O ritual “Amiy Kadjy Metoro” ocorre quando os meninos do povo Xikrin passam da infância para a adolescência, por volta dos 13 ou 14 anos. Consiste em os jovens da aldeia comprovarem que são guerreiros derrubando uma casa de marimbondos, em referência às guerras travadas contra aldeias inimigas. Na próxima terça-feira (19), Dia do Índio, os membros da Aldeia Djudjê-kô, localizada na Terra Indígena Kateté, onde há ainda outros dois aldeamentos, farão o ritual de passagem de seus jovens, que será aberto a convidados.
De acordo com Eric de Belém Oliveira, coordenador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai), a comunidade Xikrin tem procurado maior proximidade com as pessoas de fora das aldeias. “O objetivo é socializar um pouco dos costumes e das tradições da comunidade e esse é um dos rituais dentre outros vários da cultura Xikrin que apresenta a passagem da criança para o estado adolescente. Eles precisam mostrar que são guerreiros e várias crianças, obrigatoriamente, têm que demonstrar a coragem e a força do povo. É uma tradição antiga”, explica.
Os membros da aldeia escolheram justamente o Dia do Índio para socializar o ritual e também promoverem algumas denúncias acerca da atual situação dos povos indígenas. Durante todo o dia eles pretendem atuar na desconstrução da visão equivocada que muitas vezes se tem da população indígena e apresentar um pouco da própria cultura, da relação com o meio ambiente e de outras formas de organização social.
“Há, ainda no âmbito da cultura, atividades restritas às mulheres e outras restritas aos homens. Eles passam, geralmente, toda a noite e o dia dançando e entoando cantigas tradicionais. É um momento de efervescência muito grande na aldeia e eles se sentem bastante animados e honrados com as presenças externas tendo acesso à cultura deles”, observa Oliveira.
A Funai orienta que os não indígenas que pretendam participar da cerimônia colham algumas orientações junto ao órgão federal para evitar situações constrangedoras no aldeamento. “Devido ao desconhecimento da cultura deles a gente tenta orientar as pessoas a como se comportarem da melhor maneira no ambiente indígena e também procura fazer recomendações para não ocorrer mal estar por desconhecimentos”, diz, exemplificando com situações já ocorridas anteriormente nos espaços indígenas.
Conforme Oliveira, todos devem interagir com os membros da aldeia, porém tentando não impor nuances da própria realidade. “O objetivo é justamente o contrário, é eles apresentarem um pouco da sua cultura, da sua realidade, ao sujeito não indígena”.
A aldeia onde ocorre o evento está jurisdicionada ao município de Parauapebas, mas fica a 600 Km de Marabá, próxima ao município de Água Azul do Norte. Este é apenas um dos rituais realizados ao longo do ano para reforçar a passagem das crianças para a fase de adolescentes guerreiros. Também há um conjunto de ritos para as passagens das mulheres. Em toda a terra indígena vivem aproximadamente 2.600 pessoas da etnia, que devem participar da festividade.
(Luciana Marschall)
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