O jornalista Francisco Alves entrevistou o prefeito de Parauapebas, Valmir Queiroz Mariano e o secretário Municipal de Desenvolvimento, Wander José Nepomuceno, para a revista Brasil Mineral, uma das mais conceituadas no setor. O Blogger, por achar de interesse público as revelações feitas por duas autoridades municipais, repercute aqui o inteiro teor da matéria publicada na edição de número 345, que foi às bancas em outubro passado. Confira:
Ostentando a posição de principal municípiominerador do País, já que respondepelo maior percentual o valor da produçãomineral brasileira e também pela maior arrecadação de CFEM (Contribuição Financeira pela Exploração Mineral) Parauapebas é visto como uma espécie de “primo rico” por outros municípios mineradores, que enchem os olhos com o valor arrecadado a título de compensação financeira: mais de R$ 700 milhões em 2013. Além de liderar a arrecadação de CFEM, Parauapebas hoje tem o maior PIB do estado do Pará, inclusive ultrapassando a capital, Belém.
O que pouca gente sabe é que, com taxas de crescimento urbano somente comparadas às verificadas na China, Parauapebas representa um enorme desafio para os gestores municipais, tendo em vista as demandas que são geradas em termos de infraestrutura e serviços para uma população que cresce exponencialmente. Para se ter uma ideia, a população da cidade pulou de 53.335 em 1991 para 166.342 em 2012 (estimativa do IBGE). Na realidade, hoje o número é bem maior: a prefeitura estima que 277 mil pessoas vivem hoje no município, que tem uma densidade populacional de 23,9 hab/km2, enquanto a média do estado do Pará é de6,24 hab/km2.
Parauapebas é o típico município nascidoa partir da atividade de mineração. Seu surgimento, enquanto núcleo urbano, se deu a partir de 1981, quando, com o início da implantação do projeto ferro Carajás, foi criada a Vila de Parauapebas. Projetada para abrigar até 5 mil habitantes, em pouco tempo já tinha 20 mil. Pela estrada de terra que ligava a localidade a Marabá, com 165 km de buracos e poeira, chegavam fazendeiros, madeireiros, garimpeiros e pessoas para trabalhar no projeto ferro Carajás. Era gente atraída pela oferta de trabalho e esperança de riqueza fácil.
Em maio de 1988, a vila se transformou em município, inicialmente com uma área de 17.722 km2, hoje reduzida a 6.886 km2. É que, ao longo do tempo, foram desmembrados de seu território o município de Água Azul do Norte e a área denominada Cedere II, onde hoje existe o município de Canaã dos Carajás. Mas dos 6.886 km2 que compõem o território de Parauapebas, cerca de 80% está sob concessão da Vale, dos índios Xicrins do Caetité e do governo federal, neste caso através de projetos de preservação ambiental (APA, Rebio e Flonata – Floresta Nacional do Tapirapé). Assim, sobra para a prefeitura administrar os principais problemas, que estão mesmo localizados na área urbana.
Segundo o secretário de Desenvolvimento de Parauapebas, Wander Nepomuceno, um ex-funcionário da Vale que atua na região há mais de 25 anos, o município saiu de 38 mil habitantes para 270 mil, com uma população flutuante de 50 mil. Esta população flutuante deve-se ao fato da área do sudoeste do Pará abrigar há grandes empreendimentos, como o S11D, da Vale, cuja implantação está a pleno vapor. Embora o êxodo migratório esteja mais controlado do que antes, ainda vem gente de toda as regiões do País, mas principalmente do Nordeste, sendo que os estados do Piauí e Maranhão são os estados que mais enviam mão de obra para Parauapebas.
É que no município fica a última estação da Estrada de Ferro Carajás, que liga Ponta da Madeira, no Maranhão, ao complexo de Carajás. Mas também vem muita gente do Tocantins, de Goiás, do Sudeste.
