Ainda dependente dos dividendos da mineração, município investe na agricultura familiar e na piscicultura para diversificar sua economia
Com uma vasta área rural, Parauapebas começa a investir no fortalecimento da agricultura, visando tornar esse setor a segunda matriz econômica do município, que hoje tem o minério de ferro como o carro-chefe de sua economia. Com esse objetivo, o governo municipal, através da Secretaria Municipal de Produção Rural (Semprol), ampliou o investimento em assistência técnica e já registra resultados positivos, com o aumento da produção de pescado e culturas que fazem parte da agricultura familiar.
A produção de pescado em cativeiro, por exemplo, saltou de 60 mil para 400 mil toneladas ano. Essa alta na produção se deve ao investimento feito em assistência técnica voltada aos produtores e também na logística para o transporte e comercialização do pescado em feiras, supermercados e na Central de Abastecimento (CAP), que é a segunda maior do País.
Em entrevista ao Jornal CORREIO, o secretário Municipal de Produção Rural, Antônio Horácio Martins Filho, detalha os investimentos e os projetos que estão sendo feitos, alguns em fase experimental, a exemplo da produção de cebola, que já desponta como um dos produtos a serem cultivados em grande escala não só para o abastecimento local, como também para exportação.
O secretário diz que no ritmo que as coisas estão fluindo, Parauapebas, em breve, vai ser um grande celeiro agrícola no Pará, porque reúne todas as condições para isso, como terra boa, além de contar com logística para a escoação do que produz. Esse trabalho, que já começa a render bons frutos, iniciou em 2013, após a realização do Senso Agropecuário do município, que apontou as diretrizes a serem seguidas. A partir daí foram elaborados e executados vários projetos.
Com o Plano Safra, que motiva a fixação do homem no campo, o Governo Municipal passou a subsidiar os agricultores com a doação de adubos, sementes, gradeamento das áreas e logística de transporte para escoar a produção, boa parte da qual é comercializada no CAP.
Através do Senso Agropecuário, o agricultor também teve a oportunidade de definir com qual atividade agrícola melhor se identificava. Isso facilitou a elaboração de projetos, como o de piscicultura, que já era uma reivindicação da agricultura familiar no município.
Recursos próprios
Foram construídos 280 tanques, com recurso próprio do município, beneficiando o mesmo número de famílias, que hoje vivem da criação de peixe, principalmente tambaqui e curimatã. O sucesso da atividade estimulou outros colonos a também investir nesse ramo porque viram, segundo o secretário, que havia mercado e incentivo para transporte e comercialização do pescado.
O município, a propósito, conta com um caminhão frigorífico doado pelo Ministério da Pesca e Aquicultura, que compra o pescado direto do produtor e revende a preço mais acessível à população. A cada semana, o caminhão faz a venda em um bairro diferente, para atender toda cidade.
Síntese – Foram construídos 280 tanques, com recurso próprio do município, beneficiando o mesmo número de famílias, que hoje vivem da criação de peixe, principalmente tambaqui e curimatã
Prefeitura incentiva trabalhador rural a ficar no campo
De acordo com o secretário de Produção Rural, Antônio Horácio, esse fortalecimento da atividade agrícola é um dos projetos do prefeito Valmir Queiroz Mariano (PSD), visando estimular o agricultor a ficar no campo, com condições de produzir e escoar sua produção, tendo renda para não precisar vir se arriscar na cidade, muitas vezes, em situações degradantes.
Inclusive, observa Horácio, houve o retorno para a zona rural dos filhos desses colonos, que estavam na cidade trabalhando na construção civil – que amarga uma de suas piores crises – ou em outras atividades informais. “Nosso colono, quando vem à cidade, compra e paga à vista. Imagina o que é mais de cinco mil colonos comprando, isso também faz movimentar a economia do município”, enfatiza o secretário.
Sonho do Agronegócio
A meta, adianta Antônio Horácio, é tornar o agricultura a segunda matriz econômica do município. “Nós não podemos mais continuar vivendo apenas na tutela da mineração, porque quando há crise no setor, o município é fortemente impactado”, destaca, ressaltando que com a agricultura o município vai sempre ter circulação de dinheiro e continuar gerando empregos.
