O verão que castiga a região amazônica suscita uma discussão preocupante: o Rio Itacaiúnas vai morrer em 30 anos como profetizam os estudiosos ou já está quase morto? Uma expedição realizada durante seis dias por uma equipe da Fundação Casa da Cultura de Marabá, na última semana, constatou que a morte está próxima e o enterro encomendado.
Liderada pelo biólogo Noé von Atzingen, e acompanhada por Bruno Scherer e Gabriel Silva, a expedição se deu nesta etapa ao alto Itacaiúnas e constatou que em alguns lugares o rio está completamente cortado, sem um único fio de água correndo.
A equipe fez pesquisa no Itacaiúnas à altura do município de Água Azul do Norte, onde terminam as áreas de fazendas com pastagens e inicia-se a Floresta Nacional de Carajás. “Como nossa canoa não pôde navegar no rio seco, tivemos que percorrer a pé por cerca de 10 km. Nesta região, o rio está muito estreito e tem em média 50 metros de largura. E mesmo assim está seco, apresenta apenas de longe alguns poços, ou seja, locais mais fundos com água totalmente parada e repleta de algas e pouquíssimos peixes”, informou Noé.
Ele também observa que nas margens da área percorrida deveriam ter seis pequenos afluentes e nenhum deles tinha uma gota de água. A conclusão dos pesquisadores é que o desmatamento destruiu as nascentes, grotas e igarapés e, consequentemente, não levam mais água para o Itacaiúnas. “O resultado é óbvio: o rio está morrendo e o desmatamento provoca, também, o assoreamento e está tudo associado à diminuição das chuvas regionais e o aumento expressivo da temperatura tem contribuído para esta situação, chegando a um ponto irreversível”, analisa o biólogo.
Como não há mais água superficial na região, os poucos animais silvestres que restam, ficam percorrendo o “leito” do rio em busca de água e são abatidos impiedosamente pelos caçadores de plantão.
No começo e no fim
Apesar de protegida por lei, a mata ciliar do rio Itacaiúnas, no trecho que passa no interior da cidade de Marabá, aos poucos está sendo suprimida. Um dos fatores que mais contribuem para o agravamento do problema é o crescimento da malha urbana, onde casas e condomínios são construídos em áreas próximas ao leito do rio. Outro fator que contribui enormemente para a supressão da vegetação marginal ao corpo hídrico são as olarias estabelecidas na região próxima à confluência dos rios Itacaiúnas e Tocantins.
Algumas das consequências da atividade oleira já podem ser vistas por quem passa na ponte sobre o rio. Em períodos de estiagem, bancos de areia, às proximidades da ponte, e onde está localizada a citada atividade mineral, tornam-se cada vez mais visíveis. Esse impacto é sintoma da ausência de vegetação, uma vez que deixa de oferecer proteção às águas e ao solo, causando erosão e aumentando o assoreamento nas margens do rio, não evitando, assim, o aporte de poluentes para o meio aquático.
Muitos são os fatores que têm contribuído para o massacre do rio Itacaiúnas e que, na maioria das vezes, não são percebidos, algumas vezes por displicência da população, outras vezes pela inércia dos poderes públicos, que não fazem cumprir as leis de proteção ambiental.
(Ulisses Pompeu com informações de Noé von Atzingen)
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