Consumidor dificilmente escapará de repasse dos custos mais caros para pecuaristas, anunciou Blairo Maggi, ministro da Agricultura
Depois de um forte aumento em julho nos preços de produtos básicos como milho, feijão e arroz, devido à redução da safra este ano, vem aí uma alta nas carnes de todos os tipos (bovina, suína, aves e até peixes) e reajustes ainda mais fortes no preço do leite. A previsão é do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que vê uma inflação “represada” na pecuária, porque a quebra de safra afetou a produção de grãos, usados largamente como ração animal. O ministro disse que o consumidor final dificilmente escapará do encarecimento desses produtos e citou como exemplo mais forte o do milho.
— Há uma inflação represada. Neste momento, quem está pagando essa conta ainda é o produtor, porque o milho está caro, e a carne não subiu. Muitos frigoríficos já fecharam por causa disso. É lógico, quase natural, que isso vá bater no consumidor daqui a pouco. Os preços vão ter que subir, para fazer com que esse pessoal fique na atividade. Esse é um problema que vai bater pesado na inflação daqui para frente. Não sei como eles (os produtores) conseguiram manter os preços. O produtor de suíno, por exemplo, reclama de prejuízo de R$ 100 para cada cabeça que abate — disse Maggi, ontem, em entrevista ao GLOBO.
TENTATIVA DE LIBERAR IMPORTAÇÃO DE MILHO
Na última quarta-feira, o IBGE informou que os alimentos, principalmente feijão e leite, puxaram para cima o IPCA, a inflação oficial. Pela inflação medida pelo índice, os preços das carnes em geral caíram, em média, 1,19% de janeiro a julho deste ano. Levando em conta especificamente aves e ovos, já se detectou uma alta, de 4,27%. Levando em conta apenas o mês de julho, o aumento foi de 1,2%.
— A agricultura é uma atividade de céu aberto. Nós não controlamos o clima. O El Niño pegou o Brasil por inteiro — destacou Maggi.
O ministro explicou que a alta nos preços dos grãos foi causada pela quebra na safra deste ano, estimada em 10%. Segundo o ministro, o fenômeno climático El Niño foi bastante severo no país, levando muitas chuvas ao Sul e secas ao Nordeste e Centro-Oeste. Isso afetou a produção em 20 milhões de toneladas, só em grãos.
A expectativa do governo e do setor privado é que os reajustes são iminentes e afetarão a inflação de alimentos em questão de semanas. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal, Francisco Turra, a alta no preço do milho nos primeiros meses de 2016 chegou a 110% em algumas regiões do país. O custo de produção de aves aumentou 30%.
— Não prevemos escassez este ano, porque o governo vai autorizar a importação. Mas esta situação nos preocupa, porque aves e suínos consomem 50 milhões de toneladas do produto por ano. É difícil ter um aumento de custo tão grande e não ter que repassar nada para o consumidor final — completou Turra.
A produção de milho, por exemplo, caiu mais de um milhão de toneladas. Blairo Maggi revelou ao GLOBO que é justamente esse volume que precisaria ser importado dos Estados Unidos para abastecer a demanda interna por ração. Ele destacou, no entanto, que o problema é que a legislação brasileira não permite o ingresso de milho transgênico em território brasileiro. A liberação excepcional da importação depende da anuência da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
— Seria um milho monitorado, que chega nos portos e vai direto para as granjas, e não para a indústria — enfatizou o ministro.
Maggi avisou que não há possibilidade de serem concedidos novos subsídios à agricultura e tampouco desonerações tributárias. Segundo ele, o Ministério da Fazenda já disse não a um pedido seu para que a importação de milho passasse a ser isenta de PIS/Cofins.
— A inflação de grãos já está aí e vai acomodar. Em setembro, começa o plantio, e tudo volta ao normal, e, começando a chover, em dois ou três meses, voltaremos a ter safras grandes. Agora, a carne é que me preocupa, porque o segmento está levando grandes prejuízos e terá que repassar nos preços, notadamente frangos, suínos, bovinos e peixes — ressaltou Maggi.
JBS VAI REPASSAR ALTA DE CUSTOS
Ontem, a JBS, maior produtora de carne do mundo, informou que tentará elevar os preços e reduzir a produção na tentativa de compensar o aumento de custos e a valorização cambial, que cortaram suas margens de lucro no mercado interno.
Os recentes esforços da companhia em repassar os custos mais altos a clientes não têm sido suficientes para fugir da disparada do preço do milho doméstico, usado como ração para o gado, afirmou o diretor executivo da companhia, Wesley Batista, em conferência com investidores após divulgar o balanço da empresa. No segundo trimestre, a JBS reajustou os preços no mercado brasileiro em 8%.
Além disso, indicou Batista, a receita com exportações tem sido contida por uma valorização do real mais rápida do que a esperada.
— Temos desafios importantes na América do Sul — afirmou Batista. — Nós já esperávamos uma apreciação do real, mas veio muito mais rápido do que a previsão.
O executivo afirmou que a JBS considera a redução no volume da produção no Brasil enquanto busca aumentar as margens da empresa. No entanto, a companhia não tem planos de fechar fábricas.
ORM
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