Ele detalha que o projeto que está sendo executado junto aos colonos, por exemplo, estimula a produção de no mínimo dez culturas, para que ele tenha sempre uma fonte de renda. Ou seja, na mesma propriedade, o colono planta milho, melancia, mandioca, macaxeira e cria pequenos animais, como galinha e porco.
Com isso, no intervalo de uma cultura, ele tem sempre outro produto para comercializar. “Um galinha caipira, por exemplo, custa em média entre R$ 40,00 a R$ 50,00 nas feiras da cidade. Se ele vender 100 aves, fatura R$ 4 mil”, pontua.
Ainda de acordo com ele, os pequenos criadores de gado também recebem a mesma orientação. “Um bezerro leva oito meses para ficar no ponto de venda. Mas, enquanto isso, o criador tem a macaxeira para comercializar, que hoje custa R$ 25,00 a caixa. Enfim, não falta renda”, diz.
O secretário ressalta que os avanços já obtidos são os primeiro passos nesse processo de tornar o setor agrícola uma das alavancas econômicas de Parauapebas. “Nesses três anos, investimos no fortalecimento. Ainda há um longo caminho, mas os horizontes são bem favoráveis”, prevê, informando que agora em 2016 serão realizados treinamentos e capacitação, inclusive para os técnicos que estão trabalhando junto aos colonos.
Cebola pode se tornar cultura matriz do município
Dentro do trabalho que está sendo feito, um dos focos também é identificar qual cultura pode ser o principal produto de exportação do município. Entre os de maior potencial, a cebola vem ganhando força.
Em dois projetos piloto, na localidade de Palmares I, a cultura se desenvolveu acima do esperado e, ano que vem, o município já começa a vender a produção no mercado local, com possibilidade ainda de que seja exportada para outros Estados.
O secretário dá outro exemplo positivo do setor. Segundo ele, em 2013 Parauapebas não tinha mais produção de mandioca. Para tentar recompor a produção, tiveram que buscar ramas do tubérculo no Maranhão para plantar no município.
Em três anos, Parauapebas voltou a produzir em grande escala e a fabricar farinha, assim como outros subprodutos da mandioca, como tucupi e massa de tapioca. Isso barateou o custo da farinha, que estava vindo de outros municípios e custava, em média, R$ 300 a saca.
Ainda de acordo com Horácio, o aumento da produção ampliou a aquisição de produtos para a merenda escolar. O secretário diz que antes do atual governo, era comprado no município apenas 3% de produtos da agricultura familiar para a composição da merenda. Hoje, esse percentual subiu para 33%. “Está sendo um incentivo grande aos agricultores”, resume.
Incentivo a criação de pequenos animais e fomento à bacia leiteira
Além de horticultura e criação de peixes, Antônio Horácio diz que o município também está estimulando a criação de animais de pequeno porte, além de incentivar a pecuária de leite, com vistas a criação de uma bacia leiteira.
De acordo com ele, o município já contava com dois tanques de refrigeração de leite, com capacidade de dois mil litros, e adquiriu mais três. “Estamos distribuindo esses tanques entre os produtores. Nossa equipe de médicos veterinários está coordenando esse trabalho, na criação de bacias leiteiras”, enfatiza, reiterando que o município conta com uma equipe de sete zootecnista e cinco médicos veterinários.
Ainda de acordo com Horário, uma parceria entre o município e a Fundação Vale, através do projeto Estação Conhecimento da Vale, foi construído um laticínio na Apa do Gelado, com capacidade de processar 18 mil litros ao dia.
Muitos produtores também já fabricam queijos, iogurte e outros derivados do leite, que são vendidos no mercado local. Na criação de pequenos animais, o município também dá assistência técnica e investe no melhoramento genético, fazendo o cruzamento de raças, para criar espécies mais resistentes a doenças.
A galinha caipira, por exemplo, está sendo cruzada com o caipirão. Isso torna a espécie mais resistente a doenças inerente à caipira comum. “Recentemente fizemos treinamento com esses criadores, em parceria com o Sebrae, principalmente no combate a doenças e sobre melhoramento genético”, informa, ressaltando que os colonos e criadores também receberam curso de como gerenciar suas propriedades, para que possam administrar melhor seus rendimentos.
(Tina Santos)
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