Pelas características topográficas, Parauapebas está no pé da serra dos Carajás, conjunto de elevações que formam recorte de relevo muito bonito, “linhas” em “sobe e desce” que engrandecem a paisagem e encantam. Desde a década de 80, quando iniciou a exploração mineral dentro do PGC (Programa Grande Carajás) que a cidade de teve grande expansão urbana com a gigantesca onda de migrantes que aqui chegavam. Todo esse crescimento urbano teve que ir se adequando as dezenas de morros que compõe a paisagem natural da cidade.
Ruas, projetos e a própria expansão populacional estavam se “contorcendo”, para continuar a o crescimento horizontal entre essas elevações naturais. A partir do final dos anos 90, virada do milênio, com a pressão populacional explodindo em Parauapebas, os morros que a princípio seriam “a cereja do bolo”, o charme da cidade, começaram a ser entraves ao desenvolvimento urbano. Nessa lógica expansionista, essas elevações começaram a ser exploradas de forma desordenada, com construções habitacionais irregulares, sem planejamento, colocando em risco a vida de pessoas que não tinham onde morar.
O próprio poder público, incluindo vários governos, especialmente os de Darci Lermen (PT) e o atual de Valmir Mariano (PSD), construíram obras (praça, conjunto habitacional e sistema de abastecimento de água e esgoto) no topo desses morros. Em outros casos, algumas elevações foram derrubadas sem cerimônias ou entraves de controle ambiental. Opinião pública no geral sempre assistiu o processo sem maiores questionamentos.
Recentemente em minhas andanças por bairros mais afastados do centro, localidades na divisa do urbano e rural, me defrontei com a queima da cobertura vegetal de diversos morros. Verdadeiro crime ambiental, realizado a luz do dia, sem receio de multa ou ação por parte do poder público. Aliás, os órgãos de fiscalização, como a Sema (Secretaria de Meio Ambiente) parecem ser mera formalidade legal e institucional em Parauapebas. Não há ação efetiva ou mobilização para controlar esses desmandos ambientais. Parece que na “Capital do Minério”, tudo pode, tudo se faz.
A derrubada dos morros que contornam a cidade, a construção de equipamentos urbanos nos mesmos ou a simples retirada da cobertura vegetal dessas elevações naturais estão causando o aumento da temperatura média em Parauapebas. A sensação térmica vem gradativamente subindo, incomodando os seus habitantes. Comparavelmente com anos atrás, vivemos em uma cidade com menos cobertura vegetal em sua área urbana, o que naturalmente tornar o calor mais latente.
Como mudar essa realidade? A falta de responsabilidade ambiental e a falta de ações sustentáveis da sociedade tornam a mudança do cenário mais difícil e lento. O Poder Público Municipal se mostra incapaz de mudar essa realidade ambiental perversa. Não há – pelo menos na prática – ações de controle e
ocupação do solo ou o zoneamento da cidade, que cresce de forma assustadora, mesmo em época de crise econômica. O crescimento urbano descontrolado pressiona as áreas mais “verdes” e de morros, exatamente o que vem acontecendo na “Capital do Minério”, tomada pelo fogo e fumaça nessa época do ano. Até quando?
Henrique BRANCO – professor de geografia da rede pública municipal de Parauapebas, atuando também no ensino privado da referida cidade. Especialista em Geografia da Amazônia – Sociedade e Gestão de Recursos Naturais. Escreve diariamente no blog: www.henriquembranco.blogspot.com
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