OTAVIANO HELENE – O efetivo projeto educacional não é aquele que está escrito nas leis ou nos planos educacionais, nem nos programas e discursos de eventuais candidatos a cargos públicos. Para saber qual é, verdadeiramente, a política educacional, o melhor é consultar a realidade. E as principais características do nossa política educacional são um padrão médio muito baixo, uma enorme desigualdade e uma evasão escolar altíssima, concentrada basicamente nos contingentes economicamente mais desfavorecidos, sendo essa política implementada por meio dos investimentos públicos no setor, ou melhor, pela falta deles.
Quanto à questão do baixo padrão de qualidade, vale lembrar que o Brasil está, já há muito tempo, entre os países da América do Sul com os piores indicadores educacionais. A desigualdade, por sua vez, pode ser percebida de várias formas diferentes e complementares. Por exemplo, a conclusão do ensino fundamental é rara exceção entre as crianças provenientes dos 20% mais pobres, enquanto a conclusão do ensino superior é a regra entre os 20% mais ricos. Evidentemente, essa disparidade quantitativa – que não considera complementos educacionais extraescolares, nem a qualidade da educação recebida – projeta para o futuro as desigualdades regionais e de renda que amargamos hoje. Outro exemplo da intensidade da desigualdade: o investimento educacional por estudante ao longo de todo um ano na média das escolas públicas é inferior ao investimento em um único mês na educação, escolar e extraescolar, de muitas crianças provenientes dos grupos mais ricos.
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