome de uma criança.
e chorei ao lado de um amigo que estava morrendo e amaldiçoei a insensibilidade de tanta gente.
Porque li livros que em algum tempo estavam queimando e celebrei liturgias reivindicando as bruxas e cantei a marcha orante do povo humilde. E porque as cores diversas do arco-íris
pintaram o meu espírito de liberdade e de alegria.
Porque eu desouvi conselhos “piedosos” reclamando prudência e ganhei o ódio de “pessoas de bem”que lavam suas mãos e consciências todos os domingos em missas ou em cultos sem máculas.
Porque eu bebi o cálice amargo dos insultos e do desprezo por pensar diferente e escrever o que sinto e acredito a partir de uma teologia e filosofia insubmissa e despreconhecida.
Minhas mãos e minha vida estão cheias de impurezas e assim, manchado, sujo e às vezes partido em pedacinhos tento viver a fé do mestre questionado.
Questionado:
- pelas mentes puritanas daqueles que nada fazem,
- pelas almas puritanas crédulas sem amor,
- pelas mãos puritanas sem solidariedade,
- pelos puritanos corações sem misericórdia,
- pelas teologias puras que justificam morte e maus tratos e suas imaculadas concepções dogmáticas de secretária.
- pelas pura liturgias de rituais repetidos e vazios.
- pelos pés limpos que nunca pisaram na lama.
da vida sofrida de quem quase nem come.
Porque em suas mesas falta o que em outras sobra.
Confesso-me crente impuro daquele que nasceu em um curral com cheiro de estrume e que morreu sujo e sozinho numa cruz amaldiçoada.
_nádiO batistA, in Baiúca de Poesias
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