Ninguém fala muito sobre o depois. Falam do fim, da dor, do rompimento. Mas ninguém fala sobre o que sobra. Sobre o que fica ali, espalhado pela casa, pela pele, pelos pensamentos. O depois não é o fim, é a continuação silenciosa dele. É o eco da ausência, o som abafado de tudo que não foi dito, a bagunça que a gente precisa recolher sozinho.
Depois que acaba, fica o hábito de olhar para o lado na hora de contar uma novidade. Fica o impulso de dividir uma coisa boba do dia. Fica aquele tipo de saudade que não é mais sobre a pessoa, mas sobre quem a gente era quando estava com ela. O depois é esse espelho estranho que mostra não só o que se perdeu, mas também quem fomos — e quem não somos mais.

E é nesse depois que a gente reaprende. Não de forma bonita, linear, cinematográfica. Mas os tropeços. Entre uma recaída e outra, entre um “agora vai” e um “ainda não”. O depois é feito de tentativa. De sobrevivência emocional. De se reconstruir sem saber ao certo o que fazer com os cacos.
No fim, o depois não é o vilão da história. Ele é só o espaço em branco onde a gente pode escrever alguma coisa nova. Às vezes tremendo, às vezes errado, mas ainda assim escrevendo. Porque, mesmo que não dê para apagar o que passou, dá para continuar. E continuar, mesmo sem saber como, já é um recomeço.
@enricopierroofc
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