O crescimento acelerado tem aumentado a demanda por infraestrutura urbana e serviços, que é difícil de ser suprida, mesmo que o município conte com recursos expressivos provenientes da CFEM e de outros impostos. De acordo com o prefeito, Valmir Queiroz Mariano, que está no cargo há um ano e meio e que está colocando em prática um amplo programa com vistas à melhoria da infraestrutura e dos serviços de atendimento à população, atualmente, na área habitacional, há um déficit de 27 mil moradias e, para atendimento da população em idade escolar, é necessário a construção de mais 15 escolas. “Temos uma carência muito grande de infraestrutura, porque o município cresceu uma área urbana quatro vezes maior no espaço de seis anos, e precisamos dar cobertura para isso. Foram 32 bairros entre 2009 e 2012 que apareceram no município”, afirma Wander Nepomuceno, salientando que o crescimento urbano aconteceu de forma bastante desordenada: tem condomínio fechado, conjuntos de casas populares
e até invasão. Ele explica que “todas as formas de ocupação do solo existem em Parauapebas, porque não houve planejamento. Aqui foi criado o núcleo urbano justamente para ter a proteção da Flona. A ocupação se deu inicialmente através dos loteamentos, mas nos morros e nas encostas foram todos todos os terrenos foram invadidos”.
Em função de haver na cidade uma frota de 60 mil veículos com placa local e mais 30 mil de outras localidades, sem contar as motos, que também proliferam como na maioria das cidades do norte e nordeste, o trânsito é absolutamente caótico e o número de acidentes é alarmante. Tanto que um dos principais projetos da prefeitura na área da saúde é a a construção de um
hospital especializado em traumatologia.
Visando melhorar o fluxo de veículos, a prefeitura, em parceria com a Vale, está promovendo a duplicação de duas vias importantes de tráfego no município: a PA 160 e a avenida Faruk Salmen. Ao mesmo tempo em que tenta resolver os problemas do presente, causados pelo crescimento desenfreado, Parauapebas também procura preparar um futuro de menor dependência da mineração. Embora, hoje, o município tenha um comércio pujante, com uma variada rede de lojas, shopping-center e importante rede hoteleira os atuais dirigentes querem que Parauapebas crie uma base industrial e se transforme em um centro de excelência de serviços e tecnologia para servir à indústria de mineração e também a outros setores econômicos. Um projeto importante nesse sentido é a criação do Distrito Industrial, que já está sendo implantado e que já conta com 80 empresas cadastradas, entre elas algumas gigantes da cadeia de suprimentos da mineração e de logística.
Na entrevista a seguir, concedida com exclusividade a Brasil Mineral, o prefeito de Parauapebas e o secretário de Desenvolvimento detalham como estão enfrentando os desafios de administrar o maior município minerador do País e os planos e projetos para melhorar a qualidade de vida na cidade.
BRASIL MINERAL – Como é o desafio de administrar o município que cresce mais rápido no Brasil, inclusive mais que a China? Quais os principais problemas que este crescimento acelerado traz e como isso está sendo enfrentado?
VALMIR MARIANO – A velocidade do crescimento é um dos maiores problemas que enfrentamos. Parauapebas cresce mais que a China e como estamos no Norte, temos uma carência muito grande de mão-de-obra especializadae ainda temos que enfrentar a grande migração da população de outros estados para cá, especialmente do Maranhão. São pessoas que aqui chegam sem qualquer formação profissional, o que dificulta a obtenção de emprego, mas que também não querem voltar para seus estados de origem, pois o cenário lá é pior. Começam então a ficar na deriva. Essa é uma das maiores dificuldades que enfrentamos. Para se ter uma ideia, o município tem hoje uma carência de 27 mil unidades habitacionais (projeto Minha Casa, Minha Vida). Outra dificuldade refere-se à educação – temos quatro clubes de unidades, chamadas de anexos. Como a cidade não tem escolas suficientes, aluga-se um galpão para que as crianças possam ter aulas – uma forma de cumprir a lei, o regimento. Neste um ano e meio de meu governo construímos 12 escolas, todas com 14 a 16 salas, mas ainda temos um déficit de 24 escolas – todas de nível fundamental, até a 9ª série. O hospital existente na cidade foi uma doação da Vale feita em 1993 e agora é que estamos construindo um novo hospital. Uma dificuldade que temos nessa área é o trauma, em razão do crescimento muito grande de acidentes de trânsito e a falta de preparo da cidade para isso. Temos uma média de mais de 60 mil veículos emplacados no município e sem dimensão para esse volume de carros o nível de acidentes é muito grande. Isso implica ainda em outra grande dificuldade: a mobilidade urbana.
