A história de pujança econômica da região sudeste do Pará, começou na década de 60, quando, por acidente, descobriu-se indícios de minério de ferro, de alto teor (68%). Ali estaria definido um dos maiores projetos minerais do planeta, Programa Grande Carajás (PGC). Com o crescimento da produção de minério de ferro, logo a cidade nasceria, no pé da serra. Assim Parauapebas se criou e emancipou-se em 1988 e acabou de completar “apenas” 27 invernos amazônicos.
A riqueza gerada pela extração mineral acelerou desordenadamente o sítio urbano da cidade, fazendo “brotar” quase um bairro por mês, com acelerado crescimento urbano, que vai redefinindo ação do homem sobre o território, já controlados em 80% pela Vale. O resto, a topografia não permite maiores avanços ou se continua – fazendo com maior naturalidade – a derrubada de morros.
A proposta deste artigo é fomentar o debate sobre a dependência do minério com base na teoria da maldição dos recursos naturais. Richard Auty teorizou sobre as economias que são dependentes quase que, exclusivamente, de um único recurso finito, com data para acabar, quase sempre, bem antes do planejado. Por isso lançou a teria: “Maldição dos recursos naturais”. Seria sustentada no paradoxo da abundância de recursos não renováveis e o mal que eles causam a uma determinada região.
Auty, afirma que a supremacia e dependência de um único recurso causariam: declínio de outras atividades econômicas e tornaria a receita de arrecadação volátil. Ou seja, o município sempre teria indefinição orçamentária, podendo acarretar risco no cumprimento de compromissos. Se a compra do produto entrar em declínio, diminuir a sua compra no mercado internacional, as arrecadações despencariam. Isso já está acontecendo em Parauapebas. A China, principal comprador já vem diminuindo nos últimos dois anos a compra do minério de ferro. A receita municipal caiu pela metade nos últimos anos.
O recurso vasto, que faz inveja a muitos prefeitos já não está no mesmo nível. A prefeitura de Parauapebas já começa a se planejar para o futuro mais escasso. A crise econômica mundial começa a ter efeito na balança comercial do país e consequentemente na economia da cidade. Isso poderá ser sazonal, a receita municipal poderá voltar a subir. Mas o que é certo é que o minério irá acabar. O tempo de exploração das reservas vem diminuindo drasticamente, pelo aceleramento do processo exploratório.
O que será de Parauapebas quando as jazidas encerrarem as suas operações? Qual outro modelo econômico está sendo preparado? O futuro de escassez está próximo. A atual crise econômica mundial é apenas um aviso do que poderá ocorrer, do que a cidade poderá enfrentar, caso não enxergue além do minério. A maldição dos recursos minerais poderá ter mais um exemplo, neste caso Parauapebas.
Parauapebas a “Capital do Minério” se orgulha de ser chamada assim. De ter um PIB (Produto Interno Bruto) bilionário, de causar inveja a milhares de municípios pelo Brasil. Orgulho ter ao seu redor a maior reserva mineral do planeta, com jazidas quase infindáveis e com minério de ferro com a maior pureza que existe em nosso planeta: 68% de hematita, bem acima da concorrência. Por isso o mundo, especialmente a China olha para essa região.
Toda essa riqueza que a natureza fez concentrar aqui no sudeste do Pará deveria criar uma rede de desenvolvimento econômico, pautado em diversas modalidades. Desde a década de 80 do século passado que a exploração mineral começou a revirar terra e enviar minerais para o outro lado do planeta que o processo continua na mesma direção: extração e transporte e deverá assim continuar.
Parauapebas recém completou 27 anos de emancipado e nasceu e está se desenvolvendo exclusivamente da riqueza gerada pela extração mineral. Em quase duas décadas os gestores que passaram pelo Poder Executivo Municipal (Seis mandatos cumpridos e um, o atual, pela metade) e nenhuma ação foi colocada em prática para criar alternativa econômica para além do minério ou que dependesse cada vez menos dele.
Quais ações foram econômicas foram efetivadas para que o PIB do município não fique quase que restrito ao minério? Polo industrial que seria uma alternativa nunca saiu das retóricas dos pronunciamentos das autoridades. A área existe para tal instalação, mas falta vontade política para erguer do chão os primeiros pilares. Outra promessas dos governantes que passaram pelo poder executivo foi tornar Parauapebas um centro universitário do sul e sudeste paraense. Outra promessa que ficou pelo caminho…
Por depender economicamente de apenas um segmento, a cidade de Parauapebas fica a dependência de cotação de preço, expectativas de mercado e conjuntura econômica. As três possibilidades estão em queda livre. Por conta disso a econômica parauapebense vem decaindo gradativamente e as demissões que nos últimos anos não aconteciam começaram a se tornar realidade. A Vale, maior empregadora da região, começou a distratar centenas de funcionários, ocasionando o “efeito dominó” com as empresas terceirizadas e outros empreendimentos econômicos.
Nos balanços do ano corrente que foram divulgados, em valores absolutos, voltaram a cair as exportações do município de Parauapebas, que há anos está entre os recordistas do Brasil. Em março deste ano Parauapebas exportou US$358.999.475,00 uma queda de 11,04% em relação ao mês de fevereiro. Mesmo com o baixo desempenho ao longo do ano, Parauapebas tem números ainda invejáveis. O município é o terceiro que mais exportou em 2015, perde apenas para São Paulo e Rio de Janeiro, e mantém-se no topo quando o assunto é saldo da balança comercial, com US$ 1.010.969.348,00 nos três primeiros meses de 2015.
Parauapebas ainda tem tempo e ferramentas para criar alternativas econômicas que permitam depender menos dos minerais de seu subsolo. Mas parece que a riqueza fácil, os royalties que são depositados nos cofres da prefeitura entorpecem os governantes que por aqui passam. Se nada for feito, infelizmente Parauapebas será mais um triste exemplo (dos muitos que já estão listados) da teoria da maldição dos recursos naturais. Ainda há tempo!
Henrique BRANCO – professor de geografia da rede pública municipal de Parauapebas, atuando também no ensino privado da referida cidade. Especialista em Geografia da Amazônia – Sociedade e Gestão de Recursos Naturais. Escreve diariamente no http://henriquembranco.blogspot.com.br/
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