O diretor da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia (Cainqueama), Paulo Sérgio Almeida Nascimento, de 47 anos, foi assassinado com quatro tiros por homens que invadiram a casa dele, na madrugada desta segunda-feira, 12, dizendo estarem à procura, também para matar, de outro diretor da entidade, Bosco Oliveira Junior.
Paulo Sérgio – agora tachado por policiais como usuário de drogas – era pintor e uma das pessoas na Cainqueama encarregadas de criar as faixas nos protestos contra a Hydro e outras multinacionais que são combatidas pelas 105 comunidades do município. Bosco Oliveira, porém, não estava na casa de Paulo Sérgio, como imaginavam os criminosos.
Sobrou para Paulo Sérgio, segundo vizinhos que acordaram com os tiros dentro da residência. Os assassinos fugiram. As comunidades estão muito assustadas, principalmente os diretores da entidade, como Maria do Socorro Silva, líder quilombola do Burajuba e presidente da Cainqueama.
Ela já teve por sete vezes a casa invadida por homens armados, inclusive PMs comandados pelo tenente Gama, sofrendo todo tipo de constrangimento e ameaças. O comandante da PM no município, major Camarão, chegou assumir nas redes sociais ter autorizado Gama a invadir a casa de Socorro do Burajuba, alegando que a PM tinha ordem para prender Bosco Oliveira.
Camarão, no final de janeiro passado, depois de denúncia feita ao comando-geral da PM em Belém pelo promotor militar Armando Brasil, foi removido do município e hoje atua na corregedoria da PM em Tucuruí. Bosco Oliveira, por ser um dos líderes mais combativos da Cainqueama, chegou a ter sua foto estampada num aplicativo de taxistas de Barcarena, com a “cabeça a prêmio” por R$ 40 mil.
Ele acusa a norueguesa Norks Hydro, policiais militares do 14º Batalhão da PM de Barcarena e o próprio prefeito do município, Carlos Antonio Vilaça, de estarem por trás das perseguições e ameaças de morte. “Não devo nada à Justiça e tudo isso contra mim acontece pela minha luta junto aos outros companheiros da Cainqueama. O dinheiro dos poderosos corrompe muita gente e a minha vida não vale nada para eles”, desabafou ao Ver-o-Fato.
Socorro do Burajuba, cujo marido está com câncer e ela própria padece da doença por ambos, como todos os moradores das comunidades, beberem a água contaminada por rejeitos químicos da Hydro e de outras multinacionais da região – que já mataram rios, igarapés, roçados e poços artesianos -, foi taxativa sobre as ameaças que recebe: “o governador Simão jatene é o fiel depositário de nossas vidas (diretores da Cainqueama). Se algo de ruim acontecer a nós, ele será o culpado”.
Alegação descabida
O assassinato de Paulo Sérgio não surpreende, pois era uma das mortes anunciadas na região. Foram solicitadas garantias de vida para os diretores da Cainqueama, como Bosco Junior, Socorro do Burajuba e outros diretores, inclusive Paulo Sérgio. Em 19 de janeiro passado, num ofício com o carimbo de “urgente”, o promotor militar Armando Brasil pediu à Secretaria de Segurança Pública do Pará (Segup) proteção para diretores ameaçados.
O então secretário de Segurança, Jannot Jansen, ao responder no dia 6 de fevereiro ao ofício do promotor militar, negou a proteção solicitada para os diretores da Cainquema. Alegou que um deles, Bosco Oliveira Junior, respondia a processo judicial por invasão de terra, crime ambiental e ameaças, como se isto apagasse a dignidade do ameaçado em receber o benefício. Outro diretor, Fernando Silva, segundo o general, violou a “lei seca”.
A alegação do general, substituído dias depois por Luiz Fernandes, que deixou a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) para voltar a exercer o cargo que anteriormente ocupava, foi uma evasiva para negar a proteção. Se negar o direito a um ameaçado, argumentando processo contra ele, o governador Simão jatene, que responde a processo por corrupção no Superior Tribunal de Justiça (STJ), não teria também direito à segurança, embora seja o mandatário do estado.
Federalização urgente
Em contato agora pela manhã com os procuradores do Ministério Público Federal (MPF), Alan Mansur – chefe do órgão no Pará – e Bruno Valente, que está à frente dos processos em que o MPF atua contra a multinacional Hydro e outras empresas poluidoras da região, o advogado Ismael Moraes solicitou que seja deslocada para a área federal, inclusive com a entrada da Polícia Federal no caso, a competência para investigar as ameaças e o crimes já perpetrados contra ativistas de Barcarena.
“A resposta do general é a prova de que a segurança pública no Pará está falida faz tempo e não garante nem a vida dos policiais que tombam todos os dias nas ruas do Pará, combatendo a criminalidade, quanto mais de lideranças que enfrentam empresas poderosas, ligadas ao governo Jatene”, afirmou Ismael Moraes. Mais informações aqui
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