Na área de saneamento a cidade conta com uma média de coleta e tratamento de esgotos sanitários e 5% a 7%, porque o município tem um crescimento muito rápido e a cobertura que nós tínhamos foi diluindo com o crescimento do município. Apenas a parte mais antiga da cidade é que tem coleta de esgoto. No resto da cidade temos uma condição natural de esgotamento sanitário. Mas isto está para ser resolvido através de um projeto junto ao Banco Mundial, um projeto mais estruturante de médio prazo. Nós recebemos no município, em janeiro de 2013, uma produção de 18 milhões de litros de água por dia e no último um ano e meio mais que dobramos esse volume e hoje estamos com 42 milhões de litros por dia. Estamos atendendo em torno de 60% da população – antes eram apenas 30%. Temos um projeto de, até o final do meu governo, de atender a 100% da população atual. Temos um grande projeto, que é sanear a cidade em termos de esgoto e de água, já fazendo uma projeção para 500 mil habitantes. Acreditamos que alcançaremos 500 mil habitantes por volta de 2025. Estamos pleiteando recursos através do Banco Mundial para esse projeto, que já está bem adiantado. Parauapebas é, então, um município com grandes desafios: carência de mão-de-obra especializada, unidades habitacionais, água e esgoto… coisas dessa natureza. Uma outra grande dificuldade, que acredito equacionar até o final deste ano, é a falta de energia elétrica para o nosso município, que de certa forma inibiu nosso distrito industrial. Pretendemos implantar o distrito industrial – um trabalho que está sob a responsabilidade do Wander Nepomuceno, secretário de Desenvolvimento – mas pela falta de energia não conseguimos atrair as empresas ainda.
Na área da educação, especialmente a mais profissionalizante, temos um projeto audacioso. Estamos preocupados com o pós-minério, com o que o município será quando estiver terminando a fase minerária. Para médio prazo, optamos então pela educação de nível superior, pois temos visto que nenhum dos municípios do Brasil vive exclusivamente da educação. Queremos trazer para cá um grande centro de conhecimento, uma cidade universitária e centros tecnológicos. Adquirimos, recentemente, 25 alqueires, quase 100 mil hectares, uma área bastante grande, que vamos lotear em cinco áreas menores e estamos procurando empresas na área de educação que queiram se instalar aqui – universidades particulares e/ou públicas. Estamos oferecendo para essas empresas a área e incentivos fiscais, para que possamos criar esse grande centro de educação, tecnológico e de nível superior também. Já temos aqui a UFRA – Universidade Federal Rural da Amazônia. Fizemos uma parceria com o Governo Federal e investimos em torno de 50% da estrutura do prédio, investimento do município. Agora estamos trazendo a UEPA – Universidade Estadual do Pará, uma parceria com o governo do estado, onde fizemos a doação do terreno. A Vale vai nos ajudar na infraestrutura predial e o governo implantará aqui os cursos. A prefeitura também oferece um aporte financeiro para trazer novos cursos.
BRASIL MINERAL – Existe a possibilidade de implantação de uma unidade avançada do ITV – Instituto de Tecnologia Vale?
WANDER NEPOMUCENO – Este é um assunto que estamos estudando, inclusive quando da verticalização da cadeia produtiva, de novas fontes de ferro primário e a substituição ao processo convencional dos produtos produzidos hoje em Carajás. Queremos criar um acervo técnico dentro do município para virar uma referência de conhecimento na cadeia mineral, de forma que possa ser exportado para qualquer parte do mundo, para qualquer projeto mineral de ferro primário. Inclusive com uma vertente para recuperação dos finos da barragem – um processo de produção de ferro primário a partir das lamas da barragem de rejeitos. Um projeto bastante interessante desenvolvido pelo pessoal do ITA em São José dos Campos- SP, já com excelente resultado em escala piloto.
BRASIL MINERAL – Do ponto de vista da segurança, esse crescimento acelerado tem gerado problemas?
VALMIR MARIANO – Criamos, no nosso governo, a Secretaria de Segurança Municipal e agora estamos criando a Guarda Municipal. Segurança é outra dificuldade, principalmente a segurança no trânsito. Um dos maiores índices de acidente per capita do Brasil acontece aqui.
BRASIL MINERAL – Na questão da mobilidade, percebe-se que a malha viária da cidade é pequena…
VALMIR MARIANO – A cidade cresceu e não foi adequada ao seu índice de motorização. A atual frota por habitante em Parauapebas está em torno de 35%; na capital, que é Belém, esse número é de 21% e a média nacional é 12%. Estamos três vezes acima da média nacional e somos uma cidade que foi impactada na sua estrutura orgânica, urbana, de forma assustadora. O crescimento muito rápido não deu tempo de adequar as vias de acesso ao crescimento da frota própria e também da frota flutuante, que veio no reboque dos projetos de mineração e das empresas construtoras. Tudo isso cria um impacto muito grande na segurança local, por causa da mobilidade urbana. Temos hoje em torno de 60 mil veículos com placas de Parauapebas e mais 30 mil veículos de frota flutuante, vinda de outras localidades. Isso para uma cidade que tem 26 anos de existência. Uma média de 2,5 ou quase 3 habitantes por carro, bem acima da média nacional.
