Levantamento feito pelo Disque-Denúncia do sudeste do Pará, ao qual o DIÁRIO teve acesso, revela que o quadro de violência no interior do Estado é muito mais grave do que admite o governo de Simão Jatene. Nos últimos três anos, os registros de atos violentos e delitos cresceram 500% nas centrais de Marabá e Parauapebas. As duas centrais atendem a 39 municípios da região, com cerca de 1,9 milhão de habitantes. O aperfeiçoamento nas metodologias de trabalho do Disque-Denúncia permitiu traçar com maior precisão a situação de insegurança desses municípios.
Nos primeiros 8 meses deste ano, as duas centrais receberam mais de cinco mil ligações. “É um número bastante elevado de ligações, que resultaram, até o momento, em quase três mil denúncias”, observa a coordenadora do Disque-Denúncia na região, Hellen Araújo. Em 2013, as ligações não passavam de mil. Os crimes mais denunciados, entre janeiro e agosto último, são tráfico de drogas, homicídios, roubos a residências e de veículos.
O tráfico de drogas teve quase 400 ligações este ano. Somado com o ano passado, o total dessas ligações chega a 900, vindas principalmente dos municípios de Marabá, Parauapebas, Eldorado do Carajás, São Domingo do Araguaia, Bom Jesus do Tocantins, São João do Araguaia, Canaã dos Carajás e Tucumã.
TRANSPARÊNCIA
Não é por acaso que Marabá, Altamira, Marituba e Ananindeua engrossam a lista de municípios mais violentos do País, segundo o Mapa da Violência, do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea). Até mesmo a Polícia Civil tem dificuldade de acesso aos dados oficiais. “Os dados são sempre com foco na região metropolitana da capital. Falta transparência”, reclama o vice-presidente do Sindicato de Policiais Civis do Pará (Sindpol), Pablo Farah.
Segundo ele, a distância da capital aumenta também a distância do Governo dos problemas que o interior vem passando. Operando com mais de dez mil informações armazenadas em banco de dados, o Dique-Denúncia dá suporte ao poder público estadual no trabalho de inteligência, segundo a coordenadora do serviço. Os relatórios e boletins feitos pelo Disque-Denúncia são encaminhados ao Governo.
Para Hellen, a eficácia do Disque-Denúncia – baseado em denúncias feitas por telefone e whatsapp – deve-se, em grande parte, à regionalização do serviço, com metodologia que incorpora as características geográficas, sociais e comportamentais da região. Com a ineficiência da segurança pública do Pará e a descrença da sociedade na atuação do Governo Jatene, a população paraense recorre cada vez mais ao Disque-Denúncia. Mantido com apoio do setor privado, o serviço é administrado pela ONG Instituto Brasileiro de Cultura e Cidadania.
NÚMEROS DE 2017
– Até setembro são 3.340 mortes violentas no Pará.
– O Estado está com taxa de 39,9 mortes por 100 mil habitantes.
– São 2.845 registros de homicídios em território paraense, sendo 1.767 no interior do Estado. É a maior taxa entre os Estados da Região Norte.
– Foram, ainda, 7.617 mil casos registrados de roubos em apenas 17 municípios do Pará. Desses, quase 5 mil roubos foram em Marabá e Parauapebas. Em seguida, vem Tucuruí com 1.050 roubos no período.
– O número de assassinatos também é elevado: cerca de 400 homicídios registrados nos mesmos dezesseis municípios do interior. Mais da metade desse total ocorreu em Marabá, Parauapebas e Tucuruí.
Grupos de extermínio agem livremente na região
Chacinas, extermínios e mortes por encomenda fazem parte da rotina de crimes no Pará, com o aumento da violência urbana e rural no Estado. Segundo relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Pará é o estado mais violento no campo, com o registro de 37 mortes nos primeiros 5 meses deste ano. Incluído nesta cruel estatística está o massacre de Pau d’Arco, no sudeste paraense, ocorrido em maio último, com 10 trabalhadores rurais mortos.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), Carlos Bordalo, diz que o governo do Estado demorou a admitir a ocorrência de homicídios praticados por grupos de extermínio. “Todos os dias tem mortes por execução no Pará, algumas com 12, outras com 26 assassinados”, contabiliza o presidente da Comissão da Alepa. O professor Assis da Costa Gonçalves, da Universidade Federal do Pará (UFPA), estava em Altamira nos primeiros dias de outubro, quando mais chacinas ocorreram, como os assassinatos de 10 pessoas em 3 dias. “As perspectivas são muito difíceis, com grandes grupos de criminosos de outros Estados na região. Altamira passa por um processo explícito de extermínio de rivais”, diz o professor, especializado em cidadania e justiça social. Para Gonçalves, é preciso intervenção emergencial da Segurança Pública no município, com aumento de investimentos em inteligência, no efetivo policial, em equipamentos, além de qualificação de pessoal. O foco central do problema é o aumento da desigualdade social na região. “Pobreza e marginalização do acesso a serviços básicos fomentam a criminalidade”, afirma.
(Livia Ferreira/Diário do Pará)
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