Quem já brincou de “PASSA ANEL”? Brinquei muitas vezes durante minha vida. Quando criança, jovem, adulto e recentemente. Simples e gostosa, a brincadeira consiste em alguém por um anel nas mãos unidas, tipo um amém, e depois deixar cair o anel nas mãos, também unidas, de outra pessoa. É feita uma roda, cada pessoa une suas mãos, e espera que aquele que tem o anel coloque-o nas mãos da pessoa escolhida. Há que se ter cuidado para que ninguém descubra em quais mãos o anel foi posto. Quem descobre, pega o anel e reinicia a brincadeira. Se não descobre, sai da roda!
É o momento ideal para quem quer conquistar outra pessoa. Basta dar aquele olhar sensual, passar as mãos com bastante carinho nas mãos da pessoa desejada e deixar cair o anel. Tudo de forma sutil e discreta. Por isto é bom brincar com pessoas solteiras.
Eu estava num luau na chácara de um amigo. A maioria estava ao celular, nas redes sociais, produzindo selfies, navegando na internet. Então propus a tal brincadeira. Expliquei como era. Para minha surpresa, muitas pessoas casadas participaram. Outras preferiram ficar ao celular. Umas 15 pessoas começaram a brincar.
Na primeira rodada, foram só sorrisinhos maldosos, olhares atentos, todos querendo saber em quais mãos cairia o anel. Aliás, que anel! Uma pessoa do grupo emprestou o anel de formatura, grosso, pesado, de ouro e rubi. Lindo anel. Deveria valer uns cinco mil reais.
Quem passou o anel, escolheu uma pessoa do grupo e perguntou: “Com quem está o anel?” O escolhido não acertou. Então foi convidado a deixar o grupo. A segunda pessoa, uma amiga bonita, acertou. Então era a vez dela passar o anel. Aí começaram as piadinhas: “Já vai passar o anel, né Suely?”; “Hey! Passa o anel pra mim?”, dizia outro. E tudo era sorriso, tudo era brincadeira. Depois veio a Luane, o Lamarca, e a roda foi esvaziando. E tudo com muita teatralidade sedutora! Quando sobraram 06 pessoas na roda, a brincadeira ficou sem graça e acabou.
Aí começou o inferno! Uma despeitada filmou a brincadeira. Aí, mostrou para a namorada de um dos participantes o momento em que a Suely passou o anel. E o anel foi passado com extrema sensualidade, olhares sedutores e mordidinha nos lábios. Quem recebeu o anel deu uma piscadela para a Suely. Não deu outra. A namorada ciumenta foi tirar satisfação com a Suely. Pra quê… A Suely, esquentada que é, partiu logo pra cima da ciumenta. O pau comeu no luau. Todos sabem que a Suely é uma mulher super extrovertida e legal. É quem dá brilho às festas. Claro, todos ficaram a favor dela. Mas, vá explicar isto para a ciumenta que apareceu no luau! Uma amiga da ciumenta chamou a polícia sem avisar para o dono da chácara. No meio da confusão, o dono do anel quis saber onde estava o seu objeto precioso. Ninguém sabia. Passaram o anel do coitado. Bateu um desespero. O bate-boca e a gritaria tomaram conta da festa. A lua a tudo assistia, bela no horizonte. Uns sorriam da situação. Outros choravam. Uns de cara feia, outros com caras de poucos amigos. Uns pediam calma e diziam que ali era um ambiente de família. Outros queriam descer o cacete! E o dono do anel inconformado. Disse que iria chamar a polícia. O anel era de muito valor, não só financeiro, mas sentimental também. Aí, um gritou: “É tudo culpa do Alípio! Ele quem inventou esta brincadeira estúpida!” E mais bate-boca e disse-me-disse! Eu fiquei lá, olhando a lua e analisando como as pessoas se transformam em bestas por tão pouca coisa. Era a lua cheia. Ela tem o poder de transformar pessoas em lobisomens!
Então a polícia chegou! O dono da chácara não entendia o que estava acontecendo. Polícia? Na casa dele? O Luiz tratou de organizar a bagunça. Pediu calma e perguntou o motivo dos militares estarem ali. E foi dito que alguém chamara a polícia. O Lamarca perguntou quem tinha ligado. Ninguém se manifestou. O dono do anel bem que quis dizer algo, mas foi levado para o interior da residência para que ficasse quieto. Depois de explicado para a polícia que fora um engano ou uma denúncia de algum vizinho despeitado, que nada de errado havia ali, os PM’s foram embora.
A ciumenta tinha levado uns sopapos da Suely, mas nada muito sério. Então os amigos caíram em si e viram o ridículo que tinham feito. A bebida farta tinha produzido seus efeitos. E, novamente, alguém disse: “É culpa do Alípio”! Então eu fiz um discurso: “Vocês não sabem mais brincar! Acostumaram-se ao frívolo mundo virtual e desaprenderam o significado do toque, do calor humano, das verdadeiras e puras emoções!” E blá-blá-blá… No calor da discussão e do discursão, a Luane achou o valioso e valoroso anel num canto do muro!
O Ferreira começou a cantar: “Faça uma lista dos grandes amigos…” e as pessoas começaram a refletir, a beber e a se divertir novamente.
Eu fui embora. Povo doido. Ainda bem que tenho a Luane para dirigir…
A lua foi passando, absoluta, cheia de si. A noite era dela. Se ela produziu efeitos sobre nós, não sei. A Luane me olhou de forma estranha. Não entendi o motivo. Eu me coçava olhando para a lua cheia. Abri a janela do carro e, com a língua para fora, comecei a rosnar…
Não sei como cheguei a casa. Só sei que a Luane sumiu… Alipio Ribeiro
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