WANDER NEPOMUCENO – Esse é um grande dilema. Estamos com dois eixos de desenvolvimento, a PA-275, no sentido leste-oeste, e a PA-160, no sentido norte-sul, indo até Canaã dos Carajás, desde a pêra ferroviária. Esses dois eixos estruturantes são duas vias onde estamos investindo maciçamente na alteração da capacidade de tráfego. Na área de segurança e de mobilidade queremos dar maior conforto à população de Parauapebas. Essas duas linhas, especialmente a PA-160, passam por 22 bairros que cresceram muito e que há dez anos não existiam. Agora estamos duplicando a via, para garantir a mobilidade.
BRASIL MINERAL – Do ponto de vista da diversificação das atividades do município para amenizar a dependência da mineração,quais são as vocações que podem ser desenvolvidas,
em sua opinião?
VALMIR MARIANO – Antes eu gostaria de colocar um dado interessante em termos do número de habitantes que nos dificulta a obtenção de recursos federais. Quando eu vim para cá, há 23 anos, tínhamos em torno de 25 mil a 30 mil habitantes. Pelo Censo de 2010, esse número está em torno de 176 mil, mas na realidade estamos com cerca de 277 mil habitantes. O censo tem uma defasagem de quase quatro anos. Embora
o nosso dado seja seguro, muitas vezes impede a busca de recursos para os investimentos estruturantes necessários para essa população.
WANDER NEPOMUCENO – O princípio federativo da constituição municipalista diz que qualquer dado de repasse de convênio de recursos das secretarias estadual e federal tem base nos dados do IBGE. Isso nos complica, pois essa sazonalidade de população não é computada e é real. Cai na conta das receitas correntes do município, que muitas vezes fica impactada por falta desse repasse ser real. No dado migratório, nós constatamos que o IDH do Nordeste, especialmente dos estados mais próximos aqui da região Sul e Sudeste do Pará melhorou, enquanto o nosso caiu, pois essa população se concentrou aqui. Isso foi constatado pela Secretaria de Planejamento do município e pela Secretaria de Planejamento do Estado. O estado vem investindo nas regiões Sul e Sudeste, mas o IDH não avança. Cada vez chegam mais pessoas e o impacto socioeconômico aumenta.
BRASIL MINERAL – Segundo os dados do DNPM, a previsão de arrecadação da CFEM em 2013 é de R$ 2,3 bilhões, sendo para Parauapebas R$ 700 milhões. Esses recursos chegam
regularmente à cidade?
VALMIR MARIANO – Chegam sim. Existe o mito de que o município é rico e durante esse período, depois que entrei para o governo – sou da iniciativa privada – tenho tentado desmistificar isso. Costumo dizer que município rico é aquele que tem um IDEB acima de 7 e que tem indústrias. Nós só temos uma indústria de mineração que é a Vale, mas não temos um parque industrial e nem uma agricultura mecanizada (ainda é uma agricultura familiar). Não temos, então, um município rico, mas uma prefeitura que, por um curto espaço de tempo, tem uma boa arrecadação. Mas quando acabar o minério, não teremos mais. Temos que aproveitar esse momento de receita saudável para nos prepararmos para o pós-minério, criando aqui um centro de educação e buscar outras empresas que não dependam exclusivamente da área minerária. Já temos aqui o distrito industrial, compramos uma área e o Wander Nepomuceno está responsável por trazer empresas que receberão incentivos fiscais, doação do terreno. O mesmo vale para a área da educação. Não há como atrair empresas sem fomentar a área de educação e a formação técnica. Em termos de agricultura, temos investido muito nessa área, mas ela ainda é familiar. Quando comecei na prefeitura, apenas 5% da merenda escolar provinha do município. Hoje esse volume é de 30%, graças ao grande investimento feito na área da agricultura familiar. Mas a grande preocupação é com o futuro do município e tenho discutido muito isso com minha equipe. Pelo menos em curto e médio prazo o foco é educação.
