A prática, contudo, pede cuidados. Para algumas pessoas ou quando há excesso, pode gerar frustração.
Nem sempre é possível evitar os sentimentos ruins, e existem dias em que tudo parece que vai dar errado. Porém, pesquisadores da Universidade da Califórnia em Irvine afirmam que uma das soluções está no seu bolso. Psicólogos da instituição sugerem que os celulares podem ser utilizados para melhorar o humor e reduzir o estresse. Basta ligar a câmera e tirar uma selfie. Outros tipos de fotos, como de paisagens ou de situações agradáveis, também ajudam. Porém, é preciso cuidado, pois o exagero na produção das fotografias tende a causar frustração, conflitos nos relacionamentos e até indicar transtornos de personalidade.
A pesquisa, publicada recentemente na revista Psychology of Well-Being, foi realizada com 41 estudantes de uma universidade pública dos Estados Unidos. Durante quatro semanas, os jovens, com idades entre 18 e 36 anos, responderam a três questionários diários que mediam seus níveis de humor e de estresse. Além disso, eles tiraram uma foto por dia por meio de um aplicativo desenvolvido pelos pesquisadores.
Os participantes foram divididos em três grupos. No primeiro, eles deviam tirar selfies em que apareciam sorrindo. No segundo, a missão era produzir imagens que deixassem os próprios voluntários felizes. O terceiro grupo, por sua vez, precisava criar fotos que tornassem pessoas próximas felizes. Esse último grupo devia, ainda, compartilhar as imagens por aplicativos, e-mail ou redes sociais. Somente os participantes que tiravam selfies podiam aparecer nas fotografias produzidas. Segundo os resultados, as selfies se mostraram capazes de melhorar o humor, mesmo em situações mais difíceis. “Uma das minhas selfies foi tirada quando descobri que um amigo havia morrido. O sorriso era falso, mas pensei que, se eu conseguisse me ver sorrindo em uma foto, as coisas ficariam bem pelo resto do dia”, disse aos pesquisadores um dos participantes. Outras pessoas desse grupo afirmaram notar que ficaram mais confortáveis com a própria imagem, e que seus sorrisos ficaram mais naturais nas fotos ao longo do tempo.
Fotografar objetos ou situações felizes também ajudam, indica o trabalho. Os jovens que tiraram fotos de elementos do seu cotidiano para se sentir mais felizes disseram ter se tornado mais conscientes do efeito do ambiente sobre o humor. Além disso, os que compartilharam suas fotos com pessoas próximas notaram uma redução no estresse e maior conexão com membros da família e do círculo de amizades. “Não falo muito com meu pai, mas ele ficou feliz quando enviei as imagens para ele. Foi um tipo de comunicação”, descreveu um dos estudantes.
Alívio Jovens estão sujeitos a diversos fatores que podem causar estresse, como pressão acadêmica, entrada no mercado de trabalho e problemas financeiros, o que os torna um grupo de risco para doenças mentais. “A boa notícia é que, apesar de mais suscetíveis à tensão, a maioria dos estudantes universitários carregam consigo um celular, que pode ser utilizado para aliviar o estresse”, acredita Yu Chen, a líder do grupo de pesquisadores.
Aliviar o estresse é fundamental para a saúde, pois, a longo prazo, ele pode elevar a pressão arterial, aumentar o risco de ataques cardíacos e derrames e até acelerar o processo de envelhecimento. Por causa disso, psicólogos estão sempre em busca de métodos simples para melhorar o humor e diminuir a tensão. “A ideia principal do estudo era implementar exercícios que fariam as pessoas mais felizes, como sorrir, refletir e compartilhar. O papel da tecnologia no bem-estar depende de como as pessoas a usam”, diz ao Estado de Minas Yu Chen.
Cuidados Mesmo sem um uso sistemático das selfies, como o dos participantes da pesquisa, alguns jovens sentem melhoras no humor quando as tiram. Estudante de psicologia da Universidade de Brasília (UnB), Matheus Niemeyer, de 21 anos, usa a câmera do celular principalmente para selfies. “Tiro outros tipos de fotos também, mas com bem menos frequência, e as compartilho se forem de lugares bonitos ou momentos representativos.” O jovem diz ainda que busca sempre parecer alegre nas fotos. “Acredito que queremos transparecer felicidade, por mais que o dia não esteja muito bom. Mesmo que por poucos segundos, um sorriso melhora o humor.”
Apesar dos possíveis benefícios apontados no estudo, é preciso tomar cuidado com as fotos, principalmente as selfies. “Alguns participantes disseram que tirar fotos com sorrisos forçados causou mais estresse do que não fazer nada”, ressalva Yu Chen. A estudante de comunicação Deborah Sogayar, de 20, já percebeu efeitos negativos dos autorretratos que tira constantemente. “Quando eu não consigo me achar bonita em uma foto, mesmo depois de várias tentativas, eu me sinto decepcionada.” A designer Daniela Santos, de 23, descreve uma sensação parecida. “Quando a foto fica boa, eu acabo feliz, mas se a foto sai ruim sinto uma frustração, um desânimo.”
De acordo com outro estudo, realizado pela Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, homens que postam mais fotos de si mesmos do que de outras pessoas nas redes sociais alcançaram pontuações mais altas em testes que medem comportamentos antissociais, como o narcisismo, crença de ser mais bonito, mais inteligente ou melhor do que outras pessoas. Já um levantamento realizado por dois alunos da Universidade da Flórida apontou que a divulgação exagerada de selfies pode ser causa de conflito com os parceiros.
Origem
O primeiro uso da palavra selfie foi registrado em 2002, em um fórum australiano na internet, mas a popularização do termo ocorreu uma década depois, entre 2012 e 2013. Nesse período, o uso da palavra cresceu 14.000%, segundo o Dicionário Oxford, maior repositório de informações sobre a língua inglesa. A publicação declarou selfie a palavra do ano em 2013 por conta desse aumento. Nesse mesmo ano, o Instagram, espécie de templo das selfies, foi comprado pelo Facebook e lançou seu aplicativo para celulares Android, o que elevou o número de usuários de 40 milhões para 150 milhões em alguns meses.
Depressão
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a segunda maior causa de morte de pessoas entre 15 e 29 anos no mundo, ocupando 7,3% das fatalidades nesse grupo etário. Dados divulgados em 2014 pelo 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad) mostram que mais de 21% dos jovens brasileiros apresentam indicadores de depressão.
Comentários com Facebook