Se a maior produtora de minério de ferro do mundo conseguir o que deseja, os dias de fortes oscilações de preços vão acabar.
Após um ano no cargo, o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, busca uma abordagem disciplinada, mantendo dezenas de milhões de toneladas inexploradas todos os anos para evitar outro excedente doloroso, como o que derrubou os preços a menos de US$ 40 por tonelada em 2015. Mas se parecer que os preços estão caminhando novamente para mais de US$ 100, como na época do superciclo, ele também está preparado para defender o status quo e liberar essa capacidade ociosa no mercado.
O fato de o executivo de 64 anos sentir que é sua responsabilidade manter um mercado moderado para o ingrediente usado na siderurgia é notável: na semana passada, a Wood Mackenzie identificou a Vale como única produtora capaz de adicionar uma oferta significativa de minério de alta qualidade oriunda das novas operações na Amazônia brasileira.
“Se e quando houver uma mudança no mercado que faça os preços dispararem, a Vale colocará mais produção no mercado”, disse Schvartsman, em entrevista na sexta-feira na sede da Bloomberg em Nova York. Isso aconteceria se os preços “se aproximassem perigosamente dos US$ 100”, disse.
Por enquanto, esse cenário parece distante.
Em março, os preços caíram em um bear market porque os investidores estavam preocupados com a demanda mais fraca que a esperada na primavera chinesa, com um estoque recorde acumulado nos portos da parte continental do país e com as crescentes tensões comerciais. Apesar de o preço ter se estabilizado nas últimas semanas, o patamar de US$ 66,55 ainda está 16 por cento abaixo do pico registrado no fim de fevereiro em meio a temores persistentes em relação aos estoques chineses. Os futuros em Cingapura voltaram a cair nesta segunda-feira, registrando um recuo de 2,7 por cento, maior declínio intradiário em um mês.
O governo australiano prevê uma queda da matéria-prima em 2019 com a estabilização das importações chinesas e as novas minas, como a oferta da S11D, da Vale. Na semana passada, a Wood Mackenzie fez coro à perspectiva comparativamente otimista da Vale, afirmando que o preço de referência permanecerá “confortavelmente acima de” US$ 60 a longo prazo.
Para a empresa com sede no Rio de Janeiro, o ideal é que os preços continuem na faixa atual de US$ 60 a US$ 80. À parte a decisão da Vale de não operar a plena capacidade, esse piso de US$ 60 é respaldado pelos custos elevados de produção das operadoras menos eficientes.
A busca da China por um setor siderúrgico mais eficiente e menos poluente está criando um mercado global de minério de ferro mais segmentado, com pagamentos de prêmios maiores por minérios de qualidade superior. Graças a esse impulso inesperado, a Vale caminha para o terceiro aumento consecutivo nos lucros anuais e ajuda Schvartsman a domar uma carga de dívida que já foi a maior do setor.
Com o bom desempenho das ações e dos títulos da Vale e os dividendos em alta, é fácil entender por que o CEO está satisfeito em produzir 390 milhões a 400 milhões de toneladas por ano em um futuro próximo, embora a empresa tenha uma capacidade nominal de 450 milhões de toneladas.
Mas, se necessário, o excedente está à disposição. “Temos capacidade de levar em três meses até 50 milhões de toneladas de minério por ano ao mercado”, disse ele.
Com pouca experiência direta na mineração antes de assumir o comando da Vale, Schvartsman pegou gosto pelo setor e afirma que quer continuar no cargo após o fim do contrato atual, no ano que vem. (Bloomberg)
Comentários com Facebook