WANDER NEPOMUCENO – Em termos de educação, fechamos com a Joy Global um centro de excelência, igual ao que foi implantado no Chile, aqui no município. Para 2015 estão previstos 25 trainees na área de eletroeletrônica para preparar o futuro desse centro de excelência, que vai atender a todas as minas do Norte e Nordeste do País, inclusive com serviços prestados para a logística da Vale, em nível de recuperação de subconjuntos, motores elétricos, motores mecânicos. Já tivemos duas reuniões com o diretor desse centro de educação que vai formar mão-de-obra, desde o aprendiz de nível médio ao trainee de nível superior. Esse centro deve formar entre 350 e 400 profissionais na área de manutenção de subconjunto da indústria mineral. E esses alunos vão ser treinados nas várias sedes desse centro de excelência. Parauapebas tem o objetivo de transformar sua linha de educação num referencial na formação de mão-de-obra para a indústria minerária mundial. A JOY tem amplitude para tanto. É um investimento em torno de R$ 45 milhões.
BRASIL MINERAL — Voltando à questão do crescimento acelerado da cidade, os srs. percebem um arrefecimento nesse ritmo ou ele continua acelerado em função das obras que
existem nos municípios vizinhos?
WANDER NEPOMUCENO – O mesmo fenômeno que aconteceu com a China, similarmente se dá na região de Carajás. Nós estávamos crescendo a dois dígitos, assim como a China, uma locomotiva que puxava a economia mundial. Parauapebas estava crescendo a dois dígitos e puxando as regiões Sul e Sudeste do Pará. Esta dinâmica deu uma freada, mas ainda estamos crescendo acima da média brasileira. Caímos para 7,5%, um volume bastante extraordinário ainda. Para cada R$ 1,00 que o prefeito investe na infraestrutura do município, a iniciativa privada investe R$ 4,00.
VALMIR MARIANO – A serra de Carajás, por exemplo, começou a produzir há 27 anos um volume de 12 milhões t/ano, passou a 25 milhões t/ano e hoje estamos com 130 milhões t/ano. Com isso, o estéril da mina diminuiu e a mina já amadureceu. Temos um plano de exploração de minério de ferro em Parauapebas de mais 30/40 anos. Mas agora há o S11D, que começa no município vizinho, e já começa grande, com início de produção de 90 milhões t/ano, previsto para até 2018. No entorno, teremos mineração ainda por muito tempo. Em minha opinião, nós cometemos o erro de não verticalizar o produto. Olhando os dados do Instituto Aço Brasil, nós fortalecemos a China, que praticamente não existia há 15 anos, e hoje é a maior fábrica de aço do mundo. Se nós estivéssemos produzindo aço, essa seria uma região totalmente diferente. Nós produzimos aqui o minério de ferro, o minério de cobre, o manganês e o níquel e nenhum desses itens estão verticalizados, o que significa uma grande perda para a nossa região.
WANDER NEPOMUCENO – Na verdade, o consenso da indústria extrativa mineral é esse: economia de larga escala com baixo custo, porque a matéria prima não tem um processo de transformação, de geração de valor. É uma cadeia que dá mais valor na logística e na movimentação, que gera mais imposto e receita, que no produto em si. Na verdade, o horizonte de não-ferrosos na nossa região e com o projeto S11D, caberia um projeto mínero-metalúrgico no sudeste do Pará, o que reduziria consideravelmente a massa de matéria-prima a ser transportada e abriria a ferrovia para serviços de logística, como central de abastecimento e de produtos semi-acabados e de bens de capital. Isso seria de grande importância. Parauapebas tem, na sua visão estratégica, ser um centro de excelência estratégica na área de serviços, logística e central de abastecimento (de produtos perecíveis, de bens de capital e de produtos semi-acabados). Esse contexto é que dará produtividade e sustentabilidade ao município num horizonte de 30 anos.
BRASIL MINERAL – Alguns municípios mineradores do Pará, como Paragominas, desenvolveram ações no sentido de frear esse fluxo migratório. Existe alguma iniciativa no sentido de promover um influxo desse movimento migratório?
WANDER NEPOMUCENO – Nós temos uma diferença de Paragominas, pois somos uma passagem ferroviária, um fim de linha da ferrovia, que até hoje tem um papel social fundamental. Aqueles brasileiros menos favorecidos, a classe mais à margem do desenvolvimento da sociedade, é que vêm bater aqui na última estação.
