Wasington Novaes – Novos estudos revelam: população empobrecida, nos países do Sul do planeta, está quase duas vezes mais exposta aos piores tipos de poluição do ar. Três milhões morrem prematuramente por ano
Sabe o eventual leitor o que há de novo no ar urbano que respira? Sabe a que riscos está exposto? E sabe a que estão possivelmente sujeitas mais de 1 bilhão de pessoas moradoras em áreas costeiras, segundo novo relatório da organização Christian Aid? Já o estudo sobre o ar urbano da Organização Mundial de Saúde (OMS-ONU) divulgado há poucos dias (Eco-Finanças, 16/5) confirma aquilo que 80% das pessoas que vivem em áreas urbanas, inclusive no Brasil, sentem no seu próprio corpo todos os dias: o baixo nível da qualidade do ar, inferior ao mínimo recomendado pela OMS.
Os moradores de baixa renda em 98% das cidades com mais de 100 mil habitantes em países pobres são os que mais sofrem; nos países mais ricos, são 56% os que sofrem com as concentrações elevadas de pequenas partículas no ar – as que contêm sulfato, nitratos e carbono negro. A poluição aumenta os riscos de acidente vascular cerebral, cardiopatia, câncer do pulmão e doenças respiratórias agudas (principalmente asma), a ponto de provocar mais de 3 milhões de mortes prematuras por ano.
De 2008 a 2013 a poluição na atmosfera urbana cresceu 8% em 795 cidades de 67 países. Nações do Oriente Médio e da Ásia são as mais problemáticas; as da Europa, menos. A Grande São Paulo tem poluição média de 19 microgramas de material particulado (2,5 por metro cúbico) na atmosfera, cerca do dobro aconselhado pela OMS. E a cidade mais atingida é Santa Gertrudes (SP), por causa da indústria de cerâmica, com índices várias vezes acima do recomendado. Cubatão tem 31 microgramas; Rio Claro, 26.
As recomendações são as de sempre: reduzir emissões industriais; aumentar o uso de energias renováveis; dar prioridade a sistemas rápidos de transporte e deslocamentos a pé ou de bicicleta – fundamentais para reduzir o número de mortes prematuras no mundo por causa da poluição, de milhões de pessoas por ano (Valor Econômico, 9/5) entre as 55% que vivem em cidades (e que devem chegar a mais de 70% em 2050). Tema pouco versado é o da presença de dióxido de carbono no cimento, que emite em CO² o equivalente a mais de 80% do peso do cimento e responde por 5% da geração desse elemento no mundo (Corporate Knights, 29/4). Entre 2006 e 2050 a produção mundial de cimento deve aumentar entre 3,7 bilhões de toneladas métricas e 4,4 bilhões.
Por outro ângulo, mais uma preocupação nessa área “ambiental – embora esta pareça ter agora uma perspectiva de solução. Estudo lançado no final de março mostra um caminho com expansão de práticas em sistemas integrados à agropecuária, de modo a alcançar maior lucratividade sem desmatar novas áreas e sem gerar problemas na questão do clima. “Se não fizermos um trabalho rápido de adaptação, o agronegócio estará ameaçado”, adverte Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária em Campinas (SP), em parceria com o Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas e com a embaixada britânica (Eco-Finanças, 2/5).
Assegura a pesquisa que, mediante integração com a lavoura e o aumento da lotação de animais por hectare – dos atuais 1,55 para 2,2 – é possível melhorar o solo, ampliar o rebanho brasileiro (dos atuais 200 milhões de cabeças para 324 milhões) e ainda neutralizar as emissões de gases do efeito estufa em dez anos. Mais: “Ao abranger 100% das atuais pastagens no País (hoje, 169 milhões de hectares), o modelo de maior eficiência e baixa emissão causaria impacto positivo de R$ 35,8 bilhões no produto interno bruto por ano, considerando o efeito multiplicador na cadeia produtiva”.
As consequências poderão ser ainda maiores, com se verá no novo inventário brasileiro de emissões a ser divulgado ainda neste primeiro semestre: “No cenário menos otimista, abrangendo um quarto das atuais áreas produtivas, o aumento no PIB seria de R$ 9 bilhões por ano, estimulando inclusive a reaplicação no campo”. E com isso, dizem a Embrapa e GV Agro, “a carne brasileira, que já apresenta preço competitivo no mercado externo, poderá ampliar espaço” e confirmar um potencial ainda maior na retirada do carbono da atmosfera.
Os divulgadores dos estudos afirmam que, como se pode ver em trabalho conjunto das Universidades de São Paulo e de Edimburgo, “o aumento do consumo da carne, ao contrário do que se imaginava até agora, tende a reduzir – e não aumentar – as emissões atmosféricas da pecuária de corte”: uma demanda 30% mais alta em 2030 causaria uma redução de 10% nas emissões totais; e uma redução de 30% no atual consumo de carne “significaria um aumento de carbono de 9%”. De que forma? “A pressão da demanda força o aumento da produtividade, com mais gado por hectare e redução do desmatamento”. Seria possível economizar R$ 1 bilhão em custos de energia e reduzir em pelo menos 16 milhões de toneladas de dióxido de carbono as emissões para a atmosfera, segundo a organização internacional Carbon Trust. Já há aplicações práticas em propriedades em Cocalinho (MT) e no Vale do Araguaia, no total de 50 mil hectares, que se espera cheguem a 350 mil toneladas em cinco anos. E até mesmo contribuam para a recuperação de pastagens degradadas.
São muitas notícias nessa área. E é fundamental prestar atenção a elas, diante das informações de que o mês de abril mais quente já registrado em São Paulo “acaba de bater também um recorde”, pois a temperatura máxima de 16,5 graus Celsius, registrada no dia 29, foi “a mais baixa para uma tarde de abril nos últimos 45 anos” (Estado, 30/4). E a mínima de 11,8 graus, a menor do ano.
Poderemos ter dias difíceis à frente para a agropecuária. Está até em discussão um projeto de lei sobre o uso do solo e da água no meio rural, feito pela Agência Nacional de Águas e por ministérios federais. Segundo a ONU, 33% do solo no mundo já está em situação de risco.
Comentários com Facebook