Criada com a ajuda do ex-deputado federal e cantor Sérgio Reis, uma cooperativa que viabiliza a exploração mineral na terra indígena Kaiapó é alvo de uma investigação do Ministério Público Federal (MPF) no Pará. O inquérito tramita em sigilo na esfera cível. Ainda não se sabe se o cantor também é investigado formalmente pelo MPF.
Em manifesto divulgado em março deste ano contra a cooperativa na região, indígenas afirmam que a entidade não se encaixa no “contexto do modo como a comunidade sobrevive”.
Reis reconhece que auxiliou a criar a cooperativa, mas nega qualquer vínculo atual. “O [João] Gesse [empresário do ramo madeireiro] me contou que eles [indígenas] sofriam muito porque não tinham dinheiro, eram muito pobres. Aí eu comecei a ir lá, a visitar. Levei até minha esposa, que ficou uma semana na tribo. Ela ficou assustada e ficou com dó. Foi aí que resolvemos criar essa cooperativa”, declarou o cantor ao GLOBO.
O ex-deputado contou também que participou de uma reunião com indígenas e o presidente Jair Bolsonaro em Brasília. “Eu fiz a reunião com eles [indígenas]. Fui pra Brasília com os caciques para que o Bolsonaro oficialize o garimpo. O governo não vê um tostão do ouro que sai de lá. Sai toneladas. Então, com a cooperativa, o índio tira, pode ser garimpeiro, faz o que tem que fazer, ganha seu dinheiro e o governo recebe a sua parte”, disse.
A Cooperativa Kaiapó foi criada em fevereiro de 2019 em Tucumã, no sul do Pará. “Cada aldeia já tem sua própria instituição ou associação e não precisamos que brancos falem por nós”, diz um trecho da carta assinada por lideranças indígenas da região.
De acordo com dados da Receita Federal, além da mineração, a entidade tem entre seus objetos a exploração de recursos florestais, hídricos e comercialização de créditos de carbono. Ainda segundo a Receita, o atual presidente e o diretor da cooperativa são indígenas.
O MPF apura quais são os produtos atualmente explorados pela cooperativa, se há indígenas no conselho de administração da entidade, se a Fundação Nacional do Índio (Funai) ou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) participaram da sua fundação e se houve consulta prévia aos indígenas sobre a sua criação, conforme prevê a convenção nº 163 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário.
A criação da cooperativa ocorreu em meio ao avanço do garimpo ilegal em terras indígenas em estados como o Pará e Roraima. Garimpeiros e uma parcela menor dos índios defendem a regulamentação da atividade em terras indígenas, bandeira também de Bolsonaro, que enviou um projeto de lei sobre o assunto ao Congresso. A proposta, no entanto, ainda não foi votada.
Recentemente, viralizou am aplicativos de mensagem um áudio no qual o cantor incita invasão do Congresso e bloqueio de rodovias para reivindicar o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Fonte: UOL
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