VALMIR MARIANO – Paragominas começou com apenas uma indústria na área de bauxita, em torno de 60 mil habitantes, e conseguiram fazer esse trabalho (de promoção do influxo). Mas aqui temos uma dificuldade por conta da ferrovia, que sai do Maranhão e termina aqui. As pessoas perguntam quantos habitantes tem Parauapebas e eu respondo: antes ou depois do trem chegar?
WANDER NEPOMUCENO – A gente fala que o nordestino tinha um caminho: pegava a BR-101 e a BR-116 e descia para São Paulo. Agora, ele está pegando – no sentido contrário – a estrada de ferro Carajás e batendo em Parauapebas. Nos últimos 10 anos isso acontece com uma força muito maior.
BRASIL MINERAL – Tem muita gente que vem para as obras, por exemplo, S11D e quando o projeto termina existe a tendência de se deslocarem para um município maior.
VALMIR MARIANO – Eles não voltam para suas origens, pois apesar de todas as dificuldades aqui ainda é melhor que de onde vieram. Essa é uma dificuldade que estamos enfrentando e que ainda não conseguimos equacionar. Na verdade, melhora a região de onde vieram e piora aqui. E esse fluxo migratório causa esse impacto.
BRASIL MINERAL – A nova geração que está se formando vai demandar empregos e a capacidade de absorção da mineração é limitada. É preciso desenvolver alternativas de outras atividades que possam dar empregabilidade a esses jovens, que são os filhos de Parauapebas. Caso contrário isso poderá gerar um problema social. O que está sendo feito neste sentido?
WANDER NEPOMUCENO – Já gera problemas sociais. Onde eu moro estão acontecendo obras de reengenharia desde a parte de infraestrutura a edificações públicas, como escolas, unidades básicas de saúde, unidades de atendimento à população em geral. Com a dinâmica da cidade e sua expansão demográfica, isso está mantendo esse aquecimento na construção civil. Mas isso tem um ciclo e numa determinada hora a cidade vai acabar ficando pronta, vai acabar essa expansão e teremos que criar alternativas para absorver essa mão-de-obra (seja no comércio, no serviço, na área de logística, nos grandes atacados, nas grandes indústrias) que estará sendo formada na região através das escolas técnicas e das grandes universidades que estão vindo por ai. A orientação do prefeito é que o município de Parauapebas assuma um papel de líder regional e essa questão vem sendo tratada como de intercâmbio entre os municípios, que poderão, através de consórcio, desenvolver algumas vertentes, como fontes renováveis de energia. Nós pretendemos criar um centro de conhecimento, um centro de excelência em Parauapebas com recursos da CFEM para investimento na educação e na infraestrutura tecnológica e de laboratório. Nosso município vizinho, Eldorado de Carajás, precisa de uma ajuda nossa e tem terras agricultáveis, uma topografia adequada que pode ser mecanizada e tem extensão agrícola. Fazendo esse intercâmbio, esse consórcio, estaremos favorecendo toda a região sudoeste do Pará. Essa é uma orientação do prefeito – não pensar só no município, mas na região, e no que podemos fazer pelos nossos vizinhos.
BRASIL MINERAL – Até para atender ao próprio setor de mineração, pois daqui a alguns anos não existirá somente o Projeto Carajás. Vão existir vários outros projetos no entorno de Parauapebas. Existem vários outros projetos no entorno de Carajás e a partir do momento que se tem esse Centro de Excelência e Capacitação isso pode ajudar…
WANDER NEPOMUCENO – Nós chamamos de Centro de Excelência, de Capacitação e de Conhecimento – termos tecnológicos na área de educação propriamente dita, de conhecimento do agronegócio, de fontes alternativas de energia e também na área de gestão de alimentos, com central de distribuição, além de atrair para cá toda essa cadeia da indústria de alimentos nessa região que está crescendo e assim continuará, por conta da mineração. Depois de 2018 essa região terá um destaque mundial fantástico, com o produto mineral. Isso poderá ser bom ou ruim, dependendo de como captarmos essa oportunidade.
É o que pretendemos fazer com o Centro de Referência, que vai gerar muitas divisas e a qualidade de vida pode ser melhorada com essas divisas, pois estaremos produzindo 250 milhões t/ano de minério de ferro, um minério de excelente qualidade, que já criou um grau de dependência dos parques siderúrgicos chineses. Aliás, a economia chinesa é a fábrica do mundo e ela trata as coisas em médio e longo prazo, pois tem problemas muito maiores que os nossos, de migração externa, de estrutura ideológica, crescimento, geração de emprego, trabalho, alimentação, etc. Temos que acompanhar isso e esse vínculo já foi criado. Precisamos entender como a China pode nos ajudar – eles têm linhas de financiamento para nos ajudar nas áreas de agricultura, energia eólica, energia solar e toda essa parte de conhecimento, e financiar, através
de convênios com o país asiático, o centro tecnológico de Parauapebas.
