Até o final da tarde de ontem (16), já chegava a 66 quilômetros o engarrafamento na rodovia PA-275, que está interditada desde terça-feira (15), na entrada da cidade de Curionópolis, no sudeste do Pará, pelo Movimento “Só Quero Trabalhar”, liderado por funcionários da Vale que trabalham no projeto Serra Leste. O movimento diz que só desocupa a rodovia quando a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas) liberar a licença de expansão de lavra do projeto, solicitada em março deste ano.
Ontem (16), o movimento recebeu a adesão de caminhoneiros, que se revoltaram e bloquearam a pista no sentido Parauapebas. Agora, nem motos mais são autorizadas a passar, apenas ambulâncias e veículos de órgãos de segurança. A paralisação já preocupa os caminhoneiros que estão transportando cargas perecíveis, como legumes e verduras.
Outros que estão preocupados são os donos de caminhões boiadeiros. Ontem alguns animais já estavam debilitados e podem morrer devido ao forte calor e falta de alimentação e água.
Segundo os integrantes do movimento, o Estado já fez três propostas, mas todas foram rejeitadas. A primeira foi para que eles liberassem a pista com a garantia de que em 30 dias a licença seria liberada. Depois, o governo reduziu esse prazo para 15 dias e, por último, para 10 dias.
Os manifestantes, no entanto, bateram o pé e dizem que só desbloqueiam a pista quando a licença estiver assinada e na mão deles. “Outro acordo nós não aceitamos”, diz Juvenal Martins Moraes, empregado da mineradora.
Segundo ele, é estranho o Estado ter liberado licença de lavra de 90 milhões de toneladas de ferro, para o projeto S11D, em Parauapebas, e não querer liberar uma licença de 6 milhões de toneladas para Serra Leste. “Será que é porque o projeto fica em Curionópolis, município que o governador Simão Jatene tanto tem perseguido?”, pergunta, em tom de acusação.
Serra Leste
O Projeto Mina de Ferro Serra Leste (PMFSL), que fica a pouco mais de 50 Km de Curionópolis, é exclusivamente para a produção de minério de ferro, com reserva inicial de 307,4 milhões de toneladas. A primeira licença previa uma produção de 2 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, o que já foi atingido.
Mas, a Vale decidiu aumentar para 6 milhões de toneladas, afim de tornar o projeto viável. Em março deste ano, a mineradora pediu aditivo a Semas de mais 4 milhões para redimensionar o projeto, porém o pedido até agora não foi concedido.
Por conta disso, a mineradora suspendeu o projeto e concedeu licença coletiva aos funcionários, que estão recebendo metade do salário. Com o futuro incerto, eles decidiram se unir e criar o movimento “Só Quero Trabalhar”, que logo ganhou a apoio da população de Curionópolis, solidária por também temer o fechamento da mina.
O projeto Serra Leste é uma das principais fontes de renda e emprego na cidade. “Se Serra Leste fechar, nosso município vai sofrer um impacto muito forte economicamente”, diz Josafá Costa, integrante do movimento, observando que o projeto emprega, direta e indiretamente, cerca de mil pessoas.
Para garantir a pista bloqueada, os manifestantes se revezam e recebem a solidariedade da população, no apoio logístico. Tendas foram erguidas, para proteção do sol, assim como recebem água e comida da comunidade.
Até agora, nenhum incidente foi registrado. “Nosso movimento é totalmente pacífico. Não queremos prejudicar ninguém e nem entrar em conflito. Estamos apenas lutando pelo direito de trabalhar”, justifica Josafá.
Passageiros de vans e ônibus estão seguindo a pé o trecho interditado para pegar outro veículo e poder seguir viagem. Com a interdição do trecho que liga Curionópolis a Parauapebas, a situação ficou mais difícil, porque as vans e ônibus estão proibidos de passar pelos caminhoneiros.
Negociação
A rodovia PA-275 ficou de ser liberada ainda na noite desta quarta-feira (16), depois de uma reunião de uma hora e meia, no final da tarde, entre lideranças do movimento Quero Trabalhar, o prefeito Wenderson Chamon, o Chamonzinho, e o promotor de Justiça Hélio Rubens no Fórum de Parauapebas. Rubens relatou conversa que teve com o Secretário de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Luiz Fernandes Rocha, na qual foi firmado o compromisso de liberação da licença de operação em Serra Leste em até 15 dias.
O prefeito Chamonzinho reiterou que a iminência de demissões no projeto Serra Leste seria catastrófica para o seu município, Curionópolis, por implicar em mais de mil demissões entre empregos diretos e indiretos, afetando justamente comunidades mais carentes.
O promotor Hélio Rubens disse confiar de que será cumprido o compromisso pelo Estado e, diante disso, as lideranças do movimento concordaram em liberar a estrada ontem mesmo, após mais de 34 horas de manifestação.
(Tina Santos)
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