BRASIL MINERAL – Além da JOY Global, vocês estão negociando com outras empresas?
WANDER NEPOMUCENO – Já tem mais uma – que vou deixar de citar o nome, por questão de confidencialidade. A outra é a Esco. As duas estão certas. A terceira, monitorada em recente visita que eu e o prefeito fizemos na Vale, está ciente de todos esses movimentos. Inclusive, o Polo Integrado de Mineração é patrocinado por ela e ela tem isso como excelência, porque no final vai ter seu custo reduzido. O custo do frete de um motor de média potência, que poderia ser recuperado aqui no município de Parauapebas, é altíssimo, pois vai para a região de Betim e Contagem, em Belo Horizonte, MG. E quem acaba pagando a conta é a Vale e ela tem como negociar a redução de preços e serviços através do nosso centro do distrito industrial. Então, num primeiro momento, a JOY está fazendo um acordo com a Vale e está em possibilidade de ser anunciada brevemente a compra de seis escavadeiras 4.100 – uma coisa fantástica. Dá para imaginar o centro que virá por detrás disso. É a maior frota de escavadeiras desse porte no mundo e vai estar aqui. E eles não vão vir aqui à toa para montar um centro de excelência que ainda não tem no Brasil. O objetivo é formar um centro de excelência em âmbito mundial. Dentro dessa linha, temos uma formação muito sólida na área de engenharia mecânica. Eles falaram diversas vezes no investimento do centro de excelência e uma hora enxergaram a dimensão e a importância disso.
VALDIR MARIANO – Isso agrega valor, qualifica e enriquece a mão de obra. E começamos a gerar empregos.
WANDER NEPOMUCENO – O interessante é que cada emprego gera mais cinco. Vem a parte de serviços, de refeitório, limpeza, de apoio operacional. Essa qualificação gera salários mais altos, que exigem, na outra ponta, melhor condição de vida e moradia. Tudo isso cresce através do setor privado, puxado por uma iniciativa nossa de estar criando um ambiente empresarial com o centro de excelência.
BRASIL MINERAL – O desenvolvimento de fornecedores locais também é uma política provocada pela mineração?
VALDIR MARIANO – Já foi mais forte. Há alguns anos, o processo de licitação e de compra de serviços era feito na nossa região e hoje acontece em Belo Horizonte – as decisões são tomadas lá, onde existem as empresas do entorno. Com isso, tivemos uma perda significativa. Quando as decisões, as licitações, eram na região, o volume de empregos e de empresas era muito maior. Estamos antenados na compra de produtos, na própria fabricação e manutenção de equipamentos.
BRASIL MINERAL – Vocês estão pleiteando isso?
VALDIR MARIANO – Estamos insistindo.
WANDER NEPOMUCENO – Em uma reunião, o presidente da Vale falou da importância de ter esse centro de compras e também do centro de engenharia. Hoje a engenharia da Vale foi para Belo Belo Horizonte e no seu entorno se instalaram as empresas de engenharia internacionais (australianos, canadenses, sul-africanos), mas o projeto é aqui. O valor agregado que roda a economia do município teve a receita evadida para BH. Quando vem para campo, é apenas para executar. A mão de obra, a base da pirâmide, que é mais qualificada para gerar emprego e renda através do serviço prestado por ela, fica em BH.
VALDIR MARIANO – Uma das grandes perdas que tivemos foi exatamente essa. Porque foi contra a política da empresa, que é de desenvolvimento regional.
WANDER NEPOMUCENO – Isso até está no DNA da Vale — mina ferrovia e porto. E sistema integrado é desenvolvimento regional. No início da década de 1990, a Vale criou o desenvolvimento regional. Com a privatização, ela modificou esse DNA e de uns tempos para cá até tentou refazer, mas de forma muito tímida e pouco consistente. Ela criou centro de tecnologia em São Bernardo do Campo, Vitória, Belo Horizonte e Ouro Preto. Aqui no Pará criou um, mas que não é da mineração. O centro criado em Ouro Preto é uma referência mundial. Fizeram um de logística em São José dos Campos. Nós, que temos aqui um minério de excelente qualidade, que sustenta 70% da receita da Vale e 85% de seu lucro, não somos contemplados com nenhum. A relação com a Vale é muito forte. Quando se estabelece serviços e não há a relação de subserviência, existe reciprocidade.
BRASIL MINERAL – Na Austrália existem centros próximos a regiões mineradoras que hoje estão exportando serviços…
WANDER NEPOMUCENO – Exatamente. Ficam em contêineres, no meio do deserto, e geram conhecimento para o mundo inteiro. Nós estamos no meio da Amazônia, uma região bonita, e não vamos fazer isso? Lá o cara só tem duas opções: ou ele dorme ou ele trabalha. Não tem muito o que fazer.
BRASIL MINERAL – Na questão da habitação o prefeito mencionou um déficit de 27 mil unidades habitacionais…
VALDIR MARIANO – Durante meu período de campanha, me comprometi com a sociedade de Parauapebas com 5 mil unidades habitacionais, mas não sabia desse déficit. Quando cheguei no governo, dobrei esse numero e hoje são 10 mil unidades habitacionais, sendo que 5 mil estão em andamento e as demais em processo licitatório. Já compramos a área, inclusive. Mas sabemos que temos que buscar outros recursos. Já entrei em contato com a secretaria de Habitação e também estamos em contato com a Vale e o Ministério das Cidades para ampliar isso. A dificuldade está no fato de o Ministério olhar o censo do município, que diz que são 170 mil habitantes e estarmos com 278 mil. Outra dificuldade é que as pessoas não têm documentos básicos para inserir no cadastramento da secretaria de Habitação para o programa “Minha Casa, Minha Vida”. Muitas vezes é preciso ir ao município de origem para obter esses documentos e dar apoio a essa pessoa para se formalizar e virar cidadão. Precisamos muitas vezes providenciar acompanhante para pegar os documentos básicos e formalizar o processo de inserção nesse projeto. Outra coisa interessante é que o “Minha Casa, Minha Vida” não se enquadra sem a contrapartida do município. Uma unidade habitacional hoje está entre 60 e 70 mil reais. A empresa compra o terreno, constrói a casa e faz toda a infraestrutura, inclusive de esgoto. Mas isso não é possível aqui, pois os terrenos são caros demais e a conta não fecha. E a mão de obra é muito cara, o que nos obriga a entrar com uma contrapartida de 30% a 50% da unidade habitacional. Estamos fazendo agora um desfavelamento na maior favela de Parauapebas e a contrapartida é de quase 50% do governo federal e 50% município.
WANDER NEPOMUCENO – Existia uma especulação e a explosão aconteceu entre 2006 e 2008, voltando depois em 2010/2011. São dois momentos distintos. Houve uma explosão no valor do metro quadrado no mercado. No lançamento de um bairro, o incorporador vendeu 31 mil lotes e de uma venda para outra ele dobrou o preço. Em 2007, a Vale fez um diagnóstico que apontou um déficit de 98 mil unidades habitacionais na região que era de influencia direta da empresa. Num desses empreendimentos veio a WTorre para cá, uma empresa de grande porte, que despertou atenção. Temos também um shopping, de um piso, que tem 4 anos, e que despertou a atenção de lojistas nacionais que antes só olhavam para a capital. São lojas com expressão de vendas proporcionais dentro da região Norte. Um impacto positivo para a região. Daqui para o final do ano vamos receber uma loja de departamentos de Santa Catarina, num terreno Próximo ao shopping, o que vai gerar muitos empregos – cerca de 1.200 diretos. Temos também um investimento do Íbis – rede hoteleira, com centro de conveniência e centro de convenções. São duas torres, uma com 300 e a outra com 250 apartamentos. Todos dotados de centro de convenção e lojas de conveniência – áreas multiusos.
BRASIL MINERAL – Quanto está sendoinvestido nessas obras no município?
WANDER NEPOMUCENO – O orçamento da infraestrutura é de R$ 750 milhões, valor que é multiplicado por 4 na iniciativa privada. Estamos perto de investimentos de R$ 3,5 bi a R$ 4 bi. Isso é o que o município gera em toda a região. O orçamento total do município para 2014 é de R$ 1,325 bilhão e para 2015 a proposta é de R$ 1,350 bilhão. Destes valores, R$ 705,3 milhões estão sendo destinados a projetos de desenvolvimento social em 2014 e para 2015 prevemos um investimento de R$ 628,4